Crítica | Outras metragens

Meu Pai e a Praia

Caminho a acompanhar

(Meu Pai e a Praia , BRA, 2025)
Nota  
  • Gênero: Ficção científica, Drama
  • Direção: Marcos Alexandre
  • Roteiro: Marcos Alexandre
  • Elenco: Kaio Ribeiro, Heraldo de Deus, Aline Nepumoceno
  • Duração: 15 minutos

Existe capricho no que é feito por Marcos Alexandre em Meu Pai e a Praia, uma ficção científica baiana em curta-metragem – essa descrição acima já o coloca em destaque, porque quantas ficções científicas baianas em curtas estão sendo feitas? Por incrível que pareça, Alexandre não é o único representante dessa seara – a Olho de Vidro Produção realiza alguns há alguns anos, e é bom saber que especificamente Calebe Lopes, o cineasta por trás de obras incríveis como Modo NoturnoCláudio Ataques Psicotrônicos não está sozinho. Mas a julgar por esse filme, Alexandre suscita um comentário particular acerca do que está demarcando em cena, e de futuros caminhos que podem ser bem-vindos. 

Como um bom contador de histórias, o diretor compreende que a ficção científica é um gênero que permite aproximar-se dos temas que o interessam, e aqui ele está se colocando em comunicação com o distanciamento que nasce entre pai e filho após uma separação. O roteiro desenha essa relação de maneira bastante didática, para que possamos comprar a natureza dessa melancolia que está nas imagens. O que não consegue ser arranhado por Meu Pai e a Praia é a busca pela proximidade que o filme imagina alcançar com o espectador, porque não existe qualquer sutileza para contar o que vemos. Ainda que acesse um público de maneira eficaz, isso não acontece de maneira orgânica, e sim através de uma construção excessivamente demarcada. 

Se o desenho de produção de Alice Braz é envolvente, principalmente quando se volta para os arranjos externos de caráter macro (e o material de comunicação que o filho utiliza para falar com o pai não é exatamente original, mas tem um cuidado precioso nos detalhes), Meu Pai e a Praia poderia ir além dos valores de produção. Na verdade, o filme tem certeza a respeito de suas qualidades, de realização principalmente, mas os campos exibidos pela direção de Alexandre são limitados, e demonstram que seu cineasta ainda não alcançou seu potencial completo. Apesar disso, é visível seu empenho em estabelecer comunicação de uma maneira tão pouco acessada; é bom saber que a Bahia não contará apenas com ele no futuro.

Ainda que trate de um universo distópico e de uma classe social que não é onde se encontram grande parte da população preta, Meu Pai e a Praia não deixa de olhar para o hoje, para as relações humanas que estão enraizadas na realidade. São tais intenções que acabam por nos fazer criar empatia pelo que está sendo contado, em recorte emocionante. Quando um plano especificamente revela uma surpresa a respeito de um dos personagens, no entanto, uma desconexão natural surge para afastar nossa ligação com o que vemos. Como a direção de atores comprometida por essa decisão, o filme abre um clarão de comunicação com o afeto pretendido, mantendo nosso interesse estético mas afastando o emocional que se imaginava. 

O esforço de Alexandre em detalhes, sua vontade de criar proximidade em um olhar ainda pouco explorado dentro da nossa cinematografia, o coloca com um bônus de intenção, da parte da análise. Meu Pai e a Praia é uma produção que ambiciona mais do que entrega, mas esse é um daqueles casos onde a intenção já é uma qualidade rara. E o futuro de seu autor é verdadeiramente promissor, de uma cena onde ele tem companhia suficiente para inspirar uns aos outros, e também mostrar sua versatilidade muito rapidamente. Esse é um daqueles diretores que vale a pena apostar, porque as sementes plantadas são perceptíveis. O amanhã do diretor é um caso que será delicioso acompanhar. 

Um grande momento
A nave sobrevoa o entorno da cidade 

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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