- Gênero: Comédia, Drama
- Direção: Ketche
- Roteiro: Hakan Bonomo
- Elenco: Kaan Urgancioglu, Mert Ege Ak, Melisa Pamuk, Ezgi Senler, Asaf Baydar, Milane Eren, Çagdas Onur Öztürk, Altay Hacioglu
- Duração: 96 minutos
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Há dois anos e meio atrás, a Netflix estreava mais um filme turco que foi um grande sucesso, mas como quase todo sucesso, esse não fazia parte do grupo de qualidade elevada das estreias do país. Meu Porto Seguro era um filme quase simplório em suas intenções, em sua realização, quase entregando um material pobre para o espectador. Muito manipulativo, com pouca engenharia dramática, absolutamente descartável, um daqueles produtos que vemos e esquecemos no mês seguinte. E aí a dona Netflix surpreende com uma continuação da produção, Meu Porto Seguro 2, e o medo de reencontrar um produto tão aquém dos padrões vai se esvaindo ao longo da duração por aqui.
Minha impressão pessoal é a de que Meu Porto Seguro 2 tem como inspiração o hoje esquecido A História de Oliver, continuação desnecessária de Love Story, sucesso retumbante de 1970, sobre um casal separado pela ameaça de uma doença fatal. Sua continuação foi lançada 8 anos depois, e mostrava o protagonista tentando sobreviver ao luto que a perda de um grande amor causa. Aqui, o caso é bem parecido, sendo que temos o acréscimo de uma criança órfã pelo caminho. Do original, restou a irresponsabilidade do protagonista e a personalidade negativamente marcante da criança, que continua difícil de aturar aqui também. Todo o resto parece promover uma revolução dentro do que tínhamos visto anteriormente.
Agora, um propósito real parece ter sido adquirido pelo título, chegando a parecer que todo o capítulo anterior não se tratava de preparação para esse. Se no original, o deslocamento que o espectador tinha com a obra esbarrava em sua irrelevância absoluta, em Meu Porto Seguro 2 os temas parecem ter se transformado, e adquirido uma importância temática que não se imaginava acontecer. Agora, estamos diante de um filme sobre um lar partido e os desafios do macho em constituir uma família solo, do qual o personagem (como o homem que é) não há qualquer referência direta para copiar. O filme não promove uma catarse no tema como aconteceu em Kramer vs Kramer, mas o que vemos aqui vai além do que era apresentado há dois anos.
Ketche continua na direção, mas Meu Porto Seguro 2 agora conseguiu um verniz narrativo que acaba movendo a própria estética do filme para um lugar menos estéril. Existe uma tentativa de nos envolver com o que estamos vendo, cuja urgência agora é sentida. Independente de Firat ter agora uma nova chance de ser feliz, é a relação dele com esse filho que ele descobriu quase por acidente que domina o campo das ideias. O ator Kaan Urgancioglu também evoluiu na construção de seu personagem, e aqui apresenta um trabalho envolvente de um homem quebrado em muitas partes. É ele quem vai mover a história de aproximação desse homem com um filho que simplesmente caiu em seu colo, e precisa que torçamos para que essa movimentação soe genuína.
Se existe um problema que volta a assombrar essa nova aproximação dessa família disfuncional é a necessidade de mais uma vez promover um plot twist no final, sendo que aqui todos os caminhos já tinham sido apresentados anteriormente. O resultado é uma sequência dispensável e bastante ingênua, que une os destinos de seus protagonistas desde antes do que vemos, mas cuja credibilidade é impossível de ser conseguida. De resto, mesmo o casal de protagonistas da vez funciona muito, e tem a nossa torcida de cara. É tudo construído com o charme que faltou no título anterior, mas que não promove o filme a um acontecimento fora do comum. Apenas dessa vez estamos diante de um produto digno que pode ser assistido sem medo, e com alguma admiração aqui e ali.
O filme promove esse quadro de aproximação entre um homem que não consegue perceber as responsabilidades que nasceram há um ano, e uma criança que precisa abdicar da magia que é seu refúgio. Ainda que a evolução tenha sido modesta, só por tais paralelos promovidos, Meu Porto Seguro 2 já mostra a evolução entre os produtos, e a prova de que mesmo de onde não esperamos nada, ainda podemos encontrar um bom passatempo.
Um grande momento
Pai e filho, e uma parede entre eles