Entre os próximos dias 24 de janeiro e 1o. de fevereiro, o tradicional calendário de festivais brasileiro se abre com o evento que já é um marco para a nossa maratona cinematográfica de 2025 – a Mostra Tiradentes chega a 28a. edição mais uma vez homenageando uma estrela que se prova tão ascendente quanto estabelecida em nosso circuito mais alternativo, e propondo uma reflexão. O nome da vez é o de Bruna Linzmeyer, cuja carreira audiovisual completa 15 anos e se mantém cada vez mais transgressora, como são as características contestadoras do evento.
Por sua vez, a mostra banca uma questão que é igualmente representativa ao cinema que os eventos da Universo Produção buscam conversar: ‘Que Cinema é Esse?’. O coordenador curatorial Francis Vogner dos Reis fala sobre a produção numerosa e complexa que o nosso cinema vem apresentando, e como é preciso olhar para esse exercício de contemplação da beleza e de sua singularidade num esforço de discuti-lo, contraindo responsabilidade sobre o que se vê. “Não é possível construir um novo audiovisual brasileiro ignorando as experiências já existentes, muitas vezes às margens das políticas públicas, apartadas de uma possível distribuição no mercado”, afirma Reis.
Nesse sentido, o papel que Lizmeyer apresenta enquanto discussão sobre esse novo sujeito é fundamental para a complementação desse discurso, pois se trata de um corpo que busca novas comunicações e leituras, tanto nas representações de gênero quanto no lugar de demonstração de suas ações. Como uma jovem atriz já consagrada pela televisão, o lugar onde ela se coloca na cinematografia atual é emancipatório como modelo atual, recusando uma óbvia centralização para se mostrar disposta a experimentações de linguagem e de formato. Como diz Reis, “dona de uma fotogenia rara, um carisma rebelde e um talento mutante, as escolhas de Bruna a tornam assertiva, uma mulher à frente do seu tempo, vinculada às lutas e a criação de uma arte do prazer e da ruptura”.
Esse ano, a Mostra Tiradentes se renova e parte para uma nova configuração. Percebendo que contribuiu imensamente para a estabilização de um cinema de autor, de uma cinematografia que busca o risco e que entende que o Cinema brasileiro retribuiu à sua aposta. A partir de 2025, a seção Aurora passa a abrigar filmes de diretores estreantes em longa metragem, apenas, enquanto a Olhos Livres abrigará os títulos de cineastas já consagrados, mas que ainda escolhem a autoralidade mais radical; elas trocam de lugar em julgamento, com a primeira sendo premiada por jovens da esfera crítica pescados em curso ministrado por Juliano Gomes, enquanto a segunda é outorgada pelo júri oficial.
Na seleção deste ano da renovada Olhos Livres, nomes impressionantes em sua carreira como Letícia Simões (de O Chalé é uma Ilha Batida de Chuva e Vento), Daniel Aragão (de Prometo um Dia Deixar essa Cidade), Rodrigo Aragão (de O Cemitério das Almas Perdidas), Tavinho Teixeira com a continuação de seu Batguano e Pedro Tavares (de Cena do Crime), entre outros.
Os curtas da Mostra Foco seguem o ritmo natural de Tiradentes, onde o lugar da experimentação é perseguido em sua centralidade. “Estamos sempre atentos à emergência de expressões sofisticadas de quem está começando pelo curta metragem, ou de cineastas experientes que continuam explorando o formato como uma forma de experimentar ou mesmo refinar a linguagem”, declara Reis.
A partir do dia 24 de janeiro, o Cenas de Cinema trará todos os textos para vocês, com uma cobertura que também trará novidades em outras plataformas de redes sociais. Abaixo, os selecionados para as principais três competições da Mostra Tiradentes 2025.
OLHOS LIVRES:
“A Primavera” (PE), de Daniel Aragão e Sergio Bivar
“A Vida Secreta de Meus Três Homens” (PE), de Letícia Simões
“As Muitas Mortes de Antônio Parreiras” (RJ/CE), de Lucas Parente
“Batguano Returns: Roben na Estrada” (PB), de Tavinho Teixeira
“Deuses da Peste” (SP/MG), de Gabriela Luíza e Tiago Mata Machado
“O Mundo dos Mortos” (RJ), de Pedro Tavares
“Prédio Vazio” (ES), de Rodrigo Aragão
AURORA:
“Cartografia das Ondas” (RJ), de Heloísa Machado
“Kickflip” (SP), de Lucca Filippin
“Margeado” (ES), de Diego Zon
“Nem Deus é Tão Justo Quanto seus Jeans” (SP), de Sergio Silva
“Resumo da Ópera” (CE), de Honório Félix e Breno de Lacerda
“Um Minuto é uma Eternidade para quem Está Sofrendo” (SE), de Fábio Rogério e Wesley Pereira de Castro
FOCO:
“Entre Corpos” (AL), de Mayra Lucas
“Estrela Brava” (RJ), de Jorge Polo
“HEYARI: Espalhar Fumaça para Fazer Adoecer Colocando Feitiço no Fogo” (SC), de Daniel Velasco Leão
“Jamais Visto” (MG), de Natália Reis
“Marmita” (SP), de Guilherme Peraro
“O Mediador” (BA), de Marcus Curvelo
“Memórias Despejadas (ou A Enchente Levou Tudo, e Encontraram a Luta)” (RS), de Juliana Koetz
“Não me Abandone” (SP), de Gabriel Vieira de Mello
“Osmo” (DF), de Pablo Gonçalo
“Sem Título #9: Nem Todas as Flores da Falta” (SP), de Carlos Adriano
“Tamagotchi_balé” (RJ), de Anna Costa e Silva
“Trabalho de Amor Perdido” (SP), de Vinicius Romero
“Ver Céu no Chão” (CE/RJ), de Isabel Veiga