Crítica | CinemaDestaque

Missão: Impossível – O Acerto Final

Pra dizer adeus

(Mission: Impossible - The Final Reckoning , EUA, 2025)
Nota  
  • Gênero: Aventura
  • Direção: Christopher McQuarrie
  • Roteiro: Bruce Geller, Erik Jendresen, Christopher McQuarrie
  • Elenco: Tom Cruise, Hayley Atwell, Ving Rhames, Simon Pegg, Esai Morales, Pom Klementieff, Angela Bassett, Henry Czerny, Holt McCallany, Janet McTeer, Shea Whigham, Nick Offerman, Hannah Waddingham, Tramell Tillman
  • Duração: 165 minutos

Estamos juntos a Ethan Hunt há 30 anos, e parece que o tempo passou rápido demais. Quando lembramos que esse Missão: Impossível – O Acerto Final é o nosso oitavo (e último, aparentemente) encontro com ele, a regularidade parece mais fácil. Mas a verdade é que a maior parte dessa franquia aconteceu nos últimos 15 anos, quando seu astro Tom Cruise se apropriou de vez dessa persona radical, e pareceu apostar exclusivamente em Ethan como zona de conforto. Se para ele, a entrega não significou grande aumento de ambição, seu time atrás das câmeras fez valer as expectativas que uma legião de fãs criou pelo projeto. A partir de um certo momento, tanto o prazer em assistir a série foi contemplado, quanto a constante sensação de que estamos diante de um time vencedor – aquele que não se mexe quando ganha. 

O diretor Christopher McQuarrie é parceiro constante de Cruise desde Jack Reacher, e já pilotou algumas encarnações de Missão Impossível; desde então, esteve envolvido em quase todos os filmes estrelados por ele. Ou seja, o trem está nos trilhos há alguns anos e só precisa que a lenha seja acrescida para que a fornalha continue dando velocidade à locomotiva. Mas quando tudo parece já ter sido tentado, o que ainda há para ser visto? Aumentar a escala não é uma opção mais, ou é, efetivamente; tal qual Velozes e Furiosos, no entanto, só ficou faltando ao agente secreto sair da órbita terrestre. Só que o episódio anterior (e primeira parte desse capítulo de encerramento), Missão Impossível: Acerto de Contas, apresenta à série um inimigo definitivo – a inteligência artificial. Definida como vilã número 1 do mundo moderno, ela se encaixa à perfeição ao contexto da série, e se apresenta como principal novidade dessa despedida em duas partes. 

O que McQuarrie vem construindo, com ou sem Cruise, é um modus operandi de linguagem que busca solucionar no plano o alcance da tensão e da ação. Existe não apenas a corporalidade que vemos em franquias recentes como as inserções do 007 de Daniel Craig, ou o Jason Bourne de Matt Damon. O que também interessa o diretor em todos os quatro capítulos que capitaneou é o espaço cênico, a criação de uma espiral de eventos que a imagem comporte, e a incorporação desses elementos a uma humanidade que vem sendo desenvolvida para super agentes do cinema. Se isso começou antes de sua entrada, quando JJ Abrams promoveu uma história de amor na terceira parte, tais apontamentos são refinados a partir de Missão Impossível: Nação Secreta, e desenvolvem o personagem que flerta com a tragédia de hoje. 

Nesse que é o título de maior duração da série – são quase 3 horas! – a pergunta que fica no ar diz respeito a esse formato duplo, para desenvolver uma narrativa que é, basicamente, a mesma; afinal, trata-se de uma segunda parte. Missão: Impossível – O Acerto Final não se alonga, e seu dinamismo está presente mesmo dentro de sequências muito longas, como a da chegada ao submarino. O pecado maior talvez tenha sido esticar esse campo de análise para mais de um título, o que demonstra uma dificuldade de desprender-se da fórmula do sucesso. Quando o filme anterior se mostrou fracassado que caiu por terra nas vésperas do fenômeno ‘Barbenheimer‘, ficou claro que o público estava mais preparado para despedir-se de Ethan Hunt que seu desenvolvedor. 

Quanto ao que é tradicional da série, ou ao menos o que mostrou-se como marca registrada desde que McQuarrie mostrou sua cara, encontra-se aqui com o mesmo vigor. A já citada cena do submarino é seu melhor exemplo, e também uma maneira do filme mostrar que sua intensidade ultrapassava as movimentações ao seu redor. Uma cena de mais de 20 minutos, sem qualquer faixa de diálogo, e um crescendo de terror que se alastra pelos minutos, talvez esteja entre as mais bem sucedidas da temporada, pela complexidade de cada tomada. Tudo o que fez da série um espaço de discussão de códigos de gênero, e o trabalho de decupagem em meio ao espaço da ação, estão nessa que é uma das melhores cenas, e que exibe os predicados de McQuarrie como poucos filmes antes. 

Não há a melancolia de um desfecho, nem um excesso de rememoração, bem diferente do que se avizinha na abertura. Quase o contrário disso até, temos um filme que não faz muita questão de mostrar frágil; Ethan Hunt, apesar de mostrar sua humanidade, está em cena para realizar o de sempre. Correndo contra o tempo e se envolvendo em eventos inimagináveis, o homem cujo texto do filme quase considera invencível, como Toretto e sua família, também formou uma. E a cena final de Missão: Impossível – O Acerto Final é uma forma de demonstrar gratidão nã apenas ao que Cruise viveu nas últimas três décadas, mas também a quem esteve ao seu lado nessa jornada intensa. Valeu a pena, mas é mesmo o tempo de parar.

Um grande momento

Ethan submerge 

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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