- Gênero: Terror, Policial
- Direção: Kim Tae-joon
- Roteiro: Kim Tae-joon
- Elenco: Chun Woo-hee, Yim Si-wan, Kim Hee-won, Park Ho-san, Kim Ye-won
- Duração: 115 minutos
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Os primeiros cinco minutos de Na Palma da Mão entregam para onde as atenções da narrativa estão indo, ao menos metaforicamente. A vida, veloz e furiosa, nos faz cada vez mais dependentes da tecnologia, mais especificamente dos aparelhos de celular multi-tudo. Essa abertura é, já ela e sozinha, como um pesadelo se você observar com atenção: sem aúdio, a ação ininterrupta e frenética nos coloca a par da voracidade do hoje. Todos nós estamos cada vez mais reféns de uma inteligência artificial portátil, pronta para nos facilitar a vida ou nos jogar no inferno. O que acontece a partir daí é quase uma descrição ficcional do que essa abertura já enfatiza, e não necessariamente livre de didatismo, o filme se tornou um sucesso na Netflix.
O Dilema da Rede já exemplificou com ar professoral os malefícios de se colocar tão a disposição dessa mecânica social quase obrigatória que os ‘smart phones’ nos faz, diariamente, vítimas e algozes. Aqui, essa produção sul-coreana baseada no romance de Akira Teshigawara segue duas narrativas paralelas que irão se unir para contar o quadro inteiro de uma situação envolvendo vandalismo virtual, roubo de dados e depredamento social para chegar em um desdobramento presencial. A construção da narrativa é mais feliz quanto mais afastada das situações virtuais, o que não faz muito sentido, já que esse é o plot da produção; entende-se que faltou uma maneira menos chapada para criar os entrechos que não nos jogasse no maniqueísmo.
O filme lida de maneira aterradora com o seu tema, e isso é por si só já um acerto, tendo em vista que era essa a intenção mesmo. A ideia de transformar nossa relação com a tecnologia em algo tóxico e viciante, que pode se transformar em um perigo ainda maior caso entre em contato com a psicopatia, se desenvolve muito bem e consegue assustar os mais impressionáveis. Na Palma da Mão não pretende ser uma analogia sofisticada sobre o nosso tempo, e sim alertar para os males do mundo cada vez mais globalizado, e amplificar a discussão a respeito dos roubos de dados a que estamos suscetíveis diariamente, entre civis ou mais especificamente por empresas conscientes do que estão fazendo.
Cinematograficamente, Na Palma da Mão não se sustenta, porque suas principais motivações não tem interesse de investigar o cinema propriamente dito, mas o choque do (nada) admirável mundo novo. Se o que é feito consegue mexer com a tensão do espectador, é porque tematicamente aquela estrutura foi criada pelo externo, e não por Kim Tae-joon, estreante na direção e roteiro. No que consiste o trabalho de direção, a ideia é trabalhada com alguma eficiência, nossa impressão é a de um recorte de gênero com alguma lapidação. Já o roteiro, que tenta escapar de uma predileção por um jogo confuso o tempo todo, fica a dever porque escolhe as maneiras mais histéricas de lidar com seu material, sem curva dramática; é o famoso choque pelo choque.
Quando todas as pontas vão se juntando para formar um único material, e o thriller passa a predominar, finalmente Na Palma da Mão consegue alcançar um lugar meritório, mas a sombra do discurso é forte. Se essa for a porta de entrada para alcançar o lugar pretendido no cinema, aí a função do mesmo começa a se perder, e estamos cada vez mais atrelando a importância do discurso ao resultado final de uma obra. Do hibridismo entre ser uma coisa e também ser a outra, a Netflix tem um produto eficiente, demasiadamente longo, mas que esbarra nessa necessidade que outros produtos nascidos no streamings tem mostrado para sua tese contra os malefícios da modernidade. Quando essas produções começarem a preocupar-se mais com a imagem e menos com a intenção da mensagem, o caminho estará mais perto da adequação.
Um grande momento
A abertura frenética