- Gênero: Comédia Romântica
- Direção: Aline Brosh McKenna
- Roteiro: Aline Brosh McKenna
- Elenco: Reese Witherspoon, Ashton Kutcher, Wesley Kimmel, Zoe Chao, Tig Notaro, Steve Zahn, Jesse Williams, Griffin Matthews
- Duração: 105 minutos
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Durante um bom tempo de Na Sua Casa ou Na Minha?, temos certeza que estamos diante de um túnel do tempo, positivamente falando. Comédias românticas protagonizadas por estrelas de Hollywood não são mais feitas com a frequência do passado; isso justifica o sucesso de Ingresso para o Paraíso, por exemplo. A própria Netflix, streaming onde tal filme está estreando, tem investido mensalmente no gênero, mas protagonizados por pessoas muito jovens, entendemos o direcionamento das produções. Adentrar uma produção onde podemos torcer por Reese Witherspoon e Ashton Kutcher é algo que não vemos mais, e durante um bom tempo isso nos embala no filme e justifica todas as suas questões.
Mas é a própria existência do filme com Julia Roberts e George Clooney que realça os problemas aqui. Ao contrário do que muitos levantaram, Ingresso para o Paraíso é sim acima da média, e aqui percebemos o que é abaixo. Sobram motivos para lamentar aqui em Na Sua Casa ou Na Minha?, um filme cujo ponto de partida é tão insólito quanto confortável; tem muito ali já pincelado em outros filmes antes, cuja mistura nem se mostra estragada tão rápido. Se as coisas não azedam por completo, a culpa é desse saudosismo dessa situação específica envolvendo comédias românticas, e a estrutura do filme que nos joga diretamente para o auge do gênero, que sempre produziu filmes bons e ruins, como qualquer outro.
A trama é tão besta que funciona: um casal de amigos que mora em lugares diferentes (ele em NY, ela em LA) precisa trocar de casa por uma semana, por conta de um curso que ela deseja fazer; como tem um filho, ele se dispõe a cuidar da criança enquanto ela está fora. Esse mesmo roteiro, que funciona no viés macro, acaba se mostrando muito inconsistente a cada nova cena. Porque não é apenas uma liberdade poética que precisamos tomar da produção para comprar sua ideia, mas praticamente uma a cada cinco minutos. E aí não tem suspensão da descrença que aguente, quando um roteiro pede a todo momento que você finja não ter notado facilitações e esquecimentos que o filme tenta nos fazer engolir; depois da décima colherada cheia, não há estômago que aguente.
Essa é a estreia na direção de longas de Aline Brosh McKenna, a responsável pelo roteiro de delícias como O Diabo Veste Prada e Uma Manhã Gloriosa. O que impressiona aqui é como uma roteirista mais do que consagrada tenha escrito um produto, e logo para sua estreia como diretora, tão aquém do que fazia para os outros. A ideia básica até se sustenta dentro do universo que uma comédia romântica consegue abarcar, com algum charme. É um filme onde os protagonistas só estão juntos em cena nos últimos cinco minutos (e em um flashback da primeira cena), e ainda assim compreendemos o tanto de química e carisma que exalam. Mas as situações são enfraquecidas demais, como o esdrúxulo motivo pelo qual a personagem de Witherspoon vai à NY, tão ralo que todo ele é esquecido.
Nenhuma culpa em Na Sua Casa ou Na Minha? pode recair sobre Reese Witherspoon ou Ashton Kutcher. Ela já não tem mais nada a provar desde que ganhou um merecido Oscar por Johnny & June, começando a produzir coisas do nível de Big Little Lies e mostrando lados de seu talento cada vez mais maduros. Ele foi perseguido na juventude por uma possível canastrice e por tentar ser sério em Jobs, mas na verdade nunca lhe faltou talento, só foi pouco explorado. O encontro deles não os coloca em posição de destaque como atores, mas os faz entregar o que podem em material tão modesto. O resultado, da parte deles, é uma chuva sem fim de carisma e um dom natural para tornar cada momento em algo íntimo e naturalizado, mesmo quando estão proferindo coisas surreais.
Não dá pra negar que o potencial para ser muito superior de Na Sua Casa ou Na Minha? era óbvio, e o filme flerta com muitas qualidades o tempo todo. A amizade de Debbie com Minka, por exemplo, é toda construída no limite do absurdo, mas nunca falta criatividade a essa relação. A presença de Tig Notaro, ainda que sucateada, é de frescor sem igual à narrativa, assim como o fato de que esses dois adultos protagonistas têm vidas de verdade, cheia de questões do presente e do passado para se preocupar. Infelizmente o roteiro de McKenna, dessa vez, não apresenta o mínimo qualitativo, e o filme acabe precisando contar com a ajuda do saudosismo para ficar em lugar aceitável para o público.
Um grande momento
Peter assumindo tudo o que fez, na metade