Crítica | Outras metragens

Joãosinho da Goméa – O Rei do Candomblé

(Joãosinho da Gomeia - O Rei do Candomblé, BRA, 2019)
Nota  
  • Gênero: Documentário
  • Direção: Janaina Oliveira ReFem, Rodrigo Dutra
  • Roteiro: Janaina Oliveira ReFem, Rodrigo Dutra
  • Elenco: Átila Bezerra
  • Duração: 14 minutos

Enfeitado, aparecido, popular, público. Joãosinho da Goméa contrariou boa parte das Iyalorixás tradicionais da Bahia com sua decoração e suas indumentárias, seu comportamento e até mesmo seu Pedra Preta. Ele não estava nem aí, nunca ligou para o que achavam ou deixavam de achar dele. Tinha o seu projeto de ser conhecido, de fazer sua roça famosa e seguiu com ele.

Em Joãosinho da Goméa – O Rei do Candomblé, é o próprio líder religioso quem conta a sua história, num resgate de arquivo interessante. As palavras em off são ilustradas com antigas fotografias, algumas colorizadas, com um granulado que destaca o tempo. Acompanhamos a jornada desde seu nascimento até sua chegada a Duque de Caxias, no Rio de Janeiro. As fotografias cedem espaço a imagens de notícias e propagandas de jornais e revistas.

Os diretores Janaina Oliveira ReFem e Rodrigo Dutra não ficam apenas em arquivos e pontuam passagens com performances do ator Átila Bezerra. Se nos primeiros momentos mimetizam seu corpo como se de Joãosinho fosse, nas tomadas seguintes rememoram outras abordagens, quando o movimento se torna primordial. Lá estão o Pedra Preta, suas indumentárias glamourosas de Oxóssi e Yansã, sua dança e sua presença.

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A mistura de elementos é coerente com a figura documentada, sem dúvida, mas a profusão abordagens nem sempre funciona bem. Há passagens confusas e outras repetitivas, como a apresentação da indumentária de Yansã, em movimentos previsíveis após a primeira presença. Porém, o respeito e o carinho pelo rei do Candomblé, título dado a Joãosinho pela rainha Elizabeth, estão muito claros em tela.

E nunca é demais lembrar sua história, importante para a popularização das religiões de matriz africana no Brasil. Ainda que controverso e, de certo modo, petulante, Joãosinho da Goméa tem um papel histórico que ninguém vai apagar. “Se cheguei até aqui, foi graças à minha personalidade e autenticidade, mas tive uma recompensa no meio de todo esse bafafá: ocupei o meu lugar no mundo! Quem estiver incomodado que venha falar comigo”.

Um grande momento
“Expressão máxima do fetichismo”

[48º Festival de Gramado]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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