Crítica | Festival

No Caminho Encontrei o Vento

Como o vento

(No Caminho Encontrei o Vento , BRA, 2024)
Nota  
  • Gênero: Drama
  • Direção: Antônio Fargoni
  • Roteiro: Antônio Fargoni
  • Elenco: Alexandre Guimarães
  • Duração: 70 minutos

Último filme da competição do Cine PE 2024 a ser exibido, No Caminho Encontrei o Vento parte da subjetividade de encontrar no fim de uma jornada cansativa de qualquer festival uma resposta para os anseios que foram demarcados. Uma narrativa absolutamente concisa é urdida por Antônio Fargoni, que concentra suas fichas mais raras na reprodução de movimentos de ‘slow cinema’, com resultados desconcertantes. Particularmente, tenho a impressão de que poderíamos ter tido mais novos tratamentos de roteiro aqui, até para que suas bizarrices fossem encaradas menos como tal. O que eu me atrevo a apontar aqui é o ponto de partida onde saímos enquanto análise cinematográfica a respeito de um filme que não realiza sequer o mais básico a contento. 

O que seria então esse mais básico? A concretização de suas intenções. Quando seu protagonista chega a uma casa perdida no meio de um parque eólico, sem qualquer sinal de vida próxima, e decide lá permanecer enquanto a venda da mesma não for finalizada, o filme demonstra muito rapidamente que procura uma certa manipulação dos sentidos. É esperado encontrar em um festival de cinema brasileiro competitivo algum exemplar de ‘slow cinema’, uma certa busca por estar nesse lugar que é esperado de ambas as partes – do espectador e do exibidor. No Caminho Encontrei o Vento anseia por esse lugar de certa nobreza, mas os fins acabam não justificando os meios, e a narrativa que acompanhamos parece não chegar a um lugar definido. 

Fargoni é um dos integrantes do Cinema Instantâneo, um coletivo que preconiza realizar projetos fora do que habituamos ver, geograficamente e esteticamente. Eles querem descentralizar os hábitos do que chega até o espectador, e não podemos negar que ao estar de frente a No Caminho Encontrei o Vento, tais diretrizes vêm à memória. Mas é pouco para compreender a intenção pura e simples como acerto, e esse é mais um título que sai do Cine PE com a nítida impressão de que, enquanto curta-metragem, o resultado talvez fosse outro. Quando o escopo da produção se abre para que possamos assistir a algo mais complexo, com tintas mais amplas, não é devolvido ao espectador algo que valesse tais esforços de concentração. 

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Na ânsia de compreender sua própria profundidade, No Caminho Encontrei o Vento soa como um produto vazio de proposta e alcance. Tentamos acompanhar a exposição de seu protagonista como algo fora do comum estivesse acontecendo, mas é simplesmente um caso de reflexo do passado no presente, com uma embalagem que tenta fazê-lo mais importante do que realmente é. Falta percepção de sua amplitude, e de compreender o quão potente poderia ter sido essa proposta caso fosse ainda mais misterioso, mais sucinto. Do jeito que está, temos apenas uma produção excessiva onde podemos enxergar os pontos específicos que seriam cruciais para chegar até o ponto que a obra almeja. 

A construção do que é etéreo, que busca com uma porção mais rarefeita, aponta para tantos lados que não consegue convencer, enquanto criação de uma espinha dorsal que o filme possa mostrar. É um cinema que flerta com a produção fantástica, ameaça um toque de religiões de matrizes africanas, tenta se deixar levar por uma possível perda da sanidade e também ambiciona uma espécie de realismo fantástico comum ao que é vendido como sendo parte do interior: nenhum acerto. A postura do ator Alexandre Guimarães é o ponto onde No Caminho Encontrei o Vento consegue exalar mais verdade, mas é pouco para nos convencer acerca do todo, e dos muitos problemas de mise-en-scene que o filme apresenta. Ou seja, não é apenas uma ideia esticada e perdida, como uma que é mal executada. 

Um grande momento

A ligação para a sogra

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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