Crítica | Streaming e VoD

O Abutre

(Nightcrawler, EUA, 2014)

Drama
Direção: Dan Gilroy
Elenco: Jake Gyllenhaal, Bill Paxton, Rene Russo, Riz Ahmed, Kevin Rahm, Kent Shocknek, Pat Harvey, Sharon Tay, Rick Garcia
Roteiro: Dan Gilroy
Duração: 117 min.
Nota: 6 ★★★★★★☆☆☆☆

No meio da noite, a frequência policial anuncia uma ocorrência com vítimas. Antes que os policiais cheguem, cinegrafistas e fotógrafos já estão explorando a cena do crime. Para esses profissionais freelancers, que vendem suas imagens para diversas redes e jornais, quanto mais sangue, melhor; quanto mais desgraça, mais dinheiro. O Abutre, protagonizado e produzido por Jake Gyllenhaal (O Segredo de Brokeback Mountain), retrata este ambiente.

Guardando as liberdades e exageros necessários à ficção, muito do que se vê na tela realmente acontece na vida real, com esses rastreadores da noite – ou abutres em uma tradução eficiente – correndo atrás de sangue para gerar audiência em telejornais que, maquiavelicamente, não se importam muito com aquilo que mostram, desde que isso se converta em mais televisores sintonizados naquela emissora.

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Para viver o protagonista, Jake Gyllenhaal está bastante diferente e se entrega completamente ao personagem. A figura repulsiva de Louis Bloom é mais forte por sua construção no roteiro do que pela atuação em si. Solitário e descontrolado, Bloom consegue ser ao mesmo tempo ingênuo e pernicioso. Um ser vazio, que preencheu sua vida com lições genéricas recebidas em um curso qualquer de gestão e nunca conseguiu desenvolver uma mínima noção social. Repulsivo e digno de pena. Claro que o trabalho de Gyllenhaal é interessante, tanto pela modificação física, quanto por cacoetes muito particulares. Merece destaque, sem dúvida, mas não é nenhuma atuação inédita ou tão surpreendente como têm falado por aí.

Outra atuação que chama a atenção é a de Rene Russo (Máquina Mortífera 3) como a diretora de jornalismo do programa sensacionalista que dá a primeira chance – e muito das seguintes – ao então aspirante a cinegrafista. Com bons momentos, ela impressiona, já que nunca teve muitas chances de demonstrar seu talento antes.

O longa-metragem, estreia na direção do roteirista Dan Gilroy, marido de Rene, tem seus pontos interessantes e consegue muitas vezes causar o suspense e a revolta que gostaria, mas tem sérios problemas com o ritmo. A ação é mal distribuída e o prolongamento de algumas cenas incomoda e tira o espectador da trama. Mas ela é tão magnética, que isso pode ser revertido em alguns momentos.

Além do parentesco entre Rene e Dan, há muito mais família na ficha técnica de O Abutre. O trio de irmãos Tony, Dan e John trabalha bem junto. John e Tony chamaram atenção no passado com o longa-metragem Conduta de Risco. O primeiro assinando a montagem e o segundo, a direção e o roteiro. Em O Abutre, Tony, também conhecido por roteirizar a trilogia Bourne, é produtor, e John desempenha a mesma função de montador que exerceu em longas-metragens como Círculo de Fogo, Guerreiro e Salt, além de dar uma vaguinha no elenco para sua filha Carolyn.

No final das contas, mesmo longe da perfeição, essa produção familiar consegue embrulhar o estômago de quem a assiste. Sabemos que Louis Bloom é um exagero, um excesso, mas sabemos que aquilo que o cerca existe no mundo real e pode chegar dentro da casa de qualquer pessoa todos os dias, a qualquer horário.

Um Grande Momento:
Manipulando a cena.

Links

IMDb [youtube]http://www.youtube.com/watch?v=Wf8-E7S99ag[/youtube]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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