Crítica | CinemaDestaque

Ghostbusters: Apocalipse de Gelo

Quando a família cresce

(Ghostbusters: Frozen Empire, EUA, 2024)
Nota  
  • Gênero: Comédia, Ficção Científica, Terror
  • Direção: Gil Kenan
  • Roteiro: Gil Kenan, Jason Reitman, Ivan Reitman
  • Elenco: Paul Rudd, Carrie Coon, McKenna Grace, Finn Wolfhard, Bill Murray, Dan Aykroyd, Ernie Hudson, Kumail Nanjiani, Emily Alyn Lind, Logan Kim, Celeste O'Connor, Annie Potts, William Atherton
  • Duração: 110 minutos

Quando menos poderíamos imaginar, Ghostbusters virou uma franquia com 5 episódios. Após o sucesso surpreendente do título anterior, Ghostbusters: Mais Além (que enfrentou uma pandemia em 2021 e ainda assim passou dos 200 milhões de dólares mundiais), a revitalização que aconteceu na série se provou eficaz. Estreado há menos de um mês, esse novo Ghostbusters: Apocalipse de Gelo irá pelo mesmo caminho, para mostrar algo que venho trazendo para os textos há algum tempo: o componente nostalgia é a nova (será tão nova mesmo?) poderosa moeda de troca do cinema hollywoodiano. Existe uma demanda ininterrupta pelo passado entre os espectadores, e uma fórmula como a utilizada aqui transborda utilidade para muitas próximas aventuras. 

Atrelado a esse valor que hoje é o principal motivo das pessoas saírem de suas casas rumo às salas de cinema (vide Super Mario Bros., Top Gun: Maverick, Barbie e tantos outros), o elemento nostálgico não está sozinho nessa matemática. Diferente do episódio anterior lançado há três anos, que parecia ter adquirido quase um caráter de faroeste, Ghostbusters: Apocalipse de Gelo volta a olhar para a franquia como um ambiente onde a comédia e o terror têm igual espaço. Ao sair da poeirenta Summerville e rumar de volta para Nova York, a série abandona o ritmo de ‘eterna preparação para algo que nunca empolgava’ do anterior para colocar o elenco no olho do furacão de novo. Além disso, o filme parece buscar nos primórdios dos anos 1980 o gancho funcional para voltar a validar sua construção. 

O elenco adolescente do filme anterior cresceu, e talvez por isso o roteiro e a direção possa aprofundar questões pessoais, assim como apresentar um visual menos harmonioso. Isso será uma questão para várias análises, que podem apontar uma certa profusão de ideias em sua argamassa. Particularmente, acho que essa é a mola que move a série, que lá atrás já era concebida em excessos. Com um elenco pesado de tão grande, não vemos nenhum personagem de maneira avulsa pela produção. Quem parece não ter função narrativa é porque suas inclinações são suficientes para aquilo que entrega, que podem vir ou não a crescer no futuro. Aos poucos, temos um grupo cada vez mais afiado para que a série não perca sua funcionalidade. 

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O roteiro, acima de tudo, trabalha com muito respeito a conexão entre os dois tempos seriados. Tanto o elenco da nova geração tem o espaço de protagonismo que lhes cabe, quanto os veteranos estão muito bem integrados ao grupo. Lógico que alguns dirão que o Bill Murray tem menos espaço que o Dan Aykroyd e o Ernie Hudson, mas estamos carecas de saber que isso deve ser um pedido do próprio Murray, que quer mais é descansar mesmo. Isso posto, Ghostbusters: Apocalipse de Gelo respeita todos em cena, os trata com a mesma deferência e os situa de maneira respeitosa como um todo. Não há pressão do texto, e sim o desenvolvimento natural que mais uma vez identifica Phoebe, a personagem de McKenna Grace (de Maligno), como o centro da narrativa. Como a atriz é excelente, isso não configura como um problema. 

O que mais me chama atenção, com a distância devida ao clima dos filmes iniciais dos anos 80, é a forma como esse título lida com possibilidades mais adultas, e que poderiam afastar o público mais familiar/conservador de uma produção menos infantilizada. Não é somente por tratar o terror como uma possibilidade real e de primeira linha na narrativa, mas como isso é utilizado de maneira verdadeiramente desejada pelo material gráfico. O vilão em questão é uma figura que poderia estar, exatamente com o mesmo visual, em qualquer produção de terror dito ‘sério’ e causaria igual comoção à que existe aqui; é uma imagem forte graficamente, que cumpre o que deveria ser o papel principal da narrativa. O resto dos elementos menos lúdicos, como a discussão sobre o crescimento de Phoebe, e seu claro interesse romântico por outra menina (ou, algo que o valha – sem spoilers), são bem-vindas observações que tiram de Ghostbusters: Apocalipse de Gelo seu caráter exclusivamente ingênuo. Com algum plus de coragem, esse novo filme poderia ter sido mais agudo em muitos gêneros. 

Quando percebemos que nas entrelinhas, inclusive um debate sobre etarismo ameaça ganhar tintas fortes através de Aykroyd e Hudson, aí é que fica mais claro que a “bagunça” de elementos em cena é menos prejudicial. Até porque são excessos que não atrapalham o desenvolvimento de sua harmonia geral. Com alguma boa vontade, essa nova produção pode chegar perto do que realizaram os originais há 40 anos atrás, sem muito esforço. É uma boa forma de entrar em um mundo que tem mais do que a gargalhada para servir, sem dispensá-la. Ah, e é impossível assistir Ghostbusters: Apocalipse de Gelo sem suspirar pelos mini monstros de marshmellow; se saíssem uma coleção popular de seus bonecos, eu teria alguns. São fofos, divertidos, e estranhamente bizarros, tudo ao mesmo tempo. 

Um grande momento

O surgimento enorme do vilão

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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