- Gênero: Drama
- Direção: Leo Bello
- Roteiro: Leo Bello
- Elenco: Gabrielle Lopes, Wellington Abreu, Luciana Domschke, Adriana Lody, Sergio Sartório, Gaivota Naves, Gabriel Sabino, Anna-Maria Hefele
- Duração: 75 minutos
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Assistir O Espaço Infinito também passou por uma reflexão extra-fílmica que, de alguma forma, se comunica em absolutamente com o que estamos vendo. É quase impossível olhar aquelas imagens produzidas e não ter pra si o quão se imaginava, para autor e diretor, e os produtores em geral, que estava sendo produzido algo muito especial. Estamos diante de um grupo de imagens que nos remetem a uma tentativa de análise de seus personagens e do que eles estão a caminho de realizar. São composições de planos cheios de texturas e luzes que remetem a algo muito profundo, de inspiração sensorial, no qual investigamos a relação do humano com a perda gradativa da realidade, e o que é o gatilho para tais provocações.
Leo Bello é o responsável pelo título, e assim como em Depois de Ser Cinza, esse é um filme onde todos os cabeças de área técnica são homens, apesar de ser protagonizado por uma mulher. Porém, aqui não é necessariamente um título sobre o feminino de maneira frontal, ou sobre suas questões com outros homens. As camadas de discussão sobre a saúde mental, e o que efetivamente nos desconecta ao que é nossa predisposição natural estão no debate que O Espaço Infinito organiza para espectador que tentar adentrar suas ideias. O maior problema, talvez, de como tentamos organizar essas imagens diz respeito a uma certa diminuição de sua importância geral, como se fosse tão inexplicável nossa entrada nessa encruzilhada sensorial quanto nossa saída; inexplicável e simples.
Falta algum conteúdo que não seja representado apenas por uma metaforização imagética do que está em pauta no filme. Acessando sempre imagens que não respondem a contento o que sua personagem central está expondo, O Espaço Infinito contempla sua temática com um coletivo de planos que funcionam para o imediato da retina – e só. Nada é fixado na memória, e nem serve de costura para o que está sendo discutido implicitamente por sua protagonista. Ok, Nina se afasta de algum contato com o concreto de maneira gradativa, e as imagens que Bello codifica para sua narrativa não elaboram muito além de uma beleza vazia, que muitas vezes emociona e provoca, mas que não revela nada pelos méritos particulares dessas imagens.
Esse não é um demérito principal, a não ser em como isso se desenrola para o que o filme se defina. O Espaço Infinito, ainda que não consiga desenvolver uma ideia concreta ao longo de sua projeção, também termina por distorcer sua provocação. Colocando na conta de uma ‘constelação familiar’ parte da resolução narrativa, e mais, e pior, justificar o retorno da personagem a algo parecido com a normalidade, o filme trai algo muito pior do que a si, mas seu tema. E não estamos falando de algo banal, mas de saúde mental, tratada como volátil e sem a destinação adequada, e isso sim é o mais grave do projeto. Quando vemos Nina, como em um passe de mágica, recuperar sua centralidade, a impressão de estarmos vendo a um último capítulo de novela, onde os conflitos precisam ser sanados, é inevitável.
O trabalho de Gabrielle Lopes no centro do filme é delicado, tenta dar reverberação ao que aquela mulher tenta tatear, mas roteiro e direção não contribuem para que sua interpretação ande outras casas que não as mais óbvias e gritadas, no sentido do gráfico. Seu corpo e sua caracterização é toda muito marcante, e utilizada pelo filme de maneira muito incisiva, que acaba por soterrar a atriz, e sua composição que vai em detalhamento oposto ao que o autor deseja. Esse é outro elemento que O Espaço Infinito poderia ter se debruçado, e não parece ter outro interesse que não a exploração visual. É como se Bello tivesse uma vocação maior para artista gráfico do que na elaboração audiovisual, que não consegue encontrar um tom que transmita a angústia que o assunto pede e que sua atriz tinha interesse em entregar.
Um grande momento
Nina rouba a estrela do mar
O principal do filme é fazer a gente entrar na experiência da personagem, sentir toda a angústia dela durante o processo e a dor do que é ficar preso num mundo interno completamente desconhecido e marginalizado da sociedade. Sua crítica retrata muito bem como essa sociedade trata os distúrbios mentais, com total falta de empatia e muito julgamento sobre como essas pessoas deveriam viver e se adequar aos padrões do “mundo real”. No final do filme, ela não sai recuperada na normalidade, ela sai da jornada aprendendo a lidar com a condição dela e para isso, esconde os pequenos quadros psicóticos da mãe e do médico para poder viver a vida livre, ser ser dopada e vigiada. O filme traz muita beleza e delicadeza na direção de arte e fotografia para conseguirmos digerir a camada densa, profunda e visceral do transtorno mental, traumas e enredo da personagem. Volta e assiste de novo, sem o olhar crítico, para poder viver a experiência completa.