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O Fantasma da Sicília

(Sicilian Ghost Story, ITA/FRA/CHE, 2017)
Drama
Direção: Fabio Grassadonia, Antonio Piazza
Elenco: Julia Jedlikowska, Gaetano Fernandez, Corinne Musallari, Andrea Falzone, Federico Finocchiaro, Lorenzo Curcio, Vincenzo Amato, Sabine Timoteo, Filippo Luna
Roteiro: Marco Mancassola (conto), Fabio Grassadonia, Antonio Piazza
Duração: 122 min.
Nota: 7 ★★★★★★★☆☆☆

A Itália é um país marcado por seu passado de violência. Nos anos 90, a Cosa Nostra, como é conhecida a máfia local, chegou ao ápice do poder e deixou um rastro de corrupção, violência e mortes e traumatizou todo um país.

Operações fracassadas – como se sabe e tenta-se repetir mundo afora – e a ausência de perspectiva carregam um manto de vergonha e descrédito até os dias de hoje, quando as coisas são menos explícitas, mas não deixaram de existir. O Fantasma da Sicília é mais um dos filmes que tocam nessa ferida, lembrando o assassinato de um adolescente pelas mãos da máfia.

O longa-metragem, dirigido por Fabio Grassadonia e Antonio Piazza (Salvo), transforma o desaparecimento de Giuseppe, um jovem de 13 anos, numa espécie de fábula de terror, onde uma história de amor determina o andamento da ação em suas nuances obsessivas, encantadas e ansiosas. O clima pesado começa a ser construído logo na sequência de abertura, com um interessante jogo de imagens e sons, num arranjo musical diferente, mas hipnotizante.

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O modo como a dupla opta por carregar no sentimento negativo que circunda a história, seja em cores e na falta de luz, ou mesmo na definição dos personagens, funciona, mas incomoda a partir de determinado ponto. O modo exagerado como as duas mães são retratadas, por exemplo, embora funcione como ponto de partida, enfraquece o resultado ao perceber-se que nada existe ali além dessa função na narrativa.

Mas não há como negar toda a habilidade dos dois realizadores na hora de filmar. Movimentos de câmera, enquadramentos inventivos, uma impressionante noção espacial e o saber traduzir sentimentos em imagens e sequências estão marcados em todos os 120 minutos de projeção.

Outra coisa que chama atenção no longa é o fato de que esta segurança de ambos naquilo que está sendo mostrado cria um filme que confia no espectador e não se intimida ao mesclar o real e o fantástico. Mesmo que o etéreo tome conta, há uma ligação muito grande com o sentimento real por trás daquela – e de tantas outras – história.

Porém, apesar de todas as qualidades, quando volta-se para o roteiro há uma tentativa de afirmação incômoda, uma repetição que, apesar de bela, vem para prejudicar o ritmo do filme.

Imperfeito, O Fantasma da Sicília é um filme difícil por sua temática e poético por sua forma. Com beleza ímpar fala de uma ferida que dificilmente cicatrizará e arrebata quem o assiste.

Um Grande Momento:
A sequẽncia inicial.

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Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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