- Gênero: Aventura
- Direção: Thomas Vincent
- Roteiro: Seth Owen
- Elenco: Kaley Cuoco, David Oyelowo, Bill Nighy, Connie Nielsen, Rudi Dharmalingam, Lucia Aliu, Regan Bryan-Gudgeon, Jade-Eleena Dregorius
- Duração: 96 minutos
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Cada vez mais fica claro como existe uma “coincidência” cada vez maior (e dependendo da situação, altamente incômoda) que une os lançamentos comerciais de produções, indo além das lógicas locais. O que justificaria as estreias no mesmo dia que Beekeeper nos cinemas, Lift na Netflix e esse O Jogo do Disfarce na Prime Video, que se comunicam demais? Três filmes de ação com um toque de humor, calcados em lógicas que definiram o gênero há décadas atrás e que não passam de diversões ligeiras com pouco a acrescentar quando o tempo os apagar da nossa memória – o que será logo. São acasos em que eu acredito cada vez menos, e servem para mostrar como cada vez mais somos tratados como ratos de laboratório, sem capacidade de escolha ou discernimento.
O francês Thomas Vincent é o diretor desse produto que, assim como os dois já citados, parece ter nascido para fazer tabela e cumprir o papel de programação banal do streaming. Se o filme protagonizado por Jason Statham é o melhor dessa tríade, esse aqui me parece o mais cansativo e com menos algo a oferecer que não o prato requentado de sempre. O que está em cena já foi visto, não tenta criar qualquer profundidade e suas soluções sempre acabam levando ao próximo clichê empilhado. Há uma economia muito evidente em tudo que é mostrado ou desenvolvido, a ponto de nem uma montagem tosca de um ponto turístico alemão ser feito para situar os personagens em Berlim, acontece. Apenas a informação é dada, e o espectador que acredite que aquelas ruas quaisquer são de uma cidade europeia. Ok.
Independente de serem profissionais qualificados ou não, tanto Vincent quanto o roteirista Seth Owen parecem contratados para servir a um propósito muito direto, que é o de entregar um material para consumo indiscriminado para uma plataforma de streaming. Audiência rápida e viralizada, O Jogo do Disfarce não necessariamente cumpre o papel. Porque tudo é tão automático e sem expressão maior, que o espectador se sente fazendo parte dessa régua de pesquisa, onde apenas precisa avaliar um produto genérico, e até que se prove o contrário, passar para o próximo em seguida. Tudo que é encenado estabelece um padrão de visualização que apenas permite que mais outros exemplares oriundos da mesma ideia nasçam, e morram muito rapidamente.
O casal de protagonistas de O Jogo do Disfarce, se tem mais química que o de Lift, ainda assim não é o suficiente para que se compreenda o tanto de empenho que existe para que não se perca o que se tem. Ao menos, mais uma vez, tratam-se de atores com talento o suficiente para manter nosso interesse vivo. Kaley Cuoco (de Big Bang Theory) e David Oyelowo (de Selma) estão fora da zona de conforto, ela como uma profissional da ação, e ele num raro papel leve, e se o desconforto nos alimenta a continuar assistindo-os, também dá aos atores uma oportunidade de elevar seus domínios. Apesar disso, a cena é literalmente roubada por um ladrão tradicional, Bill Nighy. Recém indicado ao Oscar por Living, Nighy tem uma presença curta com muito mais ambição do que todo o resto do filme. É um grande intérprete que faz toda a diferença.
É graças a Nighy que essa estreia tão morna pode marcar o espectador. A trama sobre o passado de Cuoco é tão desinteressante, e a personagem misteriosa é tão facilmente identificável na primeira cena que aparece, que o filme não sai do lugar mesmo que ande muito. Se tem algo na narrativa de O Jogo do Disfarce com um fiapo de ousadia é o fato de que o filme não tenta disfarçar o que sua protagonista é; com contras e contras (sim, só tem contras), ela é o que é e não há perdão. Ou melhor, há, porque o amor mexe com a minha cabeça e me deixa assim… quando até mesmo em novelas atuais vemos vilões se redimindo através do sofrimento, é fora do comum que a protagonista aqui apenas siga em frente rumo a uma nova vida. Tinha potencial para explorar isso, mas o filme não quer.
Ação burocrática, um plot inicial interessante que não chega a lugar nenhum, e um grupo de atores que tenta fazer o possível para trazer inquietação a um produto com sabor de mofo, O Jogo do Disfarce é mais um filme para o grupo que mostra que o cinema comercial para streaming poderia ter mais Clonaram Tyrone!, mas que preferiu concentrar suas forças em realizar mais e mais Alerta Vermelho.
Um grande momento
Bob