Crítica | CinemaDestaque

O Macaco

Um símio sem limites

(The Monkey, EUA, RUN, CAN, 2025)
Nota  
  • Gênero: Terror
  • Direção: Oz Perkins
  • Roteiro: Oz Perkins
  • Elenco: Theo James, Tatiana Maslany, Christian Convery, Colin O'Brien, Elijah Wood, Sarah Levy, Oz Perkins
  • Duração: 95 minutos

Muitas vezes não estamos preparados para a lona que nos espera quando o soco mais bem dado vem. Independente de admirar o trabalho de Oz Perkins, como realizador, como pensador de imagens cinematográficas, acima de tudo são suas decisões que tornam esse quadro maior, mais desafiador e complexo. Após o sucesso de Longlegs (o maior de sua carreira, até então pouco reconhecido), ele anunciou uma quantidade insana de projetos já prontos em sequência. O primeiro deles acaba de estrear, O Macaco, que o pinta da melhor forma como um cineasta poderia ser avaliado pelo externo – alguém não apenas com gana, mas um artista disposto a ir além da própria voz para encontrar nela mesma novos caminhos. 

Enquanto o filme anterior (e vários de seus longas iniciais, tal como Eu Sou A Bela Criatura que Vive Naquela Casa) investe em uma forma de terror que se adapta a uma tradição gótica opressiva, O Macaco sugere que Perkins permite a abertura para o sarcasmo como ainda não tinha mostrado. Embora Maria e João tivesse alguma conexão com esses dois ambientes de gênero, é exatamente lá que suas tintas medievais se encontram mais alicerçadas na narrativa. Já na abertura cruel de seu novo filme, ambientado em uma loja de penhores, o “mal” não parece ter dono, e acaba por atingir um elemento externo ao foco principal aparente. Esse é o ponto de apoio ao que veremos durante a projeção, uma série de eventos de aparência aleatória, como provar que o horror é a porta de entrada para o gênero desviante e subversivo à lógica, em muitos aspectos. 

Dessa forma, é esperado que o espectador reaja de maneira desconcertante ao que está sendo projetado. O nervosismo que está na base dos elementos empregados em cena não é somente pelo inusitado dos eventos, mas pela forma como eles se elencam na proposta. Algo reducionista pode surgir na comparação da produção com a premissa da série Premonição, mas isso é derivado do acaso com que tais ações são liberadas. Não há necessariamente uma linha lógica que una os eventos e personagens subsequentes mostrados, pelo contrário, é reverberado pelo filme seu tom randômico, que deixa qualquer exposição menos focada. Essa maneira difundida pela narrativa promove o nervosismo de O Macaco ao nosso elo mais imparcial ao desconhecido: o riso. 

Perkins consegue, a partir de determinado momento, nos convencer de que é sim capaz de concatenar violência extrema com um humor desavergonhado que não entendemos muito bem o quão equilibrado é, mas é. Se a aposta do espectador e/ou leitor seria acionar o que Quentin Tarantino já faz há décadas, é bom deixar claro que não estamos diante desse tipo de violência, ou comédia. O Macaco é um filme cuja crueldade de alguns momentos, encontra com uma espécie de ‘cartoon’ em outros, e também esses elementos conseguem conversar com a propriedade desejada. E isso é devidamente acompanhado pela narrativa que é desenvolvida, onde uma dupla de gêmeos órfãos se vê assombrada por essa mistura de caixa de música bizarra com brinquedo do mal durante quase 30 anos. 

O mais lógico a fazer é relaxar quanto às diretrizes que poderiam tornar o filme menos surreal do que ele faz questão de ser, porque seu diretor não tem a intenção de voltar atrás de nada do que está propondo. Pelo contrário, os personagens que habitam O Macaco são igualmente responsáveis por sua assumida porralouquice, e isso é um dos maiores responsáveis pela sagacidade do projeto. Vejam bem, o terror é um gênero que abriga um sem número de produções anualmente, em sua grande maioria requentando fórmulas que, se um dia já foram atraentes, hoje se notabilizaram pelo desinteresse. Não há uma originalidade inerente ao projeto, mas o acúmulo de ideias nos mostra um projeto tão ambicioso quanto ruidoso, que não teme qualquer ferimento à lógica ou ao bom gosto tradicional. 

Como já dito, o erro aqui é esperar algo mais barroco ou sofisticado dessa vez. A ideia de Perkins é desavergonhada e ligeiramente cafona, e esse olhar para um escopo menos quadrado é o que garante a O Macaco sua vitalidade. Por um lado, ainda temos a performance cheia de audácia de Theo James como essa dupla de irmãos pouco convencional, em um registro que casa com o filme e o afasta do lugar de galã que erroneamente tentaram impingir a ele. Tão cafajeste quanto seu próprio filme, James encaixa nesse redemoinho cretino com pitadas de melodrama resvalando em uma jornada pouco aceita pelo público. Não faz mal, essa é a típica produção cuja atemporalidade lhe fará ser descoberta no futuro, mas torçamos para que não demore tanto assim. 

Um grande momento

Os irmãos se encontram

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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