Crítica | Streaming e VoD

Buscando…

(Searching, EUA/RUS, 2018)
Suspense
Direção: Aneesh Chaganty
Elenco: John Cho, Sara Sohn, Michelle La, Joseph Lee, Debra Messing
Roteiro: Aneesh Chaganty, Sev Ohanian
Duração: 102 min.
Nota: 6 ★★★★★★☆☆☆☆

O longa-metragem Buscando…, de Aneesh Chaganty, é um suspense policial como vários outros já assistidos. Uma jovem desaparece e seu pai faz tudo para encontrá-la. O filme acompanha as busca do protagonista por pistas que possam ajudar a polícia, sua tardia percepção dos problemas da filha, suas suspeitas equivocadas e, depois de fracas reviravoltas, chega ao final.

Nada muito diferente do que já existe no que diz respeito ao conteúdo, mas é na forma que Buscando… encontra o seu diferencial, e é um grande diferencial. O longa é montado através de capturas de tela. Para o público, tudo o que é visto está na tela de um computador ou de algum dispositivo móvel.

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Além das captações realmente pensadas e dirigidas por Chaganty (que fez seu último curta todo usando um Google Glass), a história é toda construída através dos aplicativos de computador ou telefone utilizados pelo protagonista, seja na interação entre os personagens ou na definição temporal. Do conhecido papel de parede do Windows às dinâmicas telas dos Macs, passando por vídeos caseiros, lives e descansos de tela, o diretor constrói o “ambiente” em que as ações acontecem.

A aposta por vídeos que não ocupam a tela toda, o transitar entre muitas abas do browser ou as janelas sobrepostas – algo já feito no longa de terror Amizade Desfeita – causam, ao mesmo tempo, estranhamento e familiaridade. É estranho ver uma narrativa ser criada dessa forma, mas, ao mesmo tempo, aquele transitar entre redes sociais, vídeos no YouTube, arquivos e e-mails faz parte do nosso cotidiano.

É justamente nessa percepção do habitual que o diretor encontra espaço para efetivamente criar o suspense. A tensão consegue ser construída com eficiência, com bons momentos de ansiedade real, como as chamadas e mensagens durante a discussão com o irmão. A quebra causada pela transição para os vídeos jornalísticos também consegue se justificar bem e encontra o seu lugar.

Porém, ainda não existe inovação de forma que seja capaz de melhorar um roteiro problemático. O apoiar-se em reviravoltas inesperadas não é algo que costuma funcionar bem, e Buscando… não foge à regra. Ainda que haja algum charme na interrupção do vídeo quando a primeira revelação acontece, o que vem a seguir – em forma e conteúdo – já encontra um certo afastamento. Algo que mais prejudica do que ajuda a reviravolta final.

Outra coisa pouco maquiada pela apresentação do longa é o desequilíbrio entre as atuações. Enquanto John Cho (Star Trek) aparece bem como o pai desesperado, Debra Messing (Muito Bem Acompanhada) entrega uma atuação irregular e pouco conivente. Indo além do núcleo central, o elenco de apoio também não tem muito a acrescentar.

Mesmo que tenha seus problemas, Buscando… consegue alcançar seus objetivos ao falar de um novo universo – onde todos estão imersos – de maneira visual e orgânica, e despertar/manipular sensações com isso. Com uma nova estética, Chaganty inova a linguagem e encontra um novo caminho para um gênero. Coisas que são sempre bem-vindas no cinema, mas um roteiro melhor cairia muito bem.

Um Grande Momento:
As mensagens durante a discussão com o irmão.

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Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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