(Sotto il sole di Riccione, ITA, 2020)
Nos anos 1980, um filme povoou os cinemas e logo ganhou as tardes globais sem ter muita relevância cinematográfica, Surfe no Havaí. Era só um passatempo que misturava aventura, romance e comédia em ambiente praiano, com atores com roupa de banho e o único propósito de entreter. 35 anos depois desse filme inofensivo, e mais de 50 após os sucessos de Elvis Presley que talvez tenham inspirado esses produtos todos, o que algo como O Sol de Riccione representa, de cara, é um desânimo. Sem o charme do rei do rock e sem o frescor do sucesso oitentista, a produção italiana que acaba de estrear na Netflix demora a causar alguma impressão no espectador.
Trabalhando com uma estrutura em mosaico narrativo, com vários personagens na sua maioria adolescentes curtindo amizades e paqueras num verão à beira-mar, nada é pior para esse tipo de roteiro do que apresentar tipos que não geram qualquer simpatia ou torcida ou mínimo charme. Um poço de estereótipos que não chegam a lugar nenhum, do galãzinho cujo sonho era ser popstar (por 5 minutos, e o filme nunca mais toca nesse assunto), o adolescente que quer pegar todas e não consegue nenhuma, o típico doidão da galera, o romântico inveterado que convive com uma paixão não quer nada com ele, a menina que termina e reata o namoro a todo momento… ou seja, a fauna de sempre.
O elenco não tem lá muito carisma, unido a esse grupo de situações cansadas e aborrecidas, acabam por realçar o ambiente ao redor, sem nunca o destacar. Riccione está ali, é o cenário que inclusive faz parte do título do filme, mas não é explorada nem ao menos para tentar angariar beleza natural para o produto final; o filme abusa de planos fechados e parece mais cuidadoso com esse grupo de adolescentes que não promovem nem ao menos humor para a produção, ficando a desfilar suas questões nada interessantes e muitas vezes já abordadas em tudo quanto é passatempo teen. Não podemos, apesar disso, deixar de louvar a ambientação que ao menos tenta transpor frescor ao todo.
O Sol de Riccione é assinado por Younuts! (assim mesmo, com exclamação) que, assim como são o nosso 300ml responsáveis por Soundtrack, são um duo formado por Niccolò Celaia e Antonio Usbergo. Responsável por inúmeros videoclipes de astros pop italianos, eles entregam um filme que em nada poderia sugerir um olhar renovado imageticamente no cinema, principalmente tratando de um produto concebido quase que exclusivamente para o público adolescente. Ao invés disso, encontramos um filme consciente de suas limitações, que parece apenas cumprir tabela para entregar o resultado na duração estipulada sem maiores intempéries ou surpresas positivas.
Em determinado momento uma dupla de mãe e filho chama a atenção em meio ao desinteresse generalizado. Ainda que sua trama conjunta seja para lá de esgarçada (mãe superprotetora abre mão da própria vida para se debruçar no filho), em separado suas trajetórias tentam motivar minimamente o espectador a chegar ao fim com um mínimo de interesse. Ela é uma mulher de meia idade que acaba flertando com um porteiro de boate; ele é um jovem deficiente visual que desconcerta (ainda que na base dos clichês) os elementos a sua volta, e ainda que sua reta final não fique nada a dever a todas as outras em suas preguiçosas soluções, ao menos eles interessam momentaneamente.
É uma prerrogativa do audiovisual hoje causar impacto para se sobressair num ambiente tão competitivo, e onde diariamente são descartadas produções muito mais substanciosas que O Sol de Riccione. Com essa falta de capricho no roteiro burocrático e uma direção que nem tenta ao menos filmar os dois elementos do título a contento, mas se contenta em ser apenas mais um produto atropelado por inúmeros outros em plataformas de streaming; ainda que passe o tempo hoje, amanhã essas férias na praia não passarão de uma ressaca prestes a ser esquecida.
Um grande momento:
Vincenzo e Bea se encontram e a química se faz.