Crítica | Festival

A Integridade de Joseph Chambers

Tentando se provar

(The Integrity of Joseph Chambers, EUA, 2022)
Nota  
  • Gênero: Suspense
  • Direção: Robert Machoian
  • Roteiro: Robert Machoian
  • Elenco: Clayne Crawford, Jordana Brewster, Jeffrey Dean Morgan, Michael Raymond-James
  • Duração: 96 minutos

No nosso mundo patriarcal, uma das consequências da estrutura opressora é a masculinidade tóxica. Os homens também passam grande parte de sua vida tendo que provar a sua macheza, a sua validade e se eles são realmente dignos de pertencer a esse grupo. Nisso se sujeitam a regras ancestrais de ocultação de sentimentos, exaltação de violência, obrigação de prover, condutas machistas e milhares de outras coisas que mais destroem do que acrescentam. E que, a cada dia que passa, ainda bem, fazem menos sentido. O novo filme de Robert Machoian (The Killing of Two Lovers) conta a história de mais um homem que tenta se enquadrar e comprovar suas qualidades de chefe de família, homem e macho alfa.

A Integridade de Joseph Chambers acompanha essa jornada. Joe quer provar sua masculinidade exercendo uma dessas atividades tidas como características do gênero, a caça de cervos. A diferença é que ele não quer esperar uma semana para ir junto com outra pessoa, quer fazer isso sozinho e, assim, demonstrar sua grandeza, mesmo com todos os apelos e alertas daqueles que conhecem ou fazem isso com frequência. A vontade de parecer mais forte está no ato em si, na teimosia e nos detalhes, no bigode, nas pose antes de sair, no discurso.

O filme não esconde, ou melhor seria dizer não engana ninguém, que todas as escolhas do protagonista não têm uma perspectiva positiva. Ainda assim, Machoian faz a tensão ser crescente. Para isso, usa a vastidão da floresta e a solidão do personagem, e não poupa no uso da trilha sonora e musical. A ansiedade vai num crescente até o clímax e a virada do roteiro, quando há algum respiro. Não que depois disso haja algum alívio no drama, ainda que o filme perca um pouco de sua potência, principalmente quando acha que precisa sair do lugar onde realmente estabeleceu o incômodo.

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Enquanto uma obra tão baseada em desenvolvimento de personagem, a entrega do ator é fundamental para o êxito de A Integridade de Joseph Chambers e Clayne Crawford, que esteve com o diretor em seu último longa, cumpre muito bem o seu papel. Do homem que demonstra segurança a princípio e tem essa vontade insana de se provar ao mundo, ele vai ao desespero e à degeneração. O trabalho meticuloso que consegue estabelecer tão bem essa jornada reflete a marca dessa imposição social que faz com que homens tomem caminhos que mais importem aos outros do que a eles mesmos.

Nesta realidade de um mundo preso em uma estrutura patriarcal destruidora, histórias como a de Joseph Chambers talvez não sejam tão literais, mas não são impossíveis de acontecer. Há centenas de homens se atrapalhando em provações cotidianas, alguns sem nem mesmo se dar conta do motivo de seus atos. E o pior é que, mesmo com toda a evolução que obviamente aconteceu, tanto ainda se mantém que não há no horizonte um expectativa de mudança.

Um grande momento
Depois do tiro

[Tribeca Film Festival 2022]

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Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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