Crítica | Cinema

Os Três Mosqueteiros: D’Artagnan

Um por todos, mais uma vez

(Les trois mousquetaires: D'Artagnan, FRA, ESP, BEL, ALE, 2023)
Nota  
  • Gênero: Aventura
  • Direção: Martin Bourboulon
  • Roteiro: Matthieu Delaporte, Alexandre de La Pattelière
  • Elenco: François Civil, Vincent Cassel, Romain Duris, Pio Marmaï, Eva Green, Louis Garrel, Vicky Krieps, Lyna Khoudri, Eric Ruf, Marc Barbé, Patrick Mille, Gabriel Almaer, Jacob Fortune-Lloyd
  • Duração: 120 minutos

Antes de mais nada, é bom informar: Os Três Mosqueteiros: D’Artagnan é a primeira parte de um duo de filmes que se encerra no Natal, com Os Três Mosqueteiros: Milady; portanto, saia de casa sabendo que você literalmente terá sua diversão dividida ao meio. Dito isso, sabemos que produções francesas suntuosas não poupam esforços para impressionar, e quando eles querem, poucos os superam. Esse é o intuito dessa estreia mundial nos cinemas, algo que da primeira à última cena tem um rigor e uma intenção tão forte de nos deixar embasbacados com sua escala, que em determinado momento a rendição acontece. É um daqueles casos onde parece que cada profissional técnico se esmerou até além das suas capacidades para compor o quadro geral e seguir impressionando. 

Depois de encher a burra de dinheiro com os dois hits Relacionamento à Francesa, o cineasta Martin Bourboulon decidiu que era essa descrição acima que iria motivar sua filmografia. Concebeu então uma “biografia” sobre a construção da Torre Eiffel, e fez desse Eiffel já um cartão de visitas para o que viria a realizar aqui, uma espécie de versão que se diz definitiva do clássico calhamaço de Alexandre Dumas, em tese como nunca visto antes. Agarra-se a isso pela estratégia de levar às telas cada detalhe original de teor narrativo, aproximando-se o máximo possível da integridade da obra. Isso é também o motivador pela divisão em duas partes, e pelas durações avantajadas. Então, são dois pontos: o primeiro pelo rigor técnico indescritível e o segundo pela ideia de vetar quase nada da tela.

Agora quanto a relevância narrativa de Os Três Mosqueteiros: D’Artagnan, ou mesmo ao que é feito ao largo dos valores de produção, há clara boa vontade, manejo e empenho em se apresentar alguns bons momentos de aventura, em cenas conduzidas com suculência, mas na totalidade, estamos vendo um filme padrão do gênero. Toda a beleza estética, todo o cuidado em se criar o universo e dar ênfase a cada tópico levantado, mesmo quando estamos falando de planos-sequências, parece insuficiente para tornar o filme especial. Ou mais especial, quando na verdade estamos acompanhando uma aventura competente, envolvente e com meandros pouco aventados por adaptações anteriores, mas no cômputo final, ainda é um filme já visto e feito antes. 

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Ao público que nunca conferiu uma das tantas versões anteriores, com tantos elencos que já perdi a conta (já vi Milady vivida por Rebecca DeMornay, Milla Jovovich, Emmanuelle Béart…), talvez esse Os Três Mosqueteiros: D’Artagnan tenha um sabor diferenciado. Para mim, que já vi inclusive outros filmes de capa e espada sendo feito ao longo dos anos, olho pra Eva Green e acho que já a vi fazendo essa mesma coisa outras trocentas vezes antes. São modelos de imagens já muito especulados em outras produções, e poucas vezes o trabalho de Bourboulon faz a diferença na hora da montagem dos planos, da decupagem e da criação dos ‘set pieces’. Quando a inspiração vem, alguma magia acontece e temos um congraçamento de eventos simultâneos que permite a emoção e um certo frenesi. 

De qualquer maneira, tirando a escalação preguiçosa de Green, é exatamente graças ao elenco que somos capturados para dentro de Os Três Mosqueteiros: D’Artagnan. Não apenas porque estamos diante de um time sem igual, mas porque a sua escalação parece oposta ao conseguido pela presença mecânica que a atriz de A Jornada (dos raros momentos onde não foi escalada para viver uma bruxa/sacerdotisa/figura mitológica/vilã histórica) vem imprimindo ao que a indústria tem feito com ela. O trio Vincent Cassell, Romain Duris e Pio Marmaï só não está melhor porque lhes falta tempo pra entregar ainda mais; François Civil (de BAC Nord) está muito seguro de sua presença e do que precisa mostrar; Éric Ruf como Richelieu exala intriga e dissimulação; Lyna Khoudri (de Papicha) é das figuras mais doces em cena. Mas talvez o acerto maior seja o casal de reis, vividos por Louis Garrel (de O Formidável) e Vicky Krieps (de Trama Fantasma) – química infindável, e ambos constroem tanto personagens imensamente humanos, quanto uma parceria cênica que realça seu núcleo. 

É essa escalação que acaba por resolver metade dos problemas de Bourboulon, e coloca Os Três Mosqueteiros: D’Artagnan em um lugar acima do esperado. O pacote completo, de visual majestoso e elenco bastante além das médias, acaba por amenizar o trabalho morno da direção. Dentro do campo do blockbuster de ocasião, aquele filme que acessamos na semana da estreia e acaba não tendo uma cena marcante para guardar na memória, o filme precisará contar com outros atributos para arrebanhar o público rumo a sua segunda parte, em dezembro. A dedicação a uma história que anteriormente não tinha sido contada na íntegra e a recordação desse grupo de atores serão os ingredientes responsáveis por tal feito. 

Um grande momento

A emboscada na floresta

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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