- Gênero: Comédia
- Direção: Roberto Santucci
- Roteiro: Paulo Cursino
- Elenco: Maurício Manfrini, Cacau Protásio, Antônio Fragoso, Daniele Winits, Nilton Bicudo, Aline Campos, Charles Paraventi, Elisa Pinheiro, Marcos Pitombo
- Duração: 96 minutos
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Nos dias de hoje, um filme ter feito mais de 2 milhões e meio de espectadores é equivalente a uns 5 de outrora. Ainda assim um número de muito respeito, foi esse valor conseguido por Os Farofeiros, comédia do Midas Roberto Santucci, que com esse título provou de uma vez por todas que tudo o que toca, vira ouro mesmo. Lógico que uma continuação seria algo a pensar, e somente a pandemia atrasou um pouco os planos de lançamento. Estreia hoje em circuito gigantesco no país Os Farofeiros 2, que segue a máxima de não se mexer em time vencedor: praticamente estamos diante de uma reedição do primeiro. Para os fãs que se arrastaram aos cinemas, essa é a melhor notícia; a quem virou as costas, nada irá mudar. Mas eu digo que em casos como o meu, algo está sendo dito ali, embora não o bastante.
O roteiro de Paulo Cursino, habitual colaborador de Santucci e que também tem o toque do mestre, brinca com o Cinema em referências diretas (a que comenta Os Suspeitos, que venceu dois Oscars em 1995, é impagável) ou metafóricas, quebrando a quarta parede. Não é um resultado fora do comum, e essa cena envolvendo as personagens femininas soa até deslocada do quadro geral, mas não podemos dizer que a dupla não tentou pôr as manguinhas de fora em Os Farofeiros 2. O resultado é ambíguo, não sei se chama a atenção de qualquer que seja o público, mas é um movimento de tentativa de sofisticar o gênero, e também mostra que o filme sabe dos padrões da comédia blockbuster nacional e que aceita suas implicações, por mais histéricas e negativas que sejam – e eu nem acho.
Ou melhor, eu acho que Os Farofeiros 2 é o que é, e quem exige outra coisa daqui, está no caminho errado da cobrança. Alexander Payne e Woody Allen não são a porta de entrada para esse tipo de humor, e talvez por isso a brincadeira metalinguística soe desencontrada. Porque a brincadeira aqui é em ouvir o centésimo ataque histérico de Danielle Winits, ou a Cacau Protásio no seu lugar de conforto, ou piadas com peruca, etc. Não é o caso também de não se cobrar algo mínimo em matéria de construção; não podemos esquecer que Santucci já dirigiu o excelente Loucas pra Casar, ou seja, ele é sim capaz de mais do que costuma oferecer. E a verdade é que, quando o filme larga o freio da contrição, a diversão mais rasgada toma conta.
E posso dizer que existem algumas cenas muito engraçadas no filme, e em meio a elas, uma cena em especial que nasce clássica. Ok, já disseram que humor é subjetivo, que não funciona igual para todas as pessoas, mas a cena do tobogã em Os Farofeiros 2, que me fez gargalhar já no trailer, funciona ainda mais quando colocada em contexto e se apresenta inteira. É o ápice da produção (eu diria até da série como um todo), e Santucci sabe disso, porque é a última grande cena do filme, que acontece praticamente em seu desfecho. Com a experiência que tem, o diretor percebeu a qualidade da mesma e não vou estranhar se descobrir que montou o filme nesse propósito de que essa cena específica representasse o clímax cômico do filme. Pois o acerto não poderia ser maior.
Se levarmos em consideração que o filme como um todo já é muito divertido, e que seu funcionamento se dá basicamente em torno de esquetes, Os Farofeiros 2 tem ainda mais trunfos a apresentar. Com o conforto que todos apresentam em seus lugares, o elenco tem seus maiores nomes em Danielle Winits, Nilton Bicudo e Charles Paraventi. Veteranos em suas áreas, são nomes que poucas vezes tem a chance de apresentar seu melhor, e aqui lidam com um espaço que os respeita. Winits modula muito bem uma personagem difícil, que praticamente passa 90% do filme gritando, mas que apresenta uma placidez invejável no desfecho. Bicudo domina um tipo hipocondríaco que tinha tudo para ser um chato de uma nota só, mas que ele apresenta inúmeras camadas. Isso também acontece com Paraventi, um eterno coadjuvante relegado a segundo plano, e que aqui entrega momentos cheios de humor e afeto.
Sem inovar em nada mas entendendo que sua especialidade é a gargalhada de fazer dor a barriga, Os Forasteiros 2 tem lugar garantido entre as produções bestas e inofensivas, que alguns chamarão de detestável para atestar sua ojeriza ao cinema popular. Em meio a produções tão desprovidas de qualquer mérito, o que a dupla Santucci e Cursino faz aqui é devolver ao espectador comum sua capacidade de rir das próprias pequenas tragédias. Um amontoado de erros que não se transformarão em acertos, essa trupe entende pacas do seu riscado.
Um grande momento
Pancadão frenético