(Os Maias – Cenas da Vida Romântica, POR/BRA, 2014)
Direção: João Botelho
Elenco: Graciano Dias, Maria Flor, Pedro Inês, João Perry, Hugo Mestre Amaro, Maria João Pinho, Filipe Vargas, Adriano Luz, André Gonçalves
Roteiro: Eça de Queiroz (romance), João Botelho
Duração: 139 min.
Nota: 6
Com Os Maias – Cenas da Vida Romântica, o diretor português João Botelho (Filme do Desassossego), leva aos cinema uma das obras mais importantes da literatura daquele país. A tragédia da família Maia é contada de forma inventiva, e, ainda que haja alguma liberdade no trato, respeitando a obra de Eça de Queiroz.
A história dos Maias percorre vários períodos pontuados por tragédias. O patriarca Afonso da Maia vê seu filho, Pedro, partir de casa para casar-se contra sua vontade com Maria Monforte. Tempos depois o jovem volta, trazendo seu filho caçula depois que a esposa partiu com outro homem, levando a primogênita. Devastado pelo abandono, Pedro comete o suicídio.
Afonso cria então seu neto que, após voltar dos estudos em Coimbra, vive uma vida sem preocupações, entre festas e mulheres, ao lado de seu grande amigo João da Ega. Um dia, porém, encontra-se com uma mulher pouco conhecida na região e é por esse encontro que a família Maia passa por mais um acontecimento trágico.
É possível perceber no longa-metragem uma constante associação do que se vê com a realidade política e social de Portugal. Seja através de comentários bastante pertinentes e atuais; seja na própria história contada, onde as aparências estão sempre ocultando as crises; ou em alguns de seus personagens.
O diretor João Botelho, responsável também pelo roteiro, faz questão de ressaltar a artificialidade. Seja no começo do filme, onde vemos o narrador, as fotografias do elenco, o roteiro e o guarda-roupa com os figurinos, seja na montagem de sua Lisboa, toda composta por telões com aquarelas que representam as ruas, as flores e até a multidão nos exteriores.
A curiosidade da criação do ambiente e a liberdade respeitosa com o texto de Eça de Queiroz ainda ganham pontos com algumas boas atuações, com destaque absoluto para o ator Pedro Inês (As Mil e Uma Noite: Volume 2 – O Desolado) como João da Ega. Porém, há uma certa irregularidade incômoda no elenco, com muitas passagens teatrais e exageradas, o que não contraria a ideia da artificialidade, mas não funciona muito bem.
Outro problema está no desenvolvimento do roteiro, que se apressa em situações importantes do livro e se delonga em outras nem tão significativas assim, além de não haver um equilíbrio no desenvolvimento de alguns personagens. Problema que talvez se resolva na versão do diretor, com mais de três horas de duração, mas que pode ser bastante percebido aqui.
Ainda que tenha seus problemas, Os Maias – Cenas da Vida Romântica é um filme curioso, pela forma como é encenado e pelo trabalho de adaptação que, extremamente respeitosa, permite a associação e a crítica de maneira tão clara.
Um Grande Momento:
Ega lamentando-se depois de ser descoberto por Cohen.
Links
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