Crítica | Streaming e VoD

Os Miseráveis

(Les Misérables, GBR, 2012)

Musical
Direção: Tom Hooper
Elenco: Hugh Jackman, Russell Crowe, Anne Hathaway, Amanda Seyfried, Sacha Baron Cohen, Helena Bonham Carter, Eddie Redmayne, Aaron Tveit, Samantha Barks, Daniel Huttlestone, Isabelle Allen
Roteiro: Victor Hugo (romance), Alain Boublil e Chaude-Michel Schönberg (musical), Herbert Kretzmer, William Nicholson
Duração: 158 min.
Nota: 5 ★★★★★☆☆☆☆☆

Alguma coisa certamente dará errado quando um dos diretores mais quadrados da atualidade resolve adaptar para o cinema um dos musicais mais quadrados da história. O longa-metragem Os Miseráveis é a melhor prova disso.

Tom Hooper leva todo seu academicismo para a adaptação musical do romance de Victor Hugo e não abre mão de exageros e clichês para contar uma história que, por si só, já tem uma forte carga melodramática, cometendo muito mais erros do que acertos e cansando quem acompanha a jornada de Jean Valjean.

Apoie o Cenas

Valjean, depois de ser preso roubando um pão para seu sobrinho faminto, é condenado a 19 anos de prisão e, depois de cumpri-los, tem que passar o resto da vida em condicional. Inconformado com a pena desproporcional e cansado da perseguição implacável de Javert, ele foge e resolve começar uma nova vida, chegando ao cargo de prefeito.

Já no cargo vê a desgraça de Fantine e decide ajudar sua filha, a pequena Cosette, a ter uma vida digna. Os tempos não poderiam ser mais difíceis. Após a Revolução Francesa as pessoas vivem vidas indignas e uma nova revolução começa a se desenhar.

A história é intrincada e não faltam reviravoltas, complicações e atrativos, porém más opções na direção, que quer sempre ser grandiosa, enquadramentos equivocados e uma tentativa constante de aumentar a emoção acabam afastando o público de uma maneira prejudicial.

Muito graves, esses não são os únicos problemas do longa. O uso de atores não cantores nos papéis principais é outro. Ainda que Hugh Jackman, aqui obrigado a cantar notoriamente fora de seu registro vocal, e Anne Hathaway, maravilhosa, consigam captar e transmitir seus personagens sem fazer feio em seus solos, outras atuações chegam perto do inexplicável. É o caso de Russel Crowe como Javert, com sua voz que parece a de um roqueiro velho com cordas vocais já desgastadas pelo abuso do álcool e do cigarro; de Amanda Seyfried como Cosette, que precisa alcançar notas finais altíssimas sem muito sucesso, e de Eddie Redmayne como Marius, que não consegue esconder a força que faz para cantar.

Uma direção de arte que começa bem e se perde no meio do caminho e a falta de fôlego que atinge o filme de maneira irreversível depois da morte de uma das personagens também não são podem ser ignorados.

Ainda que tenha muitos problemas, o filme tem seus momentos. Entre eles estão os interpretados pelo casal formado por Helena Bonham Carter e Sacha Baron Cohen, que, por mais exagerados que sejam, surgem como uma espécie de respiro em toda a retumbância de Tom Hooper, e as participações da jovem Cosette, representada por Isabelle Allen, e de Éponine adulta, vivida por Samantha Barks, que surgem como um bálsamo para os ouvidos depois de alguns solos estranhos.

Mas o ponto alto do filme é mesmo a participação de Anne Hathaway com sua Fantine. Além de ser a única personagem que constrói uma relação real com o público, despertando sentimentos desde o primeiro momento em tela, é difícil resistir à sua interpretação da música mais conhecida do musical, I Dreamed a Dream, de Alain Boublil e Claude-Michel Schönberg, traduzida para o inglês por Herbert Kretzmer. Mesmo com Hooper tentando atrapalhar o momento com seus enquadramentos sufocantes em close-up.

Mantendo seu quadradismo e tentando sem sucesso levar à tela algumas inovações que julgava geniais, o diretor inglês erra feio desta vez e se perde na grandiosidade que imaginou para a história.

Com poucos acertos perdidos em tantos equívocos, Os Miseráveis acaba sendo um filme de difícil digestão e que não consegue agradar a todos. Se contraria aqueles que gostam e acompanham musicais, é uma péssima pedida para os que não gostam do gênero.

Um Grande Momento:
O desabafo de Fantine.

Logo-Oscar1Oscar 2013
Melhor Atriz Coadjuvante (Anne Hathaway), Melhor Mixagem de Som (Andy Nelson, Mark Paterson, Simon Hayes), Melhor Maquiagem e Cabelo (Lisa Westcott, Julie Dartnell)

Os-Miseráveis

Links

IMDb Site Oficial [youtube]http://www.youtube.com/watch?v=0ZfsNGyaj50[/youtube]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
1 Comentário
Inline Feedbacks
Ver comentário
Botão Voltar ao topo