Crítica | Streaming e VoD

Os Reis do Mundo

Falsa monarquia

(Los Reyes del Mundo, COL, MEX, LUX, NOR, FRA, 2022)
Nota  
  • Gênero: Drama
  • Direção: Laura Mora Ortega
  • Roteiro: Laura Mora Ortega, Maria Camila Arias
  • Elenco: Carlos Andrés Castañeda, Davison Florez, Brahian Acevedo, Cristian Campaña, Cristian David Duque
  • Duração: 100 minutos

2022 foi um ano onde uma narrativa fez valer sua força mais uma vez: a história de jovens párias sociais, destinados à própria sorte, vagando pelo rumo sem oportunidades e com muita violência a reboque. A Mostra SP trouxe várias histórias centradas nesse mesmo sujeito, que não teve a oportunidade de andar nos trilhos, só sobrando a margem para lhe garantir espaço. Um desses títulos está chegando hoje à Netflix, e não têm pouco pedigree: Os Reis do Mundo ganhou a Concha de Ouro no último Festival de San Sebastian, e foi a escolha da Colômbia para a representação em filme estrangeiro no Oscar deste ano. De fato, chama a atenção de como o filme consegue organizar suas ideias dentro de um campo já tão explorado, e não apenas no ano passado. 

Laura Mora Ortega tem uma carreira claramente ascendente, apenas 41 anos, e já vinha demonstrando que não passaria despercebida como cineasta, principalmente após Matar Jesus, seu longa anterior que causou barulho no mesmo San Sebastian, porém 5 anos antes. Esse cenário sem afeto entre jovens, que se reúnem e acabam por atrair atos criminosos ao seu redor, é um lugar onde a diretora se encontra com facilidade. Os minutos iniciais dessa estreia já arrebatam pela crueza empregada, pela maneira despojada como se aproxima daqueles tipos entre a infância e a adolescência, e torna o convite irresistível, apesar de, em tese, não estarmos diante de nada novo. É a força estética desses atos que acabam por seduzir o espectador. 

O elenco de Os Reis do Mundo, composto por jovens estreantes, impressiona pela naturalidade com que se joga em situações bem banais para uma realidade de grandes cidades com andamentos contrastantes de seus problemas sociais. É um grupo pequeno, quase sempre contracenando entre si, mas que consegue sempre muita verdade na hora de explorar suas vozes, corpo e suas imagens, como um todo. Não é difícil imaginar que tenham sido encontrados em situações em testes em buscas entre pessoas igualmente periféricas, e que sua experiência de vida seja recompensada com o que vemos. O trabalho de cada um cena consegue nunca nos fazer desconectar dos processos apresentados. 

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O que degringola a produção é a sua constante indefinição, seu roteiro pouco inventivo, e sua duração excessiva, que compromete o ritmo do filme, além de compreender suas tiradas quase de maneira episódica, com pouca fluência. Dentro do que já conhecemos de meandros possíveis desse tipo de argumento, Os Reis do Mundo avança pouco ou quase nada por novos lugares. Isso seria desnecessário, caso o filme mantivesse um foco específico ao seu ritmo, mas Ortega deseja muitas coisas, e algumas delas simplesmente não se concatenam. Ou seja, sobra temática e intencionalidade, e falta coesão ao que é importante para a narrativa, que segue com sua vibração catártica, ainda que desprovida de material qualitativo.

Juntamos então esses episódios que se desenvolvem entre o naturalismo e a epopeia fantasiosa, a saga de cinco jovens buscam um lugar no mundo. Enquanto o filme consegue motivar essa ideia de maneira seca, isso funciona muito bem; quando parte para tentar “sentir” suas cenas, Os Reis do Mundo acaba por se equiparar com qualquer filme ‘indie’. Entende-se a urgência de seus temas, a denúncia em relação à reforma agrária e sua maneira disforme de controle, mas que essas coisas convergem em opostos, algumas vezes até entrando em atrito.  A melhor coisa da produção, no entanto, é o talento de realizadora de Ortega, muito mais que o de autora. Junto com seu elenco submerso em cada personagem, a diretora cria sequências lindas, como a da fila indiana no início e a da chegada no terreno, quase no fim. Pena que tais momentos não se elevem ao todo. 

Um grande momento

A cobrança do terreno em cartório

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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12 Comentários
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igor
igor
11/01/2024 22:08

Filme bem ruim e cansativo. Não é a toa que tem nota 2. A premissa é boa mas os diálogos são péssimos. Diálogos muito pobres, de cada 10 palavras, 11 são “gon*rréia”. O filme diversas vezes cria expectativa de que algo vai acontecer, e no final nada acontece. O suspense é resolviido da maneira mais pobre possível. As cenas são repetitivas e cansativas. A direção do filme gera expectativa para nada, como se fosse algum tipo de trabalho escolar de cinema. Muitas cenas poderiam ser interessantes, mas o problema é que nao fariam falta nenhuma e nao tem nenhuma razão de estar ali. No final acaba sendo um desperdício de uma boa premissa e boa ambientação, e cenas que poderiam ser boas se fizessem diferença no roteiro. Tudo isso foi estragado por diálogos péssimos e um roteiro totalmente solto, que mais parece um rascunho. 

Editado em 10 meses atrás by igor
alex
alex
11/10/2023 01:43

galera pra quem não entendeu o moreninho que morreu não estava no bando quando desseram do morro ele estava ali do nada era apenas a alma dele eu acho

Railene
Railene
08/05/2023 14:43

Filme muito bom, porém complexo. Não entendi como o amigo negro morreu antes, se no final estava juntos com garimpeiros para expulsar os amigos . Aliás os dois amigos né, o que pensei que havia morrido com a facada tbem .Porém fiquei na dúvida se no final todos se revoltaram contra o capanga e mataram ele, ou se os três morreram e os amigos dele já era só o espírito junto com os demais.

Belchior Camilo
Belchior Camilo
12/03/2023 16:03

Na verdade o filme é extremamente bom, existem partes que não foram entendidas pois não foram atentadas corretamente ou que precisamos de uma bagagem de conhecimentos populares pra entender.

Vi comentários sobre algumas partes que as pessoas não entenderem, como o sumiço do personagem negro, sim ele foi morto.
No tempo 1:00:10 de filme, existe uma cena encaixada, onde o velho da cabana narra “dizem que a água é o sangue do mundo, agora chove e com suas lágrimas eu banho a terra” .. logo na sequência há um take do personagem negro andando junto com outros meio que perdidos na mata, e logo a narração muda para a voz do ator dizendo “E com meu sangue, eu banho a terra”.. logo mostra a várias pessoas negras indo em direção ao “mar” como que mostrando que ele não foi o único negro a ser morto “por nada”.
“O mar espera ansioso” é o que a narração do velho fala, mas a do ator nessa cena é “_O mar me espera ansioso”… O “me espera” é possível ver nas legendas e no áudio original em espanhol que as frases são distintas. Nessa cena estamos de fronte ao reencontro dele com seus antepassados.

O menino não morre na fogueira, gerou-se a dúvida mesmo, pois pra entender temos que lembrar da cena em que ele fica em uma estrada à beira de um precipício sozinho, indicando que poderia ter pensamentos suicidas, o que fica mais claro na cena da fogueira que reflete um pensamento dele, essa parte elucida a depressão em jovens. Além disso a fogueira está ali pra representar os protestos contra a reforma agrária colombiana, e demonstra toda a frustração dos meninos, a raiva, o ódio que faz com que homens de bem percam a cabeça e se revoltem contra a sociedade.

Sobre o casal de velhos, atenção aos fatos:
1- Os dois em uma velha casa ABANDONADA
2- A valha chama do homem de filho, todavia este mais velho que ela, indicando duas gerações que não estão mais entre os vivos, as cenas da casa indicam isso com mais clareza ao mostrar que ninguém vive lá de fato. Nos conhecimentos populares da América do Sul é comum história de pessoas que já morreram, mas ainda permanecem na casa etc.. se tornando guias espirituais para viajantes .. interior de Minas, sp e nordeste tem muita história assim aqui no Brasil, na Colômbia, onde foi produzido o filme TB. (Lembrem-se, a diretora do filme é muito ligada em espiritualidade, e a Colômbia é um país TB muito ligado ao místico.

Final: Sim, eles morrem. É possível ver a cena final em que Rá parte pra cima do líder do bando, iniciando uma briga que termina com 3 tiros. Foram assassinados.

O filme termina com a frase, “sonhei que todos os homens adormeceram, menos nós’.
Isso indica a vida eterna, logo os 5 se reencontram em uma balsa, navegando sem rumo em busca de algo que nunca vão encontrar, passarão a eternidade em busca do infinito.
Lembrem-se, um filme pra ser bom não precisa ser de fácil entendimento, mas precisa exercitar nossa mente para que possamos encaixar as peças e sentir aquele doce impacta de: “Nossa, que profunda essa história”.

Assistam o filme com o coração e a mente aberta para o possível e o impossível.

Editado em 1 ano atrás by Belchior Camilo
Valdelice
Valdelice
25/02/2023 20:49

Eu gostei do filme. Inicialmente parece um filme ” bobinho”, mas não é, não. Atores tiveram uma atuação muito boa ( quinteto)….algumas cenas achei emocionante. Não teve uma sequência lógica, mas quem disse que é sempre necessária, né!?. Algumas temáticas abordada com lucidez, sumiço do personagem negro, por exemplo (muito real isso ).

Adriana
Adriana
22/01/2023 22:12

O filme não é ruim só pq vcs não entenderam o final meu povo. Todos morreram. Por isso no final estão os 5 juntos. Os 3 últimos não tinham como escapar daquela quantidade de garimpeiros armados. Eles morrem e se reencontram no final. É isso. Gostar ou não gostar da história é uma questão pessoal. Não quer dizer que o filme é ruim.

João Lucas
João Lucas
12/01/2023 21:34

Se eu fosse a Netflix teria vergonha de por a marca dela em um filme como esse,sem pé e sem cabeça,além da qualidade ser horrível,tem muitos pontos sem conclusão,deixando inúmeras aberturas para xingamentos.
Mais afinal,péssimo filme

ANTONIO
ANTONIO
11/01/2023 20:48

Uma merdade filme

Valdir
Valdir
11/01/2023 13:33

Achei uma bosta de filme. Numa hora aparece do nada uma canoa a motor pra eles seguirem rio a fora. Uma casa de prostituição no meio do nada. O sumiço do personagem negro. O fogo na estrada sem consequências ou objetivo que o final não mostra. Ou seja, um filme pra adivinhar.

Editado em 1 ano atrás by Valdir
Ivete da Costa
Ivete da Costa
11/01/2023 09:53

Também não consegui enrender se o personagem negro amigo deles foi morto, a casa com casal de idosos e se eles morrem no final, já que toda vez que o cavalo aparece um deles parece ter morrido.

Cátia
Cátia
10/01/2023 15:51

não entendi o final sinceramente,eles morrem ?? na última cena estão mortos ou e sonhando??

Ana
Ana
08/01/2023 19:12

Não entendi muita coisa, o fogo na estrada? A casa abandonada com o casal de idosos? Por que sumiram com o personagem negro? Sem explicação. A gente tem que deduzir,??
Afinal, ele morre. Na fogueira ou no final??

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