Crítica | Outras metragens

Panteras

Metamorfose ambulante

(Panteres, ESP, 2020)
Nota  
  • Gênero: Ficção
  • Direção: Erika Sánchez
  • Roteiro: Erika Sánchez
  • Elenco: Laia Capdevila, Rimé Kopoboru, Sílvia Albert, Lucrecia Buabaila
  • Duração: 22 minutos

Existem diversas áreas que unem Panteras a Garotas de Céline Sciamma e Divinas de Houda Benyamina, a começar pelo óbvio retrato descortinador do corpo feminino. O filme abre com um banho coletivo em torno de formas não-hegemônicas que tem todo direito a uma tela de cinema que nunca teve antes. Essa abertura que se espraia pela intenção de normatização do nosso olhar padronizado para a aceitação das diferenças já abre uma discussão possante no filme, que não fornece respostas fáceis para Joana, sua protagonista; ela não as tem e ela não as dá.

À diretora Erika Sanchez não basta não julgar suas protagonistas, ela também não as define ou rotula, porque as descobertas são entendidas pela produção como parte de um processo coletivo. Joana se olha no espelho e tenta se posicionar, se descobrir, e o filme sugere imageticamente propostas, ao cobrir o que cobre e mostrar o que mostra, da forma como mostra. Mas nada está encerrado em algum lugar – Joana e Nina não se definem porque talvez seja antiquado se definir, porque talvez não precisem pensar nisso ainda, porque são jovens demais para buscar sentido no que é simplesmente desejo.

Panteras-2020

Há uma vontade de não catequizar o espectador com definições pré-concebidas e apenas mover a imagem para um desenrolar novo de possibilidades, que não são exigidas por outros que não a sociedade vigente; essa sim precisa de respostas, e o filme mais uma vez trata de confundir muito mais que explicar. Nina e Joana são múltiplas coisas, incluindo aí rivais que degladiam suas encruzilhadas particulares. Duas maneiras que provavelmente querem coisas diferentes, da vida e uma da outra, mas que seguem nessa relação de conflito e união.

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Em determinado momento, o roteiro de Panteras desenvolve uma camada plus de contradição à sua figura central. Joana, então, tem a necessidade de expor-se revelada em plena raiz; não é um movimento típico do nosso tempo, onde a imagem precisa não só ser criada como também aprovado. É ainda mais complexo, como se a personagem estivesse pedindo um holofote para suas entranhas. E sua atitude para esse anseio é agir nas sombras, uma contradição de ideias entre o atacar e se auto atacar, uma metamorfose em plena formação, como se dissesse que precisa crescer mas… será que posso esperar mais um pouquinho?

Panteras-2020

Não é a toa que Erika contrapõe cenas de exposição madura com explosões tipicamente juvenis, afinal Joana e Nina estão na barreira entre tomar posição e os estertores da irresponsabilidade pessoal. O filme persegue enquanto jovens e também enquanto crianças e também enquanto mulheres; há batom e sangue, mas também geleia e euforia. Panteras flagra duas jovens meninas no limiar entre se permitir passos curtos e a iminência das grandes decisões, quando Joana terá de evoluir suas cenas, e não repeti-las. É tempo de descobrir a si mesma em um novo corpo, mas ainda dá tempo de uma última dança.

Um grande momento
O fogo ambíguo

[9º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba]

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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