Crítica | Outras metragens

Partir um Dia

O tempo passa

(Partir un jour, FRA, 2021)
Nota  
  • Gênero: Romance
  • Direção: Amélie Bonnin
  • Roteiro: Amélie Bonnin, Dimitri Lucas
  • Elenco: Bastien Bouillon, Juliette Armanet, Lorella Cravotta, François Rollin
  • Duração: 24 minutos

É praticamente impossível fugir da conexão: Partir um Dia guarda profundas semelhanças com Canções de Amor, o neoclássico musical de Christophe Honoré. Não é apenas o fato de ambos serem títulos musicais contemporâneos, mas todo o entorno que permeia as produções, sua temática, a textura, o lugar etário de onde fala, os paralelismos parecem infinitos. Sua autora, Amélie Bonnin, teve a inspiração certeira para realizar esse título em cartaz no My French Film Festival; como o grande filme que é, o cultuado filme de 2007 já tinha inspiração em Jacques Demy, e agora cede a influência para uma jovem diretora. 

O filme tem uma ideia simples, e já foi testada no cinema anteriormente. Julien foi embora da casa dos pais ainda jovem e, longe, se tornou um autor publicado. Ao retornar à cidade natal para os preparativos de uma mudança de vida dos pais, o jovem escritor reencontra sua namorada de adolescência, Caroline, e coisas ainda não ditas virão à tona. É uma premissa já utilizada em tantos títulos, cujo charme aqui se dá por essa característica que o aproxima da tradição musical – as pessoas se expressam através da canção. E isso é revelado na abertura, onde o mundano se funde com o extraordinário. 

São pessoas comuns, ordinárias mesmo, vivendo a plenitude de suas rotinas, mas que se encontram na mesma melodia coletiva. Nesse sentido, Partir um Dia também evoca as cenas musicais de Magnólia, mas que guarda com o filme de Honoré seu senso de melancolia diante da rotina. Aqui, a roda viva do amor também está acionada, e também Bonnin observa esse movimento como um escape à monotonia de uma vida comum. É desse detalhe que somos arrebatados para uma existência extraordinária, ainda que isso só se realize a partir desse conceito do cinema de gênero por excelência. 

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Apesar de partir de um quadro geral que se imagina amplo, Partir um Dia é uma experiência reduzida a quatro personagens, e apenas 24 minutos. A riqueza da narrativa não nos faz perceber sua duração, que parece não ter pressa para chegar a seu desfecho. Essa é o que faz do filme tão interessante, sua capacidade de aparentar ter muito a dizer, de inúmeras formas e contendo muitos desdobramentos, e isso simplesmente chegar ao fim rápido demais. Não que falte conclusão, o roteiro tá todo em cena e a compreensão quanto ao que está sendo exposto chega até a sua duração; a maior parte das vezes, não há como negociar com o tempo. As coisas acabam. 

Partir um Dia, que também é sobre recomeços, nos mostra em sua duração, que parece equivocada porque gostaríamos de continuar descobrindo aqueles personagens e suas dinâmicas, uma conversa com esse conceito de brevidade. Mesmo as melhores coisas da vida se encerram, e muitas vezes não é por nossa vontade, mas são eventos circunstanciais que leva a isso. Bonnin, em seu veloz conto musicado sobre as coisas que partem, mostra além de qualidade cinéfila, mas a sensibilidade para compreender seu tempo de duração para torná-lo conceito de sua narrativa, de maneira sensível. 

Um grande momento

A última canção

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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