Crítica | Streaming e VoD

Partiu América

Triste partida

(Partiu América , BRA, 2024)
Nota  
  • Gênero: Comédia
  • Direção: Rodrigo Cesar
  • Roteiro: Cadu Pereiva
  • Elenco: Matheus Ceará, Priscila Fantin, Luara Fonseca, Gabriel Palhares, Rubens Santos, Mucio Eduardo, Cássia Vale, Rodrigo Emerenciano, Flavio Andrade, Igor Guimarães
  • Duração: 96 minutos

Como já disse algumas vezes, o grande pecado de uma comédia é não ter graça, e obrigar o espectador a uma insanidade dessa. O quadro fica ainda pior quando percebemos que a falta de graça não acontece por ausência de tentativa; Partiu América acabou de estrear na Netflix, é um grande sucesso, e busca o tempo todo por um humor que raramente aparece. Ou seja, trata-se de um filme que se esforça continuamente em alcançar algo que, para ele, parece impossível, embora tenha como protagonista um ator excelente, com um dom de comédia mais que comprovado. Essa é a estreia como protagonista no cinema de Matheus Ceará, que explodiu no programa A Praça é Nossa e que pretende alçar voo solo a partir desse novo momento. 

O diretor Rodrigo Cesar está aqui em seu segundo longa, após o lançamento de Lucicreide Vai pra Marte. Com alguns outros trabalhos no audiovisual no currículo, Partiu América tinha previsão de estreia em cinema, e assim como Meninas não Choram, foi comprado pelo canal de streaming. Acabou por se tornar um imenso sucesso por lá, e isso foi mais uma prova do acerto de estrear o filme direto na Netflix, já que não há espaço suficiente no ranking de bilheterias para tantos produtos populares que foram produzidos por nós nos últimos anos. Isso e firma Ceará como um astro para o futuro, estabelecendo aqui seu potencial para títulos mais convidativos, que explorem suas potencialidades de maneira mais correta. 

Infelizmente, Partiu América está mais próximo dos títulos fracos (que foram muitos) entre os populares lançados esse ano, do que dos bons exemplos, como Evidências do Amor, Dois é Demais em Orlando e Aumenta que é Rock’n’Roll. Cesar não parece conhecer outra forma de dirigir uma produção, que não aquela fórmula padrão televisiva e rápida de conceber imagens. Nada no título tem qualquer apuro, seja na criação de planos, seja no desenvolvimento do roteiro, seja na criação dos personagens. Não é apenas um caso de pouca maturação coletiva, mas do que deve ser uma falta de preparo mesmo, que impede o filme de conseguir expor mais do que suas curtíssimas pernas alcancem. São pouco mais de hora e meia de um produto que poderiam ser esquetes para o tiktok, um quadro de programa de humor ou um canal amador de produção audiovisual. 

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Sou contrário à opinião (se é que existe alguém que declare isso publicamente, mas com certeza tem quem pense) de que produtos populares podem ser realizados de qualquer forma, na maneira mais ligeira possível, sem oferecer ao público uma diversão acima da média esteticamente ou narrativamente. O que é apresentado aqui em Partiu América é o que parece ser o esboço de um projeto, que foi previamente produzido para que algum produtor se interesse pelo material, e produza a versão definitiva. A montagem fraca do filme além de não dinamizar o ritmo como um todo, ainda eleva o caráter primário da produção, e a direção de Cesar não se esforça nem para valorizar o principal interessado e patrocinador do filme. Ou seja, saímos da sessão sem conhecer os parques da Disney, apenas um punhado de montanhas-russas. 

Agora, chega o ponto mais importante e que gosto de atentar para o cinema de gênero: Partiu América, uma comédia, faz rir muito pouco, mesmo dentro de contexto subjetivo. A culpa não é dos atores, mas do material a que eles têm acesso, que é pouco inspirado e cheio de reforços de estereótipos. Além de Ceará, Igor Guimarães e Flávio Andrade estão no elenco e não provocam nada. As raras passagens que se consegue sorrir estão na conta de Luara Fonseca, a filha do protagonista, vivendo uma ‘influencer’ que faz rir por nos mostrar o ridículo da atualidade. Quando sai desse espaço, o filme é um deserto de boas ideias, bom desenvolvimento ou boas piadas; ou seja, cinematograficamente não há o que ser feito aqui. 

OBS: Rubens Santos, magnífico ator que Kleber Mendonça Filho nos apresentou em momentos antológicos de Aquarius, Bacurau e principalmente Retratos Fantasmas (ele vive o inesquecível motorista de táxi no filme), tem um imenso papel em Partiu América e aproveita cada cena em que aparece – nem ele, e sua química com Ceará, eleva o filme como um todo.

Um grande momento

As críveis cenas do medo de Matheus de montanha-russa

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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