Crítica | Streaming e VoD

Resgate 2

A fraternidade é vermelha

(Extraction II, EUA, 2023)
Nota  
  • Gênero: Ação
  • Direção: Sam Hargrave
  • Roteiro: Joe Russo, Anthony Russo, Ande Parks
  • Elenco: Chris Hemsworth, Golshifteh Farahani, Adam Bessa, Tornike Gogrichiani, Tornike Bziava, Olga Kurilenko, Tinatin Dalakishvili, Andro Japaridze, Idris Elba
  • Duração: 111 minutos

Resgate talvez tenha sido o primeiro grande filme lançado durante a pandemia, pouco mais de um mês de começado o lockdown mundial. Os cinemas estavam fechados (e ainda continuariam por mais alguns meses), e aquele momento foi o início de uma virada no audiovisual que reverbera até agora, com fracassos nas telonas de filmes que antes seriam sucessos incontestáveis, a “morte” de gêneros para a tela grande cujas exceções só confirmam, e ascensão do streaming como um “resgatador” do prazer e da diversão. Por mais de um ano o filme foi o mais assistido da Netflix de todos, o que faz a estreia de Resgate 2 parecer inevitável – isso e a abertura escancarada para uma continuação no fim do primeiro. A boa notícia é que tá tudo no seu devido lugar, mas existe a má notícia. 

Sam Hargrave não pretendia fazer História com aquela narrativa, ou sua forma de filmar, ou mesmo o lugar onde era ambientado o primeiro filme. Produção e roteiro dos irmãos Russo, os homens por trás de boa parte da imensidão monetária intitulada Os Vingadores, através de uma graphic novel de Ande Parks, o filme ainda assim tinha um charme que o colocava à parte desse grupo ‘exército de um homem só’ – ou talvez tenha sido a magia da solidão em casa mesmo. Esse Resgate 2 faz ainda mais jus que não se entenda o fenômeno por trás dele, porque o filme praticamente refaz qualquer filme de ação dos últimos 30 anos. Mas a essa altura Tyler Rake é alguém que queremos ver em ação, e o filme acabou criando ao menos uma marca registrada. 

O Resgate 2
Jasin Boland/Netflix

Ok, também essa tal marca, a essa altura, virou um borrão utilizado por qualquer filme que queira chamar atenção, inclusive a própria Netflix está realizando filmes inteiros assim (Carter); afinal, o plano-sequência fake ainda provoca algum frisson a mais em um filme, e porquê? Os dois filmes de Hargrave utilizaram a brincadeira para enfatizar um momento chave da produção, ambos ocorrem mais ou menos na metade da duração. A intenção era disponibilizar ao espectador o conhecimento da técnica de realizar a mesma, com os efeitos especiais possíveis, e a graça de poder fingir que tudo aquilo foi realizado com a câmera ao mesmo tempo, dando uma noção de urgência aos planos e à narrativa em si. Por trás do que está nesse lado, existe uma ideia interessante organizacional por trás do jogo. 

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Vejamos esse momento em Resgate 2, por exemplo. Que toda a grande sequência (aqui, durando 20 minutos) é picotada sutilmente para que o espectador não perceba, isso é um fato, mas a graça está exatamente dentro desses picotes. Mesmo que tudo seja norteado pelos efeitos e que uma sequência dessas esteja na verdade dividida em alguns blocos, dentro de cada deles existe uma vertiginosa seleção de acontecimentos em sequência que, se tira o fôlego de alguns, em mim faz pensar na quantidade de eventos ligados precisam ser coordenados. Se a capotagem de um carro em um filme é um momento de feitura complexa, imaginem várias em sequência, em perseguição ininterrupta, onde capotam também motos e uma saraivada de tiros é disparada ininterruptamente. E, vejam só, eu só peguei meros 2 minutos da sequência inteira para comentar. 

O Resgate 2
Jasin Boland/Netflix

Do ponto de vista logístico, que o primeiro e esse Resgate 2 sirvam para girar em torno dessa grande cena, já seria então um acontecimento formidável que valeria a pena acompanhar. No entanto, laços fraternos amarram praticamente todas as relações mostradas aqui, e os sacrifícios de alguns de seus integrantes motivarão o deslanchar das ações. Temos duplas de irmãos entre os vilões, os mocinhos e as vítimas, e o amarrado desses personagens irá definir como cada curva da narrativa será desenvolvido. Isso ainda poderia render muito mais se o roteiro de Joe Russo ampliasse o alcance desse discurso, mas como já dito, o filme tem interesse de entreter quase que exclusivamente, ainda que com material de primeira grandeza na produção. 

Mais uma vez, o trabalho de Golshifteh Farahani salta aos olhos, o que só demonstra que, pode ser em Á Procura de Elly, ou em Patterson, ou em Resgate 2, o talento da atriz não se deixa abater pelo material em questão. Disposta a entregar o melhor sempre, Farahani quase eclipsa Chris Hemsworth, que afinal está no pilar narrativo. Ainda que um tanto de drama ocupe as narrativas dos dois amigos, ambos estão sustentando o cabo de um produto para as massas que entende não precisar entregar o trabalho mais preguiçoso do mundo, basta um pouco de dedicação para que o produto alcance esse resultado. 

Um grande momento

O grito de Nik

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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