Críticas

Pelos curtas, pelo cinema e pela cultura

“Nós somos trabalhadores do audiovisual e estamos aqui não simplesmente para defendê-lo, pois a arte não precisa de defesa, já que ela jamais deveria ser passível de questionamentos.” As palavras de Maria Abdalla, diretora geral da Goiânia Mostra Curtas resumem o clima da noite de ontem (8), abertura da 19ª edição do festival no Teatro Goiânia.

Como destacou a apresentadora da cerimônia Andrea Cals, nesses 19 anos de história, quase 2 mil filmes foram exibidos para um público de mais de 280 mil pessoas. Segundo Abdalla, o evento que começou atendendo demandas primárias de formação e encontrando um espaço para a exposição de um formato, agora, além de exibir, continua atento à formação profissional, com a segunda edição da Feira Audiovisual, e de público, com a 18ª Mostrinha.

É difícil falar de qualquer festival de cinema e não perceber a importância da Goiânia Mostra Curtas, uma vez que o formato não consegue achar muito espaço de distribuição no país além desses eventos. Se hoje a produção do país é vasta e plural no universo dos longas-metragens, isso é ainda mais intenso com os curtas.

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“Entendemos que o cinema brasileiro e a produção audiovisual contemporânea enfrentam as angústias, dilemas, cores e diferenças de sua sociedade atual. Entendemos que aqui se cumprem suas inúmeras missões enquanto forma de arte: é luz e é espelho; abre possibilidades de pensamento e alimenta reflexões”, destacou a diretora do evento e concluiu: “estamos reunidos hoje, e estaremos até domingo, para celebrar a força, a coragem e a beleza da diversidade cultural brasileira”.

Maria Abdalla ainda lembrou aquilo que parece óbvio, mas, descobriu-se, precisa ser repetido incessantemente: o audiovisual brasileiro cresceu, conquistou seu espaço e gera emprego e renda para milhares de pessoas. “E nós estamos aqui pelas pessoas, as que fazem e as que assistem”, completou.

A noite contou ainda com uma bela homenagem à atriz e diretora Helena Ignez, com a apresentação de três curtas: O Pátio (1959), sua estreia no cinema, dirigido por Glauber Rocha; o documentário de montagem Extratos (2019), dirigido por sua filha; e Ossos (2014), dirigido pela própria Helena a partir de um workshop ministrado por ela na Universidade do Ceará.

A atriz e diretora falou sobre sua carreira e sobre cada um dos filmes selecionados para a homenagem, parte da mostra especial “O amor e suas formas”. “Foram 60 anos super bacanas, interessantes e uma grande experiência”, destacou. A atriz lembrou que no meio de sua jornada, também teve tempo para pensar e sentir o vazio, silêncio e energia que encontrou após o falecimento de Rogério Sganzerla. “Uma energia no sentido de continuar esse trabalho, do qual eu sou discípula também, apesar de ter começado antes; desse cinema que pensa, desse cinema que age e transforma”, afirmou.

O pocket show O Delírio do Verbo: Manoel de Barros em Canções, com releituras e recriações musicais em cima da obra do poeta mato-grossense, fechou a noite ao som do piano de Júlia Tygel, da viola caipira de Neymar Dias e da bela voz de Tatiana Parra.

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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