Documentário
Direção: Paula Sacchetta
Duração: 80 min.
Nota: 8
O Brasil é um país que gosta de acreditar que tem uma imagem muito distante da real. A crença de que o machismo não seja um problema nacional é facilmente contrariada por resultados de pesquisas. Em levantamento realizado pela Énois Inteligência Jovem para o 1º Seminário Internacional Cultura da Violência contra as Mulheres, em São Paulo em maio de 2015, por exemplo, de 2.285 jovens de 370 cidades brasileiras, 77% já sofreram assédio sexual, destas 10% foram abusadas por membros da família e 9% por amigos e conhecidos. A mesma pesquisa revelou que 84% das entrevistadas já sofreram agressão verbal e 41%, agressão física, em sua maioria por membros da família e parceiros.
Em pesquisa divulgada pela ActionAid, e realizada pela YouGov no Brasil, Índia, Tailândia e Reuno Unido em maio de 2016, 86% das mulheres brasileiras afirmaram que já sofreram assédio em espaços públicos. Metade das mulheres entrevistadas no país disse que já foi seguida nas ruas, 44% tiveram seus corpos tocados, 37% disseram que homens se exibiram para elas e 8% foram estupradas em espaços públicos.
São números assustadores e que não são enfrentados da maneira impositiva que deveriam. Pouco se faz a respeito e sequer se quer falar sobre isso. Foi por isso que o projeto “Precisamos Falar sobre Assédio”, já pensando como uma composição transmídia, foi realizado. Na semana da mulher, de 7 a 14 de março de 2016, uma van ficou estacionada em locais variados das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.
Dentro dos veículos, que serviam como estúdio, depoentes de várias idades e classes sociais falavam sobre suas traumáticas experiências de assédio. Ao fazer seu desabafo, as mulheres podiam optar por revelar ou não sua identidade. As vozes poderiam ser modificadas e quatro máscaras ficavam à disposição das mulheres que entravam na van, cada uma representando um sentimento: medo, raiva, vergonha e tristeza.
O que se escuta daquelas mulheres selecionadas dentre 140 depoimentos prestados para compor o longa-metragem não é nada diferente do que já se está acostumado a saber que existe se se é mulher. Assédio no trabalho, abuso doméstico, estupro por familiares e amigos. Algumas situações repetem-se no documentário assim como repetem-se na vida real e não é uma experiência fácil.
A resposta do público presente no 49º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, obviamente, varia e é curioso constatar isso. Enquanto as mulheres identificam-se e sofrem novamente com aquilo que escutam, reconhecendo a necessidade de repetições e compreendendo o sentimento das depoentes; os homens sentem-se incomodados com a estrutura do filme, com o modo de fala e com as histórias que se repetem. Enquanto para eles o projeto não daria mais do que um curta-metragem, para elas há o reconhecimento imediato de que o filme tem exatamente o tamanho que deveria ter e expõe aquilo que deveria expor.
Mais uma vez, o que se percebe é o incômodo que o posicionamento feminino causa no ambiente estabelecido. É como se todos soubessem que aquilo existe, mas ninguém gostaria de escutar alguém falando sobre. Mas esse tempo passou, e o que acontece hoje deve deixar de existir. Por isso o documentário Precisamos Falar do Assédio e todo o projeto por trás dele merece todos os aplausos e deve ser conhecido por todos.
Para conhecer mais sobre o projeto “Precisamos Falar Sobre Assédio”, acesse o site na internet ou a página no Facebook.
Um Grande Momento:
“Eu preciso de ajuda”.
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