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Rebel Moon – Parte 2: A Marcadora de Cicatrizes

Qualificações no horizonte

(Rebel Moon - Part Two: The Scargiver, EUA, 2024)
Nota  
  • Gênero: Aventura, Ficção Científica
  • Direção: Zack Snyder
  • Roteiro: Zacky Snyder, Shay Hatten, Kurt Johnstad
  • Elenco: Sofia Boutela, Ed Skrein, Djimon Hounsou, Michiel Huisman, Doona Bae, Ray Fisher, Staz Nair, Fra Fee, Stuart Martin, Ingvar Sigurdsson, Anthony Hopkins
  • Duração: 115 minutos

Uma das coisas que mais gosto, enquanto crítico de cinema, é ter a “língua queimada”, expressão utilizada quando erramos uma previsão dada como certa. Ao final do meu texto acerca de Rebel Moon – Parte 1: A Menina do Fogo eu vaticinava que quatro meses depois, não teríamos nada a fazer com a segunda parte da saga que Zack Snyder acabara de criar. Tenho duas notícias, uma boa e uma ruim – a ruim é que a história de Kora e seus amigos está bem longe de se encerrar, e provavelmente teremos mais alguns títulos no futuro sobre o universo Mundo-Mãe; a boa é que, contra tudo e contra todos, Rebel Moon – Parte 2: A Marcadora de Cicatrizes não é uma tragédia como o anterior. Na verdade, o filme até chega a vislumbrar uma possibilidade de ser verdadeiramente bom. 

Mas não, ainda não foi dessa vez que Snyder conseguiu um novo título bom para essa carreira cheia de percalços, e mais baixos que altos. O que melhora muito Rebel Moon – Parte 2: A Marcadora de Cicatrizes é o fato da primeira parte ser quase inalcançável em problemas e falta de propósito. Porém, visivelmente a Netflix resolveu dividir as partes da saga primeiro porque existiria aí a possibilidade de dois sucessos, e não apenas um, e em segundo porque existia de fato um fim de ato bem demarcado no final do título anterior. De qualquer maneira, é bem óbvio que os títulos foram rodados pensando em um trabalho único e contínuo, o que realça as certezas a respeito da hora final dessa parte, justamente a responsável por elevar o todo. 

Em duas horas de duração, o roteiro e a estrutura narrativa de Rebel Moon – Parte 2: A Marcadora de Cicatrizes parecem delimitadas pelo relógio, tamanha é a pontualidade em flagrar o ritmo dos acontecimentos, cronometrados quase sempre nos minutos redondos da produção. A primeira hora é exatamente uma longa preparação, bastante dialogada, para o que virá a seguir, uma explanação sobre o passado dos personagens um pouco longa, os momentos de colheita da plantação de grãos, e o retorno de um personagem que parecia ter saído da produção. Bem menos interessante, esse tomo inicial além de tudo conta com a péssima contribuição do roteiro para desenvolver frases muito bregas e autoexplicativas. 

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Quando o filme completa uma hora de duração, começa então a longuíssima sequência de ação, que irá empolgar ao fã de Snyder e também a quem não tem opiniões inflexíveis. Com tudo o que reclamei a respeito do longa lançado em dezembro, e maldisse o momento que tamanho horror tinha sido produzido, ainda assim consigo zerar as emoções e perceber o quanto há de empolgação clara do cineasta aqui. A partir desse momento, o filme não consegue desmontar seu elo de continuidade, que assume riscos de montar um grande painel de cenas que representam cada personagem, todos em seus quadros de ação. Se não é algo absolutamente original e disruptivo, isso estar inserido em algo de aparência tão paródica quanto Rebel Moon – Parte 2: A Marcadora de Cicatrizes é um movimento de tentativa de redução de danos. 

Como se trata de um filme de Snyder, estão lá os indefectíveis ‘slow motions’ que destroem o ritmo de qualquer coisa, e são aplicados de maneira bem indiscriminada nessa sequência bem cadenciada. Não se pode ter tudo, então o cineasta trata de mostrar em câmera lenta, entre outras coisas, o combate na ponte, e disparos em neon são feitos de um lado a outro; obviamente consigo imaginar que o diretor teve essa brilhante ideia depois de ver por tantas vezes essa sequência, e ter achado tão bonita. Isso coloca Rebel Moon – Parte 2: A Marcadora de Cicatrizes em lugar inferior ao que poderia ter resultado, porque o olhar intransigente do diretor impede de perceber o que cai bem em seus filmes e o que não. 

O que nos deixa conectados em Rebel Moon – Parte 2: A Marcadora de Cicatrizes é o olhar de Djimon Hounsou, um grande ator que já conhecemos há 20 anos. Seja qual for o tamanho da produção e qualidade da mesma, o duplamente indicado Oscar não deixa nenhum elemento intacto entre quem o rodeia inclusive. Aqui não há muito material para trabalhar seu propósito dramático, e ainda assim Hounsou encontra momentos onde seu material humano é evidenciado. A emoção deixa marcada a sua imagem na produção, que Snyder percebe para onde seu filme consegue emocionar, e se fixa nele, com o espectador agradecendo pela enfatização desse talento, a despeito do que ficará na memória. 

Um grande momento

A chegada de James

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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