- Gênero: Drama
- Direção: George Clooney
- Roteiro: Mark L. Smith
- Elenco: Joel Edgerton, Callum Turner, Peter Guiness, Sam Strike, Luke Slattery, Hadley Robinson, Courtney Henggeler, Jack Mulhern, James Wolk, Glenn Wrage
- Duração: 120 minutos
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Fomos transportados de volta para as produções Disney dos anos 90 e 2000, aqueles filmes esportivos baseados em eventos reais, sobre grupos muito improváveis que, a despeito de todas as contra indicações, se tornavam vencedores de sua área? Não. Apenas estamos nos dando conta, dia após dia, que o cineasta George Clooney nos enganou durante algum tempo. Com um início de carreira desafiador, cheio de risco e vestindo o maior número de possibilidades interessantes, seus quatro primeiros longas eram cheios de vigor, resgatando cinemas de vários períodos e organizando revitalizações cheias de estilo e ousadia. Remando para o Ouro, que acaba de chegar ao Prime Video, é o seu nono filme como realizador, e o barco já pendeu para o lado da burocracia faz tempo; esse novo é uma confirmação.
Não que o Clooney ator esteja gozando de últimos grandes feitos. Por incrível que pareça até, sua derradeira incursão, a parceria com Julia Roberts em Ingresso para o Paraíso, tinha algum charme, que é justamente o que tem lhe faltado. Esse ano, teremos novo encontro dele com Brad Pitt, além de um novo protagonismo para Noah Baumbach; podemos estar assistindo a um retorno interessante. Sua última entrega para o cinema, no entanto, é essa preguiçosíssima adaptação de um romance de Daniel James Brown sobre uma equipe de remadores estadunidenses que acabara de ser formada para ser reserva da oficial em 1936, e se sai bem melhor do que o esperado. Tudo o que você precisa saber de relevante para Remando para o Ouro está na frase anterior, e basicamente é isso.
O mais frustrante é notar que tinha um Filme de Verdade pedindo para ser feito ali, Clooney obviamente percebeu isso, porque as rubricas estão em toda parte, mas preferiu deixar essas “coisas menores” no lugar delas, para focar no cansativo triunfo do espírito humano. Em 1936, ano em que se passam os eventos transformados em filme, os Estados Unidos ainda viviam o rescaldo da Grande Depressão, quem não tinha dinheiro estava condenado a não ter qualquer perspectiva de futuro, e a mendicância era uma realidade para grande parte da população. Remando para o Ouro tem cenas, algumas bem sutis e outras até bem pontuadas, onde essa condição à população de baixa renda era refém, sem que houvesse saída possível. Não era pedir demais investir no que estava pedindo para ser contado.
Mesmo um filme igualmente burocrático, cujo melodrama é incontornável como A Luta pela Esperança que Ron Howard dirigiu em 2005 se passando no mesmo período e mostrando a mesma falta de oportunidades dos anos 1930 na América, conseguiu mostrar os elementos inerentes a essa década com empenho. Em Remando para o Ouro, a ausência de qualquer amparo possível, seja emocional, profissional ou estatal, até tem espaço, mas ele parece tímido diante do que o filme quer mostrar, que é uma superação maior que a existência. O que incorre em erro é o fato de que não temos a dimensão da tragédia daqueles meninos, e o filme não consegue transformar Joe Rantz em porta-voz desse grupo a contento. Ou estabelecer um contraste entre seus dois protagonistas, o recém descoberto atleta e seu técnico.
Nada é tão potente quanto poderia ser aqui, e essa é uma frustração que vem sendo observada na carreira de Clooney nos últimos 10 anos, com escolhas de produções como realizador que sempre poderiam ter sido melhores do que se mostraram. São experiências que se mostram sempre em possíveis acertos, e suas escolhas particulares revelam um diretor desinteressado em encontrar as reais motivações de cada projeto. Remando para o Ouro, mesmo esteticamente, é uma obra aquém de suas possibilidades, na maior parte dos sentidos. A maneira frontal como encara a Alemanha nazista, por exemplo, sem definir uma ideia de contraste entre o que vemos e a maneira sem gradação com que filma, poderia ser destinada ao comentário de qualquer outro aspecto de sua narrativa. Chegamos ao cúmulo das corridas não serem necessariamente bem filmadas, não apresentarem qualquer emoção e o espectador passar incólume ao que é verdadeiramente a necessidade do filme.
Se é que existe alguém que possa oferecer destaque ao elenco, creio ser Peter Guinness, como o construtor de barcos e conselheiro veterano, um personagem que o ator aproveita independente dos clichês. Ao resto do grupo, não cabe culpabilização em falta de entrega estando em um projeto que não te motiva a tê-las. Clooney precisa com urgência de uma injeção que renove suas intenções de maneira generalizada, porque o homem que parecia seguir os passos de Warren Beatty no passado, parece ter estacionado no que poderia oferecer ao cinema.
Um grande momento
O incentivo final de George a Joe