Crítica | FestivalFestival do Rio

Nós Duas

(Deux, FRA, LUX, BEL, 2019)
Nota  
  • Gênero: Drama
  • Direção: Filippo Meneghetti
  • Roteiro: Malysone Bovorasmy, Filippo Meneghetti
  • Elenco: Barbara Sukowa, Martine Chevallier, Léa Drucker, Jérôme Varanfrain, Muriel Bénazéraf, Augustin Reynes, Hervé Sogne, Stéphane Robles, Eugénie Anselin
  • Duração: 99 minutos

No começo há o mistério. Duas meninas brincam até que uma desaparece. “Ok, mas onde estão as senhoras apaixonadas?”. Surgem entre quatro paredes as protagonistas Nina (Barbara Sukowa) e Madeleine (Martine Chevallier). Trocam um beijo, apagam a luz para intensificar a pegação. “É mais um pudico o diretor Filippo Meneghetti?”. Nós Duas é um filme enganador, como vivem na mentira as personagens principais, escondendo de todos o relacionamento que têm há anos. O suspense é uma constante e o temor é intensificado pelo desconhecimento do inimigo, afinal todos o são em potencial ou talvez na verdade estejam bem distante disso – e ainda mais forte é pensar que estamos falando de familiares próximos, frutos, filhos amados incondicionalmente.

Num universo de não-ditos, o olhar é o que mais declara e assusta, no que as atrizes e a direção de fotografia colaboram de forma impecável. Mas apesar da tensão sempre à espreita, o cineasta jamais permite que o espectador perca de vista o amor em toda sua singeleza e bravura. Mado e Nina sonham com a mudança de país que possibilitará que sejam quem quiserem, mas o dançar apenas dentro de casa não pode ser caracterizado imediatamente como covardia quando se notam as atitudes que elas são capazes de tomar guiadas pelo sentimento intenso que guardam uma pela outra.

Divulgação

É quase coisa de adolescente a necessidade de drible na dependência e supervisão, a fuga, o boicote, a invasão na calada da noite e a crença no amor como refúgio e o suficiente para sobreviver. Nós Duas, no entanto, é bastante maduro ao afirmar que ninguém muda ninguém, porém adaptações são possíveis e favoráveis, afinal, Nina se vê obrigada a aquietar e Mado a assumir riscos em nome do restabelecimento da vida a dois duas. Mudança de hábito, como o longa-metragem que vem à mente quando toca a canção-tema do casal, versão italiana de I Will Follow Him, hit da comédia noventista estrelada por Whoopi Goldberg.

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Entendamos que cuidado, atenção e apoio em geral são relacionados ao núcleo familiar tradicional (para o bem e para o mal, vide o caso da acompanhante e seu herdeiro), mas nem sempre se fazem presentes, como casamento não é garantia de paixão e carinho. Sofrer em silêncio e amar à sombra deixam de ser opções para Madeleine e azar dos filhos desatentos, desinteressados e preconceituosos, que jamais souberam valorizar seu amor. A personagem com mobilidade e comunicação limitadíssimas é a mais exigida pela trama, Sukowa domina a tela em todo seu esplendor e nós nos apaixonamos pela cumplicidade delas duas.

Um Grande Momento:
“Você tem alguma coisa contra velhas sapatonas?”

[Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro 2019]

Taiani Mendes

Crítica de cinema, escritora, poeta de quinta, roteirista e estudante de História da Arte. Também é carioca, tricolor e muito viciada em filmes e algumas séries dos anos 90/00.
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