- Gênero: Animação
- Direção: Eamonn Butler, Dave Rosenbaum
- Roteiro: Dave Rosenbaum, Tyler Werrin
- Duração: 90 minutos
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Não se pode negar o apelo estético de Riverdance: Uma Aventura Dançante para os olhos famintos das crianças que se aventurarem pela Netflix a partir de hoje. Essa é a primeira estreia em animação do streaming em 2022, e com certeza como vimos no ano passado, ainda virão muitas pela frente. Porém, se o visual feérico e ultra colorido (não se enganem pela presença dos alces monocromáticos) são um convite irresistível, é de analisar se algo tão local pode interessar a crianças menores, sendo que o filme claramente tem um apelo e uma mensagem mais própria aos pequenos; esse é o desafio que irá enfrentar essa delicada produção.
A animação é dirigida por Dave Rosenbaum e Eamonn Butler, e foi inspirada no clássico show de dança homônimo, uma atração que fez muito sucesso mundo afora quando lançado há mais de 25 anos. Consistia em uma coreografia para sapateado que a Irlanda trouxe para o mundo, e rapidamente virou uma febre, provavelmente inclusive reavivando o sapateado como uma arte renovada. Aqui, foi construída uma trama fantástico-juvenil que versa sobre a manutenção de valores familiares que se perdem com a partida dos entes, e em como manter viva as tradições milenares de uma cultura. Para os adultos, o fascínio é alcançado bem rápido (e talvez até se esvazie com igual rapidez), mas as crianças podem ser um problema.
Ainda que a Disney tenha acostumado os pequenos com os musicais sem nem dar “nome aos bois” – sim, quase todo clássico animado é um musical sem qualquer disfarce, lide com isso você que tem restrições ao gênero – o que Riverdance propõe é de natureza mais complexa para as plateias modernas, que precisam de informação sendo fornecida a todo momento. Respeitando o estilo irlandês que consagrou o espetáculo, toda a trama da produção acontece enquanto os personagens não estão na ação musicada, porque o filme literalmente pára para exibir seus números, que não são cantados, apenas dançados em coreografias elaboradas como em live action… ainda que, vez por outra, sejam alces dançando.
São momentos de extrema beleza imagética, que compõem quadros repletos de camadas de cores, de efeitos e de elementos acontecendo simultaneamente. Com uma duração enxutíssima (são quase 20 minutos só de créditos), o cansaço chega até a produção em mais de um momento, mas o filme é uma profusão de beleza estética e de animação, mesmo em meio ao luto. Aliás, o filme ainda consegue ter momentos de ternura mesmo em meio a uma dor que se observa exasperante para uma criança, que precisa se refugiar em um mundo de fantasia para que as respostas façam sentido e seu lugar no mundo seja enfim ocupado, sem medo.
Essa dualidade é marcante em Riverdance, um produto que parece ter dupla função tanto quanto qualquer animação, que precisa divertir crianças e encantar adultos, mas aqui esbarra nas pretensões relacionadas ao cerne de sua própria feitura. Como a Netflix tem um alcance descomunal, o filme com certeza será visto, mas a observação de que faltou um equilíbrio mais adequado na hora de definir suas opções é pertinente. Entre a necessidade de homenagear de maneira eficaz um fenômeno de três décadas atrás e criar um projeto livre para ser apreciado por uma geração sem ligação com o mundo da dança, o filme ficou no meio do caminho, ainda que seduza e divirta em grande parte do tempo.
Um grande momento
A coreografia do velório