- Gênero: Drama
- Direção: Eric Lin
- Roteiro: Eric Lin, Marilyn Fu
- Elenco: Lucy Liu, Lawrence Shou, Orion Lee, Jennifer Lim, Madison Hu, James Chen
- Duração: 95 minutos
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Nunca foi estranho que um determinado ator nunca desafiado, de repente se encontre em determinado momento da carreira onde perceba que uma certa evolução, nunca oferecida a ele, precisa ser batalhada. Os exemplos são inúmeros ao longo dos anos, mas podemos pegar exemplos notórios como Kim Basinger (Los Angeles: Cidade Proibida), Tom Hanks (Filadélfia), Dwayne Johnson (The Smashing Machine), Sylvester Stallone (Copland), Meg Ryan (Em Carne Viva), Sandra Bullock (Um Sonho Possível) e tantos outros. Em Rosemead, Lucy Liu tenta o que suas amigas ‘panteras’ já tinham tentado antes – se provar como atriz dramática. Em uma história inspirada em eventos reais, toda a conotação típica para tal reconhecimento está na ordem do dia, mas o resultado não poderia sustentar o oposto de maneira mais evidente.
O filme é a estreia na direção de longas do diretor de fotografia Eric Lin, que deixa evidente já no plano de abertura seu apreço pela imagem, através do movimento bem competente de um drone até uma janela onde vemos, sem saber, um recorte de flashback por uma fresta. A felicidade de uma família contrasta com a realidade atual dos sobreviventes daquele momento: a mãe tem uma loja modesta e se trata de um câncer escondido do filho, enquanto este tenta esconder sua condição esquizofrênica de todos. Não há spoiler aqui, nem erro de julgamento: Rosemead não tenta disfarçar ou amenizar o que vemos, verbalizando tudo o que é possível sempre que pode, ainda que seu olhar seja terno e (aparentemente) empático.
No entanto, também rapidamente o roteiro de Lin e Marilyn Fu começa a apontar os trilhos de uma tragédia anunciada e infelizmente comum em solo estadunidense. Vai se mostrando então a verdadeira face da obra, que utiliza uma placidez e até alguma parcimônia de ritmo para disfarçar sua abordagem negativa sobre todos os aspectos da narrativa. Com isso, o que aparentava sutileza não passava de uma cortina de fumaça para um tratamento quase sádico na observação das doenças dos personagens, sejam de ordem física ou psicológica. Ao redor de seus atores, estão grafados na imagem colocações que ultrapassam o clichê para encontrar a caricatura, nos corpos, nos planos, e no desenvolvimento.
E não precisamos nem ir além da imagem não, porque estão impressos nela alguns incômodos óbvios em relação a representação de seus protagonistas. Joe é um rapaz jovem que sofre com sua condição de saúde mental, e isso é transportado para a narrativa através de uma montagem clipada e inorgânica ao que o filme é. Além disso, ele é seguido por sombras ameaçadoras que poderiam ser confundidas com os fantasmas do mal de Ghost. Já Irene é uma mulher comum, que talvez por ser asiática, anda como uma gueixa – ou ao menos essa é a visão estereotipada que a direção tem de seus personagens. Onde a cadência da produção indica um olhar mais cuidadoso, é só se aproximar de Rosemead com maior atenção para perceber que suas intenções são falhas.
Assim sendo, com o trabalho comprometido tanto estética quanto narrativamente, Lucy Liu e Lawrence Shou correspondem como podem aos comandos. O que teria, na superfície, algo para ser apresentado na defesa de ambos, não precisa de um mergulho profundo para mostrar-se raso. No clímax de Rosemead, onde Irene tem uma catarse compreensível, a construção conjunta já boicotou o suficiente o que assistimos, restando ao espectador acatar a uma outra espécie de tragédia, que é consumida de uma maneira até surpreendente. Mas nesse caso, a culpa não é da escrita em especial, e sim dos fatos verídicos que inspiraram a produção, e trazem esse respiro de tensão verdadeira, que até aquele momento mais se assemelhava a um pastiche de questões prementes de hoje.
Talvez por esse final inesperado, e do filme forçar uma outra leitura a respeito da condição de seus protagonistas a todo tempo, algum benefício é acompanhado da sessão. Se não fosse por tal resolução, a intrigante história entre mãe e filho, onde pouco afeto é aplicado, passaria como uma atração esquecível de uma seleção de temporada. O susto de encontrar um retrato tão equivocado acerca da constituição de seus personagens e suas enfermidades, provoca o afastamento de Rosemead, que ao seu fim nos faz lembrar que sua premissa é suficientemente chocante. Não que isso mude o resultado como um todo, mas acaba acrescentando ainda uma camada onde já não se esperava muito mais.
Um grande momento
O plano inicial


