- Gênero: Drama romântico
- Direção: Ingvild Søderlind
- Roteiro: Marta Huglen Revheim
- Elenco: Elli Rhiannon Müller Osborne, Frode Winther, Kirsti Stubø, Mathias Storhøi, Ines Høysæter Asserson, Filip Bargee Ramberg, Sammy Germain Wadi
- Duração: 95 minutos
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A produção norueguesa Royalteen fez sucesso quando estreou na Netflix, como tantos outros títulos a alcançar esse feito, ano a ano. Assim também como tantos, uma continuação foi garantida – ou, aqui no caso, até já estava previamente acertada. Estreia então Royalteen: Princesa Margrethe, novamente com enormes chances de figurar entre os mais assistidos de seu mês. Um dado precisa ser detalhado, no entanto: o original era um filme absolutamente descartável, esquecível de tudo, até com alguns traços negativos, mas que acima de tudo, ninguém guardou na memória a sua trama. Isso é uma constante no canal. Com um volume de produção enorme, e filmes para preencher catálogo sendo lançados a granel, alguns títulos simplesmente somem. Corta para a sessão da continuação onde esse desespero se faz presente: quem é essa gente?
Hipérboles à parte, talvez seja mesmo melhor que a memória tenha evaporado com o primeiro título, porque algum feitiço aconteceu e o filme cheio de nadas acontecendo anteriormente foi substituído por seu oposto. Praticamente tudo que acontece em Royalteen: Princesa Margrethe nos interessa rapidamente, ainda que a memória nos tente fazer fugir do que se percebe ao longo da produção: a obrigatoriedade de esquecermos a origem desse filme. O sentido aqui é de tamanha disparidade, que chega-se facilmente à conclusão de que não há necessariamente a obrigatoriedade de termos assistido ao primeiro; a história aqui é independente em absoluto. O lado bom de ter assistido o anterior é a acachapante sensação de surpresa ao estar de frente da obra nova.
A primeira providência observada de um a outro é a mudança de direção e roteiro. Embora ainda adaptados da série de livros sobre a visão adolescente a respeito de uma família real escritos por Randi Fuglehaug e Anne Gunn Halvorsen, agora em Royalteen: Princesa Margrethe os acontecimentos exclamam urgência e melancolia. No que antes, mesmo onde residia uma certa preocupação, sobravam frivolidade e pequenez, a mudança de tom aprofunda o que estamos assistindo. Agora sim sentimos o peso de caminhar sobre uma linha onde não se quer estar, mas cujo destino é inescapável. E isso não está resumido à personagem-título, mas distribuído pela atmosfera como um todo. É um peso que acredita-se verídico, e a produção acerta ao compreender que a fase de maior mudança na vida de alguém – a adolescência – é o lugar ideal para uma ideia de rebeldia que, na maior parte das vezes, apenas se volta contra o indivíduo.
Não há espaço em Royalteen: Princesa Margrethe para uma certa leveza que perdurava no capítulo anterior, e talvez a mudança de comando tenha sido pensado, independente da qualidade do resultado. Estamos diante de uma produção finalmente feminina, nas mãos de Ingvild Søderlind e Marta Huglen Revheim, diretora e roteirista, respectivamente. Isso lega ao filme sensibilidade na hora de descrever uma pessoa em constante crise de ansiedade, vício em remédios controlados, mas ainda assim refém de uma idade os hormônios não pedem licença pra explodir, e bagunçar corpo e alma. Não estamos diante de uma abordagem sombria ou depressiva, embora essa seja uma doença enfocada; o filme compreende aqueles personagens, não precisa intoxicá-los com demandas de narrativa.
Apesar da clara evolução entre produções, não podemos negar que o filme anterior existiu, os mesmos atores continuam a corporificar os personagens. Por isso, sinto que o filme sacrifica de maneira muito consciente os protagonistas anteriores, sendo que Margrethe era um tipo ativo lá no capítulo. Aqui, Lena e o príncipe Kalle quase não passam de figurantes em cenários onde já tiveram predomínio. É drástico o suficiente para tornar-se deslocado, sem respeito por quem tinha se dedicado – e até gostado, porque não? – da experiência anterior. O protagonismo passa a ser ocupado por Margrethe e seus pais, os reis da Noruega. Já que foi feito de tal forma a encorpar seus personagens, espero que a aventura seguinte abra de vez mão do ‘teen’ para focar exclusivamente no ‘royal’, porque estamos diante de dois personagens muito promissores – rei e rainha estão ainda mais definidos aqui, e suas histórias renderia longas ainda mais interessantes.
Entendam, não é como se fosse possível afirmar que Royalteen: Princesa Margrethe é algo que poderia competir em Cannes. O susto é muito maior tendo em vista o quão pueril era o episódio anterior, e aqui o peso das obrigações, de uma luta interna com o que não se escolheu, está impresso no valor das imagens. Seu trio principal carrega esse DNA do desgaste emocional com muita galhardia, e o trabalho de Elli Rhiannon Müller Osborne é de fato especial. Talvez por todo esse capricho, seja demais aceitar que o filme encerre esse capítulo de maneira tão leviana, como se fosse possível vencer essa dor com uma sacola de lixo. Mas não podemos nos esquecer do avanço, ele é “real” – e impressiona.
Um grande momento
O desabafo entre a filha e os pais