Crítica | FestivalMostra SP

A Valsa de Waldheim

(Waldheims Walzer, AUT, 2018)
Documentário
Direção: Ruth Beckermann
Roteiro: Ruth Beckermann
Duração: 93 min.
Nota: 8 ★★★★★★★★☆☆

Depois de dez anos como secretário-geral da ONU, Kurt Waldheim deixou a carreira diplomática para concorrer à presidência da Áustria e foi eleito. Antes de tentar a reeleição, o jornal americano The New York Times revelou ao mundo um passado pouco comentado do político: ele fora capitão das Tropas de Assalto nazistas e participara da invasão na Iuguslávia.

Quando uma onda de extrema-direita, com várias características fascistas, varre o globo e chega novamente ao poder na Áustria, o documentário A Valsa de Waldheim chega para falar sobre a manipulação, a construção do ódio e tantas outras características que possibilitam esse tipo de movimento reacionário.

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O público é apresentado à questão austríaca nos meados dos anos 1980, com protestos contra o então candidato. A multidão toma a tela com cartazes contra o anti-semitismo e é repreendida pela polícia, que tenta dispersar a multidão. “Em uma democracia a polícia não pode fazer isso”, alguém grita. Do personagem principal, chegam discursos que exaltam a família e a religião, demonstrando o extremismo religioso que cada vez mais cresce no mundo.

As denúncias, amparadas pelo Congresso Mundial dos Judeus, são de apoio à tortura, execução e deportação de judeus. A posição de Waldheim é explorada várias vezes, em entrevistas dadas à época. A relativização das mortes é constante: “partisans foram mortos, mas vários alemães morreram também.”

O clima de tensão e polarização toma as ruas. Judeus protestam contra a candidatura, mas são agredidos e tudo o que dizem é considerado mentira. O anti-semitismo encontra legitimação na figura do presidente. O resto do mundo grita, mas é ignorado. “Quem sabe o que é bom para a Áustria são os austríacos”.

Tradicional na forma, com uma boa pesquisa de arquivo e uma narração batida, tudo o que se vê na tela, pode ser visto da mesma maneira fora da sala de cinema e não só dizendo respeito à volta do FPO ao poder na Áustria. Está em vários outros lugares do mundo e aqui, exatamente agora, no Brasil. Seguindo a onda bannoniana, que prega uma filosofia de exclusão e, para isso, usa a irrrealidade e a desconsideração de fatos e da verdade, as causas e reações de A Valsa de Waldheim, lá na Áustria, no final dos anos 1980, podem ser atualizadas e abrasileiradas prontamente.

É a roda da história que não para de girar e se repetir nunca. É o desconhecimento e a ignorância da história do mundo e que faz com que isso aconteça. E, mais triste, é aquilo que há de pior na raça humana que se aproveita de momentos como esse para legitimar o que há de mais odiento no indivíduo e nas relações sociais.

Um Grande Momento:
“Eles amam judeus, desde que não abram a boca.”

Próxima sessão na Mostra:
Dia 27, às 19h40 – Cinesala

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[42ª Mostra de São Paulo]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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