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Táticas do Amor

Fórmula que dá certo

(Ask Taktikleri, TUR, 2022)
Nota  
  • Gênero: Romance
  • Direção: Emre Kabakusak
  • Roteiro: Pelin Karamehmetoglu
  • Elenco: Demet Özdemir, Sukru Ozyildiz, Atakan Çelik, Dogukan Polat, Özgür Ozan, Deniz Baydar, Hande Yilmaz, Ecem Atalay, Yasemin Yazici
  • Duração: 97 minutos

Se em Volta pra Mim, a ideia de reconduzir às comédias românticas de sucesso em outrora advinham de um olhar para as pessoas comuns deslocadas, os perdedores sentimentais e suas escolhas equivocadas muito bem incrustadas em suas vidas, a produção turca Táticas do Amor, que estreou na Netflix já com enorme sucesso, tem algo da screwball comedy do passado, acrescido também de um olhar firme na direção do oposto ao que o filme de Jason Orley propõe – aqui, o foco é nos vencedores e em sua vida de infinitas possibilidades, tanto esteticamente quanto financeiramente. São pessoas para onde o sol brilhou em definitivo, obviamente não emocionalmente… afinal, não teríamos filme se não fosse por isso.

O diretor Emre Kabakusak é especialista em séries locais, a maioria delas envolvendo questões românticas nos enredos, o que faz com que observemos como ele está à vontade por aqui. O roteiro de Pelin Karamehmetoglu não tem muitas sofisticações, é direto no que imagina e não dispensa clichês que nos fazem antecipar a trama, com alguma frequência. Na verdade, há uma inspiração meio explícita no sucesso Como Perder um Homem em 10 Dias, onde Kate Hudson e Matthew McCounaghey tentam sabotar a relação que construíram por meio de apostas. A ideia aqui é a mesma, e o filme tem o mesmo clima de sedução e uma colcha de enganos amorosos.

As referências às “comédias malucas” (e também uma pitada de vaudeville) se valem justamente porque muitos desses títulos giram em torno de uma guerra dos sexos, onde homens e mulheres tentam provar seus pontos, ao passo que várias coincidências, situações surreais e armadilhas incomuns se arrastam pela produção. Táticas do Amor tem soluções visuais, como a tela dividida em dois para situar seus protagonistas ao mesmo tempo, situações gêmeas que ambos vivem em lugares diferentes e que unem sua ação, e um clima constante de competição no ar, que coloca dois personagens em ponto de colisão enquanto não percebem que o cupido já os flechou.

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Táticas do Amor
Netflix

Ser ambientado na Turquia é um plus de charme, porque o filme já ambienta sua narrativa em um universo de pessoas (muito) bonitas e (muito) ricas, e não tenta exotificar a própria terra, mesmo tendo consciência que se trata de um produto para exportação da Netflix. O país apresentado é um regido por homens e mulheres de negócios, muito bem sucedidos e cuja única preocupação deveria ser o desamor que os segue, mas que não é percebido como um problema – embora seja, na narrativa. O deslocamento momentâneo para a região da Capadócia só eleva os cenários naturais que são aproveitados pelo filme, e que talvez justifique parte desse interesse por um título com atores não-testados.

Tanto Sukru Ozyildiz quanto Demet Özdemir são as peças centrais do elenco e funcionam muito bem, juntos ou separados. Tem química pra dar e vender, são muito bonitos, tem o talento necessário para compor esse jogo de gato e rato, e intensificam as cenas que podem com muito carisma e alguma sensualidade – como na tradição das “comédias malucas”, o filme não explora o sexo entre seus protagonistas, mas a química que esse encontro potencializa. O filme também nos prega uma peça, ao filmar essa dupla com possibilidades artísticas que são eventualmente elevadas, ao que percebemos que ambos não apenas pessoas bonitas.

Todo o clima de Táticas do Amor é uma delícia por si só, deixando o espectador entretido com uma história que já vimos ser contada antes, com desdobramentos esperados e um encadeamento cheio de chavões – o homem com um passado de abandono que se transforma em machista, a mulher que cresceu profissionalmente e não deu conta do emocional, e muitos etcs. Mas, filmado com beleza e elegância e cheio dos elementos que reconhecemos em tantos lugares no qual identificamos nossa memória cinematográfica afetiva, o filme justifica seu sucesso e, muito rapidamente, estamos torcendo por Asli e Kerem.

Um grande momento
O piano

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Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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