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Volta pra Mim

Errar faz parte do amor

(I Want You Back, EUA, 2022)
Nota  
  • Gênero: Comédia, Romance
  • Direção: Jason Orley
  • Roteiro: Isaac Aptaker, Elizabeth Berger
  • Elenco: Charlie Day, Jenny Slate, Scott Eastwood, Gina Rodriguez, Manny Jacinto, Clark Backo, David Blumm, Giselle Torres, Isabel May, Quinn Cooke
  • Duração: 111 minutos

Aquele conceito que algumas comédias românticas utilizam (ou já utilizaram – tanta coisa mudou, as comédias românticas já não são mais as mesmas, nem sucesso no cinema fazem mais…) de que a verdade está bem embaixo do seu nariz e você não percebe, está de volta sendo utilizado neste gracioso Volta pra Mim, estreia da Amazon Prime Video graças ao Dia de São Valentim, o Dia dos Namorados na América do Norte e na Europa. Estrelado por pessoas improváveis, absolutamente comuns enquanto personagens e também na escalação do elenco, o filme aposta neste conceito que deu certo durante tantos anos, e agora parece fazer pouco sentido, tendo em vista que o público mudou.

A carreira de Jason Orley está apenas começando, ele esteve como ator em Um Senhor Estagiário e esse é o segundo filme dele como diretor, no que acaba demonstrando confiança para reproduzir um gênero que nos deu tantas obras inesquecíveis em seu último grande ato lançou Meg Ryan, Sandra Bullock e Julia Roberts para o mundo. Aqui, o jovem encontra no roteiro dos também produtores Isaac Aptaker e Elizabeth Berger uma fórmula simples, porém funcional, de readaptar os tempos cínicos que estamos vivendo a valores tão singelos – como diria o Jota Quest, encontrar alguém que te dê amor. Poderia ser mais trivial?

Volta pra Mim
Amazon Prime Video

Um dos trunfos que Volta pra Mim carrega é a ausência da percepção do casal de protagonistas em relação a seu crescimento emocional e intelectual, conforme se abrem para o novo. As vidas de Peter e Emma estavam estagnadas em uma espiral de conformismo, em relação a suas próprias ambições e aspirações, e não apenas em seus relacionamentos. Em determinado momento, Noah pergunta para sua ex: “porque você quer tanto voltar pra mim, se parecia sempre tão desmotivada em nossa relação?”. As pistas vão sendo jogadas durante toda a produção, mas sem o acréscimo de trilha e roteiro sublinhado nessa direção.

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O filme mostra que essa pessoas não precisavam apenas de amor próprio para lidar com namoros desgastados que se arrastavam na sua direção por comodismo, mas principalmente que suas trajetórias estavam emperradas, e esses compromissos eram apenas um dos fatores em processo de deterioração. Cada um em seus motivos, o fim desses romances não os faz perceber que suas vidas precisavam de um novo direcionamento como um todo, para sacudir todo um estado de coisas. Ao sair em suas missões particulares, Peter encontra motivação física e Emma encontra uma saída psicológica para lutar contra seus fantasmas.

Volta pra Mim
Amazon Prime Video

A participação de Charlie Day e Jenny Slate à frente do projeto é importante para que o projeto ganhe sentido. Ambos parecem muito desconfortáveis em seus lugares nos primeiros 10 minutos, mas se saem muito melhor quando adquirem a confiança para explorar seus dotes enquanto artistas. Esse desconforto inicial é o pontapé para que ambos tenham grandes cenas, ela na apresentação infantil de A Pequena Loja dos Horrores e ele em uma performance, digamos, aquática. Em determinado momento, ambos estão senhores de seus tipos de tal forma que o plano final do filme – que pode irritar os imediatistas – faz sentido e, de alguma forma, ainda me faz lembrar ‘Sintonia de Amor’, um clássico das impossibilidades.

Sem pretensões descomunais, Volta pra Mim tem o espírito do passatempo e da leveza, mas com as qualidades reconhecíveis em um trabalho acima da média que nos permite enxergar momentos de rara delicadeza (toda a relação de Emma com o pequeno aluno com o qual faz amizade) unidos a uma trilha sonora deliciosa, e um comprometimento de todo o elenco para que essa história dê certo e da maneira mais plausível. Construído com precisão, o filme poderia servir como exemplo do lugar onde a comédia romântica pode voltar a estar, sem esgarçar o terreno da produção teen exclusivamente, e se estiver disposto a investir em gente comum vivendo situações cotidianas com naturalismo e sinceridade.

Um grande momento
A chegada do pai

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Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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