Ontem foi um dia triste. João foi embora para nunca mais voltar.
Foi fazendo o que gostava, ao lado de pessoas que amava, durante o festival Cine-PE, no Recife. De repente, sem avisar, só com 44 anos. Cedo demais!
João era daqueles que fazia toda a diferença onde estivesse. Divertido, bem-humorado e boa gente, era figurinha certa nos festivais desse nosso Brasil. E sempre se destacava antes, entre ou depois das sessões.
Conversando, rindo e, às vezes, como no último Festival de Brasília, se emocionando. Sempre sorrindo, sempre simpático, vivia cercado de amigos e ainda arrumava um jeito de resgatar aqueles que estavam chegando, tímidos, sem conhecer muita gente. Comigo foi assim.
Muitos anos e festivais passaram e nos encontramos muitas vezes depois. A última delas, na Mostra Tiradentes deste ano. Almoçamos juntos, naquele natureba subterrâneo que quem cobre a mostra conhece bem. Lá falamos e rimos muito. Um intervalo para lá de divertido na correria de um festival.
Agora João foi animar e levar seu axé para outro lugar, que ganha muito com isso. Já os festivais, esses ficam mais tristes e com aquela cadeira ocupada apenas pela lembrança que ele deixou. Mas ela não poderia ser mais linda.
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Nascido em Aratuípe, Bahia, João Carlos Sampaio era jornalista e crítico cinematográfico. Torcedor do Vitória, escrevia para o Jornal A Tarde desde 1995. Figura importante para a cinefilia, estudou, escreveu e falou sobre a sétima arte, além de selecionar e analisar filmes para festivais locais. Nos sets, fez assistência de direção e chegou a atuar. É sócio-fundador da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine).
Ontem (02), João foi homenageado no palco do Cine-PE pela associação que ajudou a criar. Ao entregar o prêmio de melhor fime ao documentário português E Agora? Lembra-me, de Joaquim Pinto, o júri da crítica leu como justificativa um texto seu desta semana sobre o filme:
“Dores no corpo e na alma diante da angústia de ter os dias contados… e esse dolorido confrontado com um estranho ‘carpe diem’. Um jeito de lidar com o tempo que resta, que não se submete ao desespero pela alegria, ou ao arrebatamento da festa, mas por algo que é quase o oposto da euforia. Uma celebração quase religiosa do tempo, como se um dia inteiro coubesse numa tarde morna, acomodada em afetos demorados, intensos sentimentos e silêncios… Tô falando de E Agora? Lembra-me, filme do português Joaquim Pinto, exibido no 18º Cine PE. Coisa finíssima!”
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