Crítica | Festival

The Bitcoin Car

Absurdo dourado

(Bitcoinbilen, NOR, 2023)
  • Gênero: Comédia
  • Direção: Trygve Luktvasslimo
  • Roteiro: Trygve Luktvasslimo
  • Elenco: Sunniva Birkeland Johansen, Henrik Paus, Zoe Winther-Hansen, Espen Beranek Holm, Johannes Winther Farstad, England Brooks, Irene Ågot Sundsfjord, Marianne Eline Jakobsen
  • Duração: 94 minutos

As poses do modelo no gerador de Van de Graaff e a esquisita passageira com o capacete de metal na fila de embarque do começo de The Bitcoin Car denotam estranheza, mas não são nada perto de toda a maluquice que se vai encontrar na experiência nonsense do diretor Trygve Luktvasslimo que mistura agricultura sustentável e criptomoedas. O velho Toyota dourado e reluzente de Iris, apresentado em um absurdo número musical, já é o convite para que o espectador entenda o tipo da jornada e decida o modo como vai encará-la.

Com muito ouro espalhados na tela, a narrativa satírica e excêntrica conta a história de dois irmãos que se reencontraram na casa dela no campo. Ele é o modelo, ela a agricultora, e o lugar sofre com a chegada de investidores gananciosos que querem explorar suas terras em busca de criptomoedas. Sim, é uma premissa não faz sentido nenhum, mas alegoricamente está cheia de significados possíveis. Há toda uma organização social, política e econômica em torno da chegada desses forasteiros; a dinâmica de benefícios e a falácia do desenvolvimento; o desrespeito às tradições e à história; e a resistência e a consciência ambiental.

O diretor não poupa no desfile de personagens estranhos, desde os protagonistas e antagonistas até as próprias criptomoedas, que têm direito a uma representação para chamar de sua. O roteiro todo é inspirado, mantendo o humor ácido no limite, com seus encontros e detalhes, e olha que ele vai do fantasmagórico ao celestial. Se no começo Iris troca a recauchutagem do carro pela construção de uma mina no lugar onde seus pais estão enterrados, é pelo geólogo que descobre o vazamento causado pela exploração do solo que ela se apaixona, e é com a morte de uma de suas ovelhas com nome de doença venérea que ela decide se tomar uma atitude definitiva.  

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O emaranhado nonsense é filmado com muitas cores, em planos abertos, destacando o bucólico para fortalecer sua metáfora. A boa direção de atores, que ainda precisam encarar números musicais inusitados, alguns mais longos do que o necessário e outros sensacionais, como o que emula um clipe oitentista “Death Unite Us”, faz com que Luktvasslimo consiga bancar a sua aposta ousada. Ter a talentosa e carismática Espen Beranek Holm encabeçando o elenco ajuda, é claro. Mesmo que seja um longa construído essencialmente de excessos e absurdos, The Bitcoin Car mantém o ritmo e, com sua ironia e humor afiado, prende o espectador. É uma maluquice, mas diverte. 

Um grande momento
“Death Unite Us”

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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