Crítica | Outras metragens

The Door

Do lado de lá

(The Door, CAN, 2024)
Nota  
  • Gênero: Ficção
  • Direção: Alexander Seltzer
  • Roteiro: Alexander Seltzer
  • Elenco: Tanaya Beatty, Raymond Ablack
  • Duração: 13 minutos

Uma vida que desmorona frente ao luto. Essa é a história por trás de The Door, curta de Alexander Maxim Seltzer. Nele, a perda é concreta e o tempo é o que se segue ao desespero natural dos primeiros momentos de eventos do tipo. A protagonista é a Kara, que lida há um ano com a ausência de Ellie, sua filha pequena. Na mesma casa que com ela viveu, cheia de silêncio e vazio, essa mãe se desfaz das últimas lembranças. Felix, o pai, é o outro ser que surge. À sua maneira, e não mais presente na rotina, já que o casamento não sobreviveu aos acontecimentos, ele também sofre com a partida da criança.

O filme parte do incerto e vai se preenchendo com diálogos amargos que dão conta da complexa ruptura do casal, do relacionamento dos dois e de como eles convivem com aquilo que se passou. A incompreensão dos fatos, dos atos e sentimentos oscilantes que ultrapassam o indivíduo impossibilitando o seguir em frente são expostos. Embora haja um certo desequilíbrio nas atuações, com Tanaya Beatty mais consciente e Raymond Ablack vacilante no tom, diálogos e trama despertam a curiosidade. Se o mistério é inusitado, a escolha da forma, até ali, é acertada para que outras interferências não prejudiquem a experiência.

O doméstico e familiar vai se transformando aos poucos. Existe um envolvimento com as pessoas e com sua história, até mesmo uma predisposição para eventos fantásticos que possam surgir. O caminho foi bem pavimentado, mas ele não vai necessariamente levar onde é mais fácil deduzir. Seltzer busca, sim, o cinema de gênero e trabalha com seus elementos para tomar outro rumo, ainda mais interessante. 

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Excessos estão por todo lado, como na sequência da corrida, mas são minimizados quando se concretiza a improvável e inesperada criação elíptica. Narrativas “quânticas”, onde possibilidades e alternativas se tornam realidades lógicas, têm um charme especial. Interessante em seu conto fantástico e potente na metáfora, The Door desperta a curiosidade de quem assiste ao filme para tratar de algo bem menos fantasioso e nada dado a outras possibilidades, daquela que talvez seja a maior dor de uma pessoa: a perda de um filho.

Um grande momento
Emassando

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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