drama
Criador: Bruce Miller
Temporada: 1-3
Elenco: Elisabeth Moss, Amanda Brugel, Madeline Brewer, Max Minghella, Yvonne Strahovski, Joseph Fiennes, Ann Dowd, Samira Wiley, Nina Kiri, O-T Fagbenle, Bahia Watson, Alexis Bledel
Duração média: 60 min.
Canal Hulu
O país se encontrava numa profunda crise política e econômica, o mundo passa por uma situação inédita de saúde que afetava o futuro de uma geração (quiçá da raça humana), uma onda defensora de costumes ultra-conservadores ascende, inicia-se uma defesa de eugenia e de punições mais severas, incluindo tortura e morte. Neste pano de fundo, a maioria da população (egoísta ou ignorante) apoiou a implantação de um sistema de governo baseado no mal, para fazer o mal de forma total e institucional, como banal.
Depois de um ataque terrorista que matou o presidente e boa parte do Congresso dos Estados Unidos, um movimento fundamentalista cristão estabelece a República de Gileade com um golpe (para restabelecer a ordem) que não apenas elimina a Constituição, como reorganiza a sociedade em castas e funções sociais, em um governo militar totalitário baseado no Antigo Testamento, que atribui novas dimensões sociais às mulheres e suprime os direitos humanos.
Por conta da crescente infertilidade, as poucas mulheres férteis ganham uma nova função na sociedade e são denominadas aias. Elas são designadas para casas dos líderes de governo e são submetidas a estupros ritualizados. A personagem principal vivida por Elizabeth Moss (Her Smell) é uma delas e foi designada a permanecer na casa do Comandante Fred Waterford (Joseph Fiennes, de Shakespeare Apaixonado) e sua esposa Serena Joy (Yvonne Strahovski, de Anjo Meu). Ofred (de Fred), antes de tudo isso, chamava-se June Osborne, era mãe, esposa, tinha amigos, trabalho, escolhia suas roupas, seus livros, o que gostaria de fazer ou pensar e com quem se relacionar.
Além do Comandante e esposa, personagens como Tia Lydia (Ann Dowd, de Hereditário) – responsável por instruir e tutorar as aias, bem como torturá-las e mutilá-las – vivem naturalmente este papel terrível que lhes foi atribuído, sem qualquer compaixão, parecendo apenas, como diria Hannah Arendt, “se ocupar quase que exclusivamente com a manutenção da vida e a salvaguarda de seus interesses”, o que torna ainda mais sólida aquela ideia de mal como causa de mal sem fundamento. Ilustram-se as ideias arendtianas que, após o julgamento do nazista Eichmann, tentam entender que, por trás de ações criminosas e atrozes, há o sentimento de cumprimento de dever, sem reconhecimento de culpa, apenas a prática do mal como se fosse uma banalidade.
Claro que o viés religioso ajuda na consolidação deste Estado ortodoxo e repressor. O enredo é repleto de rituais e regras que estariam “previstos” na Bíblia, conforme a interpretação que foi dada para aquela situação, e colaboram para uma das principais características da banalização do mal: a ausência do pensamento, pois anula a necessidade de responsabilidade e o entendimento da dignidade do outro. Este é o peso da série: cada episódio leva a uma perplexidade ou indignação que permite para poucos uma maratona. Mas é por este motivo que se tornou tão relevante e indispensável, além de sugerir aquela torcida pela rebeldia que às vezes parece trazer uma esperança (mesmo que pequena).
Em um mundo como este apresentado pela distopia na série, silenciar não pode ser uma opção, é como se esquivar da tarefa de pensar e ter responsabilidade sobre qualquer ação para evitar atrocidades. A questão é simples: enxergar tanto a realidade apresentada em The Handmaid’s Tale – O Conto da Aia, como a nazista estudada por Arendt, ou como a nossa atualidade tão instável e que possui tantas falas parecidas, muitos personagens repetidos e contextos que levam cidadãos a serem envolvidos em uma trama perversa, a fim de manterem um status (honra, fé, quo), reproduzindo o mal de forma tão comum.
O melhor episódio
S02E12: Postpartum
Com Bruna Bites
The Handmaid’s Tale