Crítica | Outras metragens

The Möbius Trip

Viagem sem fim

(The Möbius Trip, GBR, 2023)
Nota  
  • Gênero: Ficção
  • Direção: Simone Smith
  • Roteiro: Simone Smith
  • Elenco: Fiona O'Shaughnessy, Stephen McMillan, Mirren Mack, Andrew Flanagan
  • Duração: 17 minutos

Pegue uma fita, torça uma de suas pontas e una uma extremidade à outra. Você acaba de construir uma fita de Möbius, um objeto sem começo e sem fim, aquilo que conhecemos como o símbolo do infinito. Essa é uma ótima representação da infernal viagem de carro sem fim de uma família rumo a um casamento na Escócia. Não à toa, está ali no título do curta-metragem, The Möbius Trip, dirigido por Simone Smith.

Presos em um espaço restrito, com os movimentos limitados, sem nenhuma possibilidade de fuga e numa estrada sempre igual e infinda, quatro pessoas estão desesperadas para chegar em algum lugar. A ansiedade e o nervosismo são mais do que perceptíveis, ocupam mais lugar do que Maren, Jacob, Ivy e Clit e sufocam. Todos os detalhes, por menores que sejam, incomodam. São pequenas preocupações com coisas que só mesmo a pessoa consegue ver, irritações com as manias do outro e aquelas posturas onde a excitação é resultante do cansaço.

A câmera claustrofóbica de The Möbius Trip percorre opressivamente aquelas pessoas e Smith demarca como cada uma delas reage à situação, seja imprudentemente se embriagando para fugir; fingindo uma calma inexistente; se iludindo com a situação que encontrará no futuro, ou tentando simular que não está ali e fumando sem parar. Há muitos elementos que se colocam ali para provocar ainda mais conflitos entre eles: a fita com palavras de autoajuda, a música, o cobertor e uma tensão que não para de aumentar, assim como o buraco da meia e a loucura do esmalte vermelho em volta do rasgo que não detém seu progresso.

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A briga que se espera desde o princípio finalmente chega, com muita gritaria e confusão, tomando conta da câmera e levando o caos para dentro daquele microespaço. Isso se segue até que um outro elemento chega para mudar as coisas, descambando para algo que mantém a desordem (ou seria melhor dizer a extrapola), mas leva a uma possibilidade temporária de libertação em conjunto, uma viagem dentro da viagem, agora com outras possibilidades estéticas.

Mas a viagem é de Möbius e como qualquer coisa que seja infinita, sabemos onde vai levar. Não deixa de ser angustiante, mas também é muito divertido. E Smith é habilidosa na construção dessa tensão e na manipulação dos sentimentos. Assim, The Möbius Trip é, sem dúvida, uma bela e eficiente experiência.

Um grande momento
Liga e desliga o rádio

[19º HollyShorts Film Festival]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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