Série em Cenas

The Studio

(The Studio, EUA, 2025)
  • Gênero: Comédia
  • Criador: Seth Rogen, Evan Goldberg, Pedro Huyck, Alex Gregory, Frida Perez
  • Canal: AppleTV+
  • Elenco: Seth Rogen, Catherine O'Hara, Ike Barinholtz, Chase Sui Wonders, Kathryn Hahn, Bryan Cranston, Keyla Monterroso Mejia, Dewayne Perkins, Greta Lee, Martin Scorsese, Olivia Wilde, Zoë Kravitz, Ron Howard, Charlize Theron, Adam Scott
  • Duração: 70 minutos

The Studio começa nesse terreno que Hollywood adora fingir que não existe. O lugar onde as decisões são tomadas por planilhas, onde a arte precisa caber num orçamento e onde o caos é sempre tratado como se fizesse parte do planejamento. A série assume esse cenário com muita ironia, como se estivesse permanentemente rindo do próprio sistema que a produz. E há algo de quase libertador nessa recusa em suavizar o ridículo que movimenta a engrenagem.

A cada episódio, fica claro que o estúdio do título é um organismo em colapso contínuo. Tudo vibra num ritmo acelerado, às vezes grotesco, e quase sempre absurdo. Voltado a cinéfilos inveterados, o humor nasce dessa deformação, dessa capacidade de fazer seu público reconhecer na ficção uma lógica que já conhece demais da realidade. É o tipo de humor que não depende de punchline; depende de constrangimento, de exagero, de reconhecer que todo mundo ali acredita estar salvando o cinema enquanto mal consegue salvar a própria reputação.

O desenho formal acompanha o sarcasmo. Os planos criam uma sensação de vertigem, como se o espectador fosse arrastado para dentro da rotina frenética do estúdio onde nada fica parado, nada se acomoda. The Studio respira correndo, não tenta esconder seus tropeços e usa a própria desorganização como comentário do que significa criar em um ambiente tomado por interesses corporativos. A composição visual reforça o caos, mas sem transformar tudo em cinismo barato. Existe um cuidado estético que impede a sátira de se tornar apenas má vontade.

Seth Rogen funciona como uma espécie de núcleo instável. Ele interpreta um chefe que acredita comandar o mundo, mas vive entre crises de ego, inseguranças e tentativas patéticas de manter alguma relevância. Há charme e desconforto na medida certa. O elenco em volta acompanha o tom, sempre oscilando entre convicção e autoparódia. Essa elasticidade dá consistência ao universo da série, embora por vezes a insistência em certos traços cômicos enfraqueça o frescor de algumas situações.

Conforme avança, The Studio se revela sobretudo um comentário sobre o abismo entre o discurso de pureza artística e a prática industrial que sustenta o cinema hoje. Não é uma série que busca atacar ou defender Hollywood, e sim encarar sua estrutura como espetáculo. Essa postura política é menos declarada e mais insinuada, o que combina com o formato. A crítica existe, mas aparece no sorriso torto, no silêncio que dura demais, na imagem que se sustenta um pouco além do necessário.

A série encerra a temporada perguntando mais do que respondendo, como se o próprio estúdio continuasse funcionando na ausência da câmera. A sensação que fica é a de ter observado algo profundamente familiar, mas filtrado por um olhar que prefere rir para não desabar. Com seu humor afiado, The Studio revela, por distorção, o tamanho da fantasia que ainda sustenta a indústria que ele mesma satiriza.

O melhor episódio
T01E02: The Oner

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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