- Gênero: Suspense
- Direção: Lorcan Finnegan
- Roteiro: Thomas Martin
- Elenco: Nicolas Cage, Julian McMahon, Nicholas Cassim, Miranda Tapsell, Alexander Bertrand, , Rahel Romahn, Finn Little
- Duração: 99 minutos
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O dinheiro na conta é insuficiente, o casamento já não existe mais e o filho adolescente acabou de vê-lo sendo humilhado depois de os dois tentarem entrar no mar para pegar onda. O protagonista de The Surfer parece ter chegado ao fundo do poço de seu fracasso como ser macho num universo fundado sob as mais estritas normas patriarcais. A casa no topo da colina, que fora de seu pai e onde passara a infância, é sua esperança de recuperar a validação masculina perdida, a afirmação necessária para seguir existindo nesse universo. Sem poupar na testosterona, o diretor Lorcan Finnegan fala da toxicicidade de um lugar diferente, expondo o conflito — e o deslocamento — num mundo dominado por novas figuras, com discursos e representações específicas.
Muito não foge à regra. A violência ainda predomina nas relações, assim como a necessidade de seguir um macho alfa, o que aqui resulta numa espécie de seita de “garotos” de praia. São eles que determinam quem pode ou não frequentar o local ou entrar na água. Entre seus discursos vazios cheios de frases de auto-ajuda (que muito lembram ex-coaches que andam se candidatando por aí) e festas inconsequentes, não há quem possa fazer nada contra eles. As mulheres que surgem, claro, estão em posição de abuso ou conivência.
Mantendo uma outra característica do gênero, o surfista vivido por Nicolas Cage é o retrato da obsessão. Desesperado pela casa e com o orgulho ferido pela vergonha de não ter podido entrar na praia, resolve encarar o grupo. Não há aqui um retrato de vingança ensandecido, como se poderia esperar dos filmes de qualidade inferior que o tespiano enfrenta sem pudor. O longa de Finnegan tem algum requinte e mergulha num ansioso labrinto psicológico, exagerando nas ações, buscando relações inesperadas e confundindo o personagem e os espectadores.
O crescente de infortúnios deixa explĩcito o retrato complexo da masculidade e suas idiossicrasias. Não há limites para a obsessão, para a humilhação e, muito menos, para a falta de noção. Em sua ficção escalafobética, The Surfer exagera, obviamente, elevando à décima potência comportametos cotidianos e dando ares histriônicos a figuras reconhecíveis Detalhes curiosos destacam a quase aberração do “ser homem” enquanto espécime, como, por exemplo, os intervalos ilustrados pela sabidamente exótica fauna da Austrália.
Tudo vai muito bem, até certo ponto. Embora The Surfer traga muita coisa com ele, o desequilíbrio que vem depois da virada da trama é evidente. É como se o longa perdesse algo quando tenta criar uma nova tensão entre o surfista e Scally, o lĩder da seita. Depois de tanta intensidade — inclusive na criação estética da mudança de situação –, alguma coisa está faltando. Mas nada que comprometa totalmente a experiência.
Grande acerto do filme e confirmando a boa fase, Cage está muito bem no papel do cara que vai se deteriorando por causa de sua própria mania. Ele, que tem uma habilidade particular em papéis de grande variação, sobe e desce o tom com bastante facilidade, transformando-se naquilo que o filme precisa.
Um grande momento
Coma o rato!