The Traitors

Sabe aquele jogo onde, em um grupo, uma pessoa é o assassino que vai eliminando os companheiros enquanto os outros vão tentando descobrir quem ele é? Há a versão mais simples, feita com papelzinho ou cartas de baralho, chamada Assassino ou Máfia; aquela mais elaborada, com elementos narrativos, chamada A cidade dorme; e outras que vão se incorporando de outros elementos e dispositivos, como a fantástica Lobisomem ou a tecnológica Among Us. Pois bem, esse jogo acaba de dar origem a um reality show e parece incrível que ninguém tenha pensado nisso até agora. The Traitors, da Peacock, é comandado por Alan Cumming e se passa em um castelo na Escócia onde 20 pessoas são confinadas.

Os participantes passam por provas durante o dia e podem ou não ser assassinadas à noite pelos três traidores do grupo. Há dinâmicas complexas, envolvendo travessias de canoa e tochas, correntes; e algumas extremas, onde alguns participantes são enterrados vivos para serem localizados por suas equipes. Outras são divertidas como a versão elaborada de Qual é a música com sinos. Na primeira temporada, o elenco reúne ex-participantes de vários outros realities, coisa que tem se tornado muito habitual neste universo, mas também traz pessoas que estão passando pelo formato pela primeira vez. Na segunda, todos já estiveram em outras competições.

Falas bobas, personagens muito irritantes ou insignificantes demais e o fato de ser um programa gravado, com seus cortes manipuladores e para comerciais, causam um certo descompasso. Porém, além do jogo em si, com a descoberta do morto e a votação, observar o comportamento dos integrantes a cada acontecimento é interessante. É um reality, afinal de contas. A fórmula está aí não à toa mantendo milhões diante da TV.

The Traitors é cuidadoso com o entretenimento, e empenhado na provocação também. O programa cria atividades para que a desconfiança e a insegurança se estabeleçam e também se empenha na produção. Há toda uma elaboração na ambientação, um cuidado com a cenografia e arte, os figurinos de Cumming, com o ritual de revelação dos traidores e suas reuniões. 

Com em toda estreia, as diferenças de apuro da primera temporada para a segunda podem ser percebidas, o que é natural pela necessidade de compreensão do formato pelo apresentador, da dinâmica de cortes pelos editores e assim por diante. A única coisa que não acompanha é o elenco, já que na primeira temporada este é uma atração à parte, apesar de toda a irritação que alguns participantes causam. Tem algumas figuras ótimas, como Kate Chatain, Cirie Fields, Brandi Glanville e até o chato Christian de la Torre.

Divertido, leve e descompromissado, The Traitors pode ter, no fundo, o mesmo chamariz de tantos outros realities, mas é sua dinâmica de game que atrai. Ainda mais por ser um jogo que todo mundo conhece tão bem. Com dois Emmys para chamar de seus em 2024 e um de 2023, incluindo o de melhor reality de competição neste ano, debancando RuPaul’s Drag Race, que desde 2018 só tinha perdido o prêmio em 2022 para Lizzo Procura por Mulheres Grandes, está disponível na Universal+. A primeira temporada já pode ser vista completa. A segunda, tem três episódios e estreias semanais.