- Gênero: Ficção
- Direção: Valery Carnoy
- Roteiro: Valery Carnoy
- Elenco: Phénix Brossard, Jef Cuppens, Marcel Degotte, Killyan Guetchoum-Robert, Matheo Kabati, Anne Suarez
- Duração: 18 minutos
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A estrutura. O tempo passa, a informação chega, há uma discreta mudança, mas ela permanece lá. É firme, forte e eterna. Cultuada e cultivada por séculos e séculos, passando de gerações para gerações, solidificada por igrejas e governos. É nociva, aprisionante, má. Violenta, oprime, discrimina e até mata. Não há como combatê-la, nem desviar ou se esconder dela. Está ali desde muito cedo e na vida de todos, em qualquer lugar do mundo. É o mal e tem um nome: patriarcado, e afeta mulheres e homens também.
Titã, curta de Valery Carnoy, volta à origem para falar de uma das consequêcias da estrutura: a masculinidade tóxica, e em como todos os homens precisam seguir um padrão de comportamento, se adequar e adotar certas posturas para que possam ser considerados pela sociedade. Mesmo que inconscientemente, porque o funcionamento do patriarcado se dá, muitas vezes, de forma involuntária, todos, com maior e menor grau, seguem uma cartilha de superioridade e violência e trilham o mesmo caminho.
No filme, essa dedicação é extremada, a mais intensa possível e isso se percebe de pronto. O protagonista é uma criança que quer se provar homem destemido e amedrontador. Ele se espelha no irmão mais velho, um cara que anda com jaqueta de couro e sabe manejar um canivete como ninguém; e seu sonho é entrar para o grupo de meninos que se reúne para brincar de dar tiros de airsoft uns no outro sem proteção nenhuma. Seu ambiente é a demonstração perfeita de um mundo dominado pela “truculência do macho”, na concepção mais literal que essa expressão possa inferir, em poder e agressividade, inclusive.
Em Titã estão questões muito básicas do funcionamento da relação entre o ser e a sociedade em uma fase de constituição de identidade e definição de personalidade. A primeira delas é o exemplo, que se estabelece na figura do irmão (que provavelmente passou pela mesma coisa) como ideal a ser alcançado. A segunda é uma questão básica do ser humano como ser social, em especial nessa fase de vida, e diz respeita à necessidade de aceitação e pertencimento. E o menino se transforma para chegar até aí, repete gestos e quer superar atitudes.
Carnoy, também roteirista do filme, dá o tom angustiante e depressivo a tudo que mostra, ressaltando cada uma dessas tentativas do menino. Se apropriando da linguagem de seu personagem, expõe como aquele corpo, mesmo sem nenhuma maturidade, se exibe como detentor de poder e virilidade inexistentes. É triste e desesperançoso, mas é só o começo de uma lista de outras tantas situações terríveis pelas quais Nathan optará passar e será submetido.
Porém, o mais devastador em Titã é saber que aquilo tudo que está sendo visto vai além de um menino de 13 anos passando por um ritual de iniciação ou um trote, vai além de Nathan e qualquer outra criança que apareça em tela, porque não está falando só dele, ou deles. É o retrato de algo muito maior e mais terrível, que segue criando milhares de outras situações idênticas com crianças ao redor do mundo. Estas se tornarão homens e servirão de exemplo para outros homens, num ciclo sem fim. E assim a estrutura se fortalece ainda mais.
Um grande momento
No colo da mãe