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Victor Frankenstein

(Victor Frankenstein, EUA, 2015)

Ficção Científica
Direção: Paul McGuigan
Elenco: Daniel Radcliffe, James McAvoy, Jessica Brown Findlay, Bronson Webb, Daniel Mays, Robin Pearce, Andrew Scott, Freddie Fox, Charles Dance
Roteiro: Mary Shelley (romance), Max Landis
Duração: 109 min.
Nota: 4 ★★★★☆☆☆☆☆☆

Uma das grandes minas de ouro da produção cinematográfica está na adaptação de obras conhecidas, sejam elas clássicos consolidados da literatura ou filmes com largas bilheterias. Sejam eles românticos, góticos ou realistas; ficção científica, drama, comédia ou terror, são uma fonte segura de material que rende bem nas bilheterias.

Atualmente, há novos meios de lidar com adaptações no cinemas. O mais usado hoje em dia é o spin-off, onde personagens secundários tornam-se protagonistas; o segundo é a adaptação. Neste modelo podemos ter a adaptação temporal, quando se inventa uma nova história anterior ou posterior ao narrado anteriormente; e também podemos ter a adaptação que vamos chamar de agressiva, onde simplesmente se muda completamente a história e a personalidade do personagem em questão.

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Frankenstein, romance clássico de Mary Shelley, já filmado diversas vezes, é mais uma dessas fontes inesgotáveis, e Victor Frankenstein é uma dessas adaptações agressivas, roteirizada pelo promissor Max Landis (Poder Sem Limites). Quem conta a história do gênio louco fascinado por ciências naturais é Igor, um palhaço de circo, que é diariamente maltratado por causa de sua corcunda. Porém, Igor tem um vasto conhecimento em anatomia e é isso que o aproxima de Victor.

A união entre o cientista que quer criar vida e o palhaço especialista em anatomia, começa animada, com uma fuga cheia de pirotecnia, tiros, jogo de espelhos e um bocado de ação. Um desavisado que entrasse na sala nesse momento poderia até achar que o filme era uma versão de época de Missão Impossível ou similares.

Não satisfeito, o Victor hiperativo e que parece estar sempre quicando, resolve o problema da corcunda do novo amigo e lhe dá o nome de Igor. Está certo que filmes assim podem usar e abusar da licença poética, já que quem vai assistir a um homem que junta partes de cadáveres e consegue criar vida nesse corpo remendado não está esperando ver realidade na tela. Mas um pouquinho de limite não faria mal pra ninguém, não é mesmo? Principalmente porque estamos falando de personagens que são conhecidos e alguns deles têm sua referência na configuração física.

A agitação do filme diminui depois que começam os primeiros experimentos. Essa quebra no ritmo, com repetição de ações e muitas conversas, trazem um certo desinteresse pela trama, que só se recupera depois de algum tempo, deixando a impressão de que nem tudo que está ali era tão necessário assim. O filme ainda não sabe como medir o uso de efeitos especiais, como os desenhos anatômicos que Victor e Igor veem por todo lado.

Em contraposição a alternância de ritmo temos Victor Frankenstein, que não desliga nunca, num nível de agitação incompatível com algumas cenas. James McAvoy (O Último Rei da Escócia) até faz aquilo que precisa, mas faltou um pouco de freio de quem comandava o set, no caso, Paul McGuigan (Heróis). Por outro lado, o Igor de Daniel Radcliffe (Harry Potter) é um personagem mais interessante, tanto no roteiro, quanto em cena. As primeiras passagens, com uma postura corporal complicadíssima, são animadoras, mas depois dão lugar ao sentimento de falta de continuismo.

O antagonista de Victor é o inspetor Tupin, da Scotland Yard, em mais um papel que chega exagerado do roteiro, com uma fé religiosa repetitiva e uma obsessão levadas muito radicalmente por seu intérprete Andrew Scott (Orgulho e Esperança).

Para completar a história temos a parte romântica, com a paixão de Igor desde os tempos de circo Lorelei, vivida por Jessica Brown Findlay (Um Conto do Destino), e Finnegan, aquele cara rico e ganancioso, que espera lucrar com a nova invenção, vivido por Freddie Fox (Os Três Mosqueteiros). Ambos em atuações corretas para personagens também mal escritos.

Há também um desequilíbrio entre a recriação visual, bem executada pela desenhista de produção Eve Stewart (O Discurso do Rei), pelo cenógrafo Michael Standish e pela figurinista Jany Temime (Filhos da Esperança); e a trilha sonora assinada por Craig Armstrong (O Grande Gatsby), que embora tenha seus momentos, nem sempre é bem empregada.

Cheio de efeitos especiais, cenas de perseguição e de luta, Victor Frankenstein quer renovar a história que conhecemos há tanto tempo, mudando completamente quase tudo o que já sabemos sobre aquele universo, em personalidades, motivações e desfechos.

No fundo, só é muita ousadia e criatividade desperdiçada para um filme que não consegue nem se desligar do que já foi, nem construir seu próprio caminho. Mas, pelo menos, provoca boas risadas.

Um Grande Momento:
Dois corações! Não é bem um grande momento, mas é engraçado pra caramba.

Victor-Frankenstein_poster

Links

IMDb [youtube]http://www.youtube.com/watch?v=FCX4UQ19PTs[/youtube]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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