Direção: Michael Winterbottom
Elenco: Freida Pinto, Riz Ahmed, Anurag Kashyap, Roshan Seth, Kalki Koechlin, Huma Qureshi, Neet Mohan
Roteiro: Thomas Hardy (romance), Michael Winterbottom
Duração: 117 min.
Nota: 5
A estranha mágica de pegar carona em sucessos inesperados do momento. Numa época em que a maioria da população feminina do mundo sabe quem é Christian Grey, o galã do best-seller que mais parece uma versão bem acabada de séries como Harlequim ou Sabrina, “50 Tons de Cinza”, fica fácil procurar neste universo específico e popular algum elemento que seja facilmente vendável.
Foi assim que ressurgiu nas prateleiras das livrarias um clássico que é citado no começo do livro e segue sendo lembrado durante toda a leitura. Estou falando de Tess of The D’Ubervilles, escrito no século XIX por Thomas Hardy e que, no passado, causou o mesmo frisson (com muito mais qualidade literária, é claro) que sua obra resgatadora vem causando nos dias de hoje. O título volta a despertar o interesse dos leitores justamente por ser o primeiro presente que o tal Christian dá a sua amada, Anastascia Steele.
Voltando às prateleiras, foi ainda mais fácil para o clássico chegar às telonas em uma nova adaptação. A quinta depois de dois filmes mudos, da releitura de Roman Polanski e do fracasso de público assinado por Rajiv Kapoor. Reambientado na Índia dos dias atuais e suprimindo personagens de maneira arriscada, aqui a ingênua Tess vira a Trishna do título. O filme relembra a história da menina pura que é corrompida sexualmente e põe tudo a perder por ter medo de revelar a verdade.
A história, antiquada demais para os costumes atuais, acaba funcionando bem ao estar inserida em uma cultura menos conhecida e que mantem-se extremamente tradicional. Por outro lado, uma certa aura de inadequação acaba prejudicando o resultado final. É como se tudo estivesse no local determinado, mas só foi colocado ali graças a algum equívoco.
A montagem é imprecisa e confusa e, mais do que ao filme, prejudica a compreensão e a empatia do público com Jay, um personagem vital à trama e que precisava de mais atenção já que é o resultado da ideia mais estranha do diretor Michael Winterbottom neste projeto: a fusão dos dois antagonistas da obra literária adaptada em uma só pessoa.
A fotografia do dinamarquês Marcel Zyskind mescla momentos inspiradíssimos a imagens batidas. Às vezes parece se perder no deslumbramento dos muitos contrastes do visual indianos e apresenta construções muito menos emocionantes do que poderiam ou pareciam ser a princípio.
Com esses e outros problemas sérios, mas menos gritantes, Trishna acaba não sendo uma das melhores opções para o festival, mas não deixa de ter pontos positivos: representa de maneira interessante os problemas causados pela diferença social e, ao recriar a obra de Hardy naquele ambiente, toca na ferida ainda aberta da relação entre Grã-Bretanha e Índia.
No mais, pode fazer algum sucesso de público já que pode ser facilmente associado a um sucesso de última hora, ousa ao tentar trazer para os dias de hoje um clássico da literatura feminina e comprova a beleza de Freida Pinto, sua atriz principal. E é isso.
O filme faz parte da Mostra Foco Reino Unido no Festival do Rio 2012.
Próximas sessões:
Dia 1/10, às 21:50, no Estação SESC Barrapoint 1
Dia 8/10, às 12:00 e 20:00, no Estação SESC Botafogo 1
Um Grande Momento
Voltando para casa.
Links
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