Crítica | Streaming e VoD

Fomos Canções

Mais um erro rude na tentativa de ensinar sobre amor próprio

(Fuimos canciones, ESP, 2021)
Nota  
  • Gênero: Comédia
  • Direção: Juana Macías
  • Roteiro: Laura Sarmiento Pallarés
  • Elenco: María Valverde, Álex González, Elisabet Casanovas, Susana Abaitua, Miri Pérez, Eva Ugarte, Ignacio Montes, Artur Busquets, Claudia Galán
  • Duração: 110 minutos

Quem nunca… Ouviu uma música e lembrou de um ex? Se perdeu entre as boas e as más recordações do relacionamento? Preferiu esconder ou se livrar daquele cd do Nirvana ou vinil da Gal?

A protagonista de Fomos Canções, Maca (de Macarena) ouve “Last Nite”, a faixa número 1 do Is This It dos Strokes e lembra do tempo que passou com Leo, um pseudonerd totalmente canalha, que a trocou por uma bolsa para fazer mestrado em outro país. Hoje, ela é assistente de uma influencer pavorosa é claro que o ex vai ressurgir na história.

Até aí a trama entretém, de mais essa adaptação de um romance da midas espanhola Elísabet Benavent, escritora do livro publicado em 2018, o primeiro da bilogia chamada “Canções e Lembranças”. Depois de fazer sucesso na Netflix com a série de Valéria, sua obra mais famosa, Benavent atrai a audiência a fim de curtir um romance sob a perspectiva da parceria feminina como em Sex and The City, mas com uma pegada almodovariana ainda que meio pasteurizada. O que deu certo em uma narrativa seriada — que já tem a terceira temporada encomendada — não se materializa no filme dirigido por Juana Macias, zerado de carisma ou de algo genuíno.

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Fomos Canções
Maria Heras/Netflix © 2020

“Decisão de merda”

Porque em Valéria, antes de pensar em transar ou até namorar o bonitão, a personagem principal quer ser uma escritora de livros eróticos. Esse sonho move a jornada. Maca quer o que? Se vingar do ex e ter um trabalho onde não seja humilhada, mas sim valorizada pra variar. As melhores amigas dela, Adri e Jimena, são tão mal desenvolvidas que parecem esboços de mulheres: uma está num casamento tedioso e se descobriu bissexual, apaixonada por outra mulher com quem fez um ménage e a outra tem uma obsessão pelo ex morto e um ódio por hamsters.

É uma pena ver que a Netflix, que nos últimos anos tem ajudado a oxigenar e de certa forma renovar o quase moribundo gênero da comédia romântica — com o primeiro filme da série Para Todos os Garotos que Já Amei e Você Nem Imagina, da Alice Wu — não coloque seu termômetro em ação para medir a temperatura de todos os seus produtos, decidindo dar sinal verde para produções como esse Fomos Canções. A comédia romântica espanhola não aquece corações, pois não passa no teste de qualidade com seu elenco moribundo, trama repleta de clichês (alô beijo na chuva!) e mal trabalhada desde o roteiro ou quem sabe o livro já não fosse bom e não houvesse milagre a fazer, fato é que não é possível empatizar nem sequer se relacionar com a jornada de Maca porque ela é insípida.

Fomos Canções
Maria Heras/Netflix © 2020

“Quem dera alguém tivesse me dado um spoiler: sororidade!”

Fomos em Canções em sua fotografia, montagem, figurino e concepção quer ser algo entre O Diabo Veste Prada e Volver ou Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos mas rende no máximo um ensaio de moda da revista Capricho. E ainda se dá ao direito de ter um desfecho com Maca conseguindo o emprego dos sonhos e sonhando acordada com o boy lixo, a la Emily em Paris (outro erro daqueles).

Logo, essa cópia inofensiva e pálida da dinâmica da série de Benavent com toda a sorte de clichês e banalidades do gênero deve agradar tão somente os entusiastas da escritora. Nenhuma mulher precisa ver esse filme para se sentir bem, para ter um guilty pleasure de qualidade ou constatar que existe sobrevida para a comédia romântica quando há vontade de fazer algo pouco usual.

Um momento marcante
As intervenções das duas Macas

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Lorenna Montenegro

Lorenna Montenegro é crítica de cinema, roteirista, jornalista cultural e produtora de conteúdo. É uma Elvira, o Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema e membro da Associação de Críticos de Cinema do Pará (ACCPA). Cursou Produção Audiovisual e ministra oficinas e cursos sobre crítica, história e estética do cinema.
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