- Gênero: Musical
- Direção: Walt Dohrn, David P. Smith
- Roteiro: Jonathan Aibel, Glenn Berger, Maya Forbes, Wallace Wolodarsky, Elizabeth Tippet
- Duração: 90 minutos
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A rainha Poppy segue seus dias coloridos, cheios de glitter e música, no reino mais feliz do mundo depois de tudo o que passou para conseguir a paz com os bergens. Tronco ainda não conseguiu se declarar e, assim como a história dos dois, nada está muito diferente do que era antes, pelo menos até a chegada de um convite da rainha Barb, a troll do rock, para um show que unirá todos os reinos. Se há alguma coisa que realmente vale a pena em Trolls 2, é a brincadeira que o filme faz com os estilos musicais, aqui transformados em reinos musicais independentes — pop, rock, country, funk, clássico — que preferem não se misturar.
Cheia de si e sem conhecer direito a história de seu povo, algo que vai descobrir junto com os espectadores, Poppy prefere não dar ouvidos aos outros, se empolga com a ideia das cordas musicais de cada reino e decide ir até Barb. No caminho vai conhecer lugares, pessoas e músicas diferentes e ter que fugir de perigos e caçadores de recompensas. Graças aos personagens e às tiradas espirituosas do roteiro, a ideia de jornada pelos reinos e fuga até não cai tão mal assim, mas falta um certo equilíbrio ao conjunto.
Se o primeiro filme tinha uma estrutura clássica de conto de fadas, com espaços mais orgânicos para as inserções das canções, pensando no padrão que a Disney instituiu e Hollywood adotou, em Trolls 2 há tantos elementos e tantos personagens e realidades a serem apresentados que as coisas se complicam. Por exemplo, o número Kelly Clarkson que apresenta o reino country funciona muito bem, enquanto o de Justin Timberlake e Anna Kendrick na floresta aparece deslocado, apesar da clara relevância que deveria ter.
Há também um desespero, algo que se percebe logo nos primeiros momentos. Além da incontinência musical, o início do filme aposta em outras técnicas de animação, numa alternância frenética e despropositada. Com o passar do tempo e a estabilização, pelo menos parcial, isso dá lugar às estéticas de cada uma das tribos. A intensidade é menor e existe uma pertinência, já que é preciso colocar naqueles micro-universos referências que os tornem familiares, mas ainda há um exagero. Como falta atenção à distribuição da história tudo fica encavalado e nem sempre funciona como deveria. Não basta que haja muita cor, luz e brilho, é preciso que haja sentido.
O que salva Trolls 2, no fim das contas, é aquilo que já sabemos que pode mesmo salvar o dia: a música. E aqui nem é canção, melodia e letra que estiveram tão presentes no primeiro filme, mas o conceito da música enquanto cultura, representação de uma sociedade. Quando separa os reinos musicais e encontra a realidade de discordâncias, preconceitos e até mesmo de ditames de mercado que conhecemos tão bem, o filme encontra o seu ponto e diverte. O longa brinca com todos os gêneros musicais: a tristeza do country (aqui bem traduzido para o sertanejo), a vontade do pop de dominar tudo e a antiguidade do disco. O que faz com o k-pop, o smooth jazz e o reggaeton é incrível.
Por trás de todas as brincadeiras e perdida em meio a um filme que seguramente não conseguiu se controlar diante de tantas possibilidades estéticas e musicais está a mensagem a favor da pluralidade e do respeito ao espaço e à cultura do outro. No fim das contas, depois de um show de rock para lá de produzido, com direito a Barracuda e disfarce demodê, até dá para esquecer de todos os muitos tropeços e sorrir de canto de boca. Que bom que tem para todo mundo.
Um grande momento
K-Pop x Reggaeton